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sábado, 26 de janeiro de 2013

"Mané Moreno e a folia de reis"

Por: Cabo Francisco

Mané Moreno era um cangaceiro feio, esquisito, preguiçoso, problemático e perverso ao extremo, que além de difícil convivência, este trazia consigo uma grande bagagem de ignorância e teimosia. Muitos diziam que ele vivia com Áurea quieto e meio isolado do resto do bando.

Sempre discutia e brigava com seus comparsas por qualquer motivo fútil; emprestava dinheiro ou algum objeto dos outros e não os devolvia, apesar de tudo, ainda não era um cabra de confiança, pois os cangaceiros mais antigos do bando, diziam que ele já os havia abandonado, fugindo por várias vezes em meio a violentos combates com as volantes nas caatingas. 

Enfim, que além de covarde era também um "porcão", pois não era muito chegado a um banho, transpirava muito e a sua higiene bucal deixava a desejar. Era um ser obcecado por perfumes e que ao borrifá-los pelo corpo e nas roupas encharcadas de suor, esta mistura de odores lhe dava uma fragrância enigmática.


Até mesmo o próprio Lampião não gostava dele, e só o aceitava no bando por consideração aos seus parentes, os valentes cangaceiros Zé Sereno, Zé Baiano e os irmãos Antônio e Cirilo de Ingrácias.

Mané Moreno a esquerda, seguido de Zé Sereno e Zé Baiano

Um dia de quarta feira, da semana que antecedia o natal, sua mulher e companheira Áurea pediu para que ele a levasse para ver seus pais. Atendendo ao pedido de sua amada, ele partiu levando-a na garupa do seu cavalo. Eram umas 17:00h. Quando chegaram próximo à casa de Áurea, o cangaceiro notou que havia muita movimentação de gente. Então cismado, ele parou o cavalo no alto do morro, e mandou que Áurea fosse até lá para ver o que estava acontecendo. E assim foi feito. Daí então, logo Áurea regressou e lhe informou que seu pai, o velho Zé Nicárcio estava recebendo em sua casa uma "folia de reis", e que era para o cangaceiro respeitar a bandeira do divino, e aguardar um bocadinho, até que todos partissem, e que depois eles chegassem com cuidado. 

O casal Zé Nicárcio e dona Josefa odiavam Mané Moreno, pelo fato deste ter obrigado sua filha a segui-lo naquela vida de criminalidade.

Mané Moreno soltou bufões de raiva, babava e rangia os dentes de ódio, e por fim falou: “Eu vô descê inté lá e dispois di iscurraçá aquelis fios duma égua, vô dar uma coça nu seu pai”.

Áurea tentou detê-lo, mas o cangaceiro irado, a derrubou com um empurrão. Depois montou no seu cavalo e partiu a galope, mas ainda escutou quando sua mulher gritou: "-Cuidado qui u santu rei vai lhe castigá!"

Áurea mal fechou a boca,  um enxame de abelhas africanas que surgiu do nada, atacou Mané Moreno, fazendo seu cavalo mudar de rumo e se embrenhar no meio das caatingas em disparada por uma outra direção oposta.

Nisso Áurea foi até a casa de seus pais e tomando um banho, jantou um pirão feito com caldo de galinha caipira, e gozando dos afagos de seus entes queridos, adormeceu. Quando a lua alva estava alta no céu, todos acordaram com o latido dos cães. Áurea acendeu uma lamparina e abriu a janela para ver o que era, e constatou debaixo do pé de jaca, um homem seminu com as roupas todas ensanguentadas e rasgadas, além de vários taios pelo corpo, que se encontrava todo inchado pelas picadas dos insetos.

Áurea foi até ao cangaceiro, que estropiado só podia se comunicar por gestos, devido ao inchaço nas amídalas provenientes do "castigo" recebido por sua heresia.

No outro dia, deitado em uma rede, depois de já recuperado, enquanto Áurea arrancava-lhes os inúmeros espinhos de seus pés, ele contou que além das picadas das abelhas, caiu do cavalo, enroscou o pé no estribo e foi arrastado caatinga adentro. E sua sorte foi que seu cavalo topou mais adiante algumas éguas no cio, e parou para rufiar as fêmeas, foi assim que ele conseguiu se soltar e safar-se do castigo.

Por incrível que pareça, o facínora jurou para sua amada que jamais em sua vida iria agir contra uma folia de reis.

No ano seguinte ele e a sua amada Áurea foram surpreendidos e mortos, enquanto dançavam em um baile naquela região, por uma das muitas volantes que os perseguiam.

Enviado pelo Cabo Francisco.

http://blogdomendesemednes.blogspot.com

5 comentários:

  1. Grande Cabo Francisco:

    Gostaria que o amigo me enviasse o seu e-mails e uma de suas fotos para ser inserida em seus artigos.

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  2. Grande Cabo Francisco:

    Gostaria que o amigo me enviasse o seu e-mails e uma de suas fotos para ser inserida em seus artigos. Suas histórias são excelentes, s com fotos suas, o leitor ficará conhecendo o autor do artigo.

    Aguardo mais artigos e principalmente, a sua foto.

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  3. Anônimo19:33:00

    Olá Mendes, é o Cabo Francisco Carlos do Paraná, ,já por duas vezes eu lhe enviei em seu e-mail josemendesp58@hot mail.com, uma história narrando a morte do facínora Mané Moreno, isto é; segundo a versão que ouvi de velhos amigos nordestinos quase centenários moradores aqui de minha região.Mas não sei se você as recebeu, o título é "Um tiro, duas paixões e três vidas ceifadas". Responda.

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  4. Cabo Francisco Carlos:

    Eu já estava preocupado pela sua ausência em nosso blog. Mandei três e-mails para o Evandi, que me parece ser seu neto, mas não ouve retorno.
    Envie novamente, pois não os recebi.
    Para um desses e-mails:
    josemendesp58@gmail.com
    josemendesp58@hotmail.com

    Tente no primeiro.
    Faça o quanto antes o seu e-mail que será bem mais fácil.

    Vou ficar aguardando os seus envios.

    Eu já estava imaginando coisas ruins, mas graças a Deus o senhor está bem.

    Felicidade e paz para o senhor e para todos que fazem parte do seu círculo de vida.

    José Mendes Pereira.

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  5. Anônimo13:13:00

    Eu tenho um cunhado que em matéria de fé, é igualzinho a este cangaceiro o tal Mané Moreno, eu até comentei com ele sobre esta historia, mas nada adiantou, ele é teimoso igual a uma mula velha. Ontem dia 12/11/2O14,nós estávamos em frente a sua residência tomando tereré, quando passou o velho Seu Raimundo e um rapazola vestidos em trajes de foliões de reis ele me cumprimentou, estavam apressados pois me pareciam estar atrasados para algum evento, eu como estava sem carro pedi a meu cunhado que me emprestasse o dele para mim leva-los até a estação rodoviária para se agruparem com os demais foliões e seguirem o seu destino.A principio meu cunhado negou mas, de tanto eu insistir ele deixou eu leva-los ate o terminal.Na tarde daquele mesmo dia nós fomos à uma fazenda bem distante da cidade, comprar umas leitoas para assa-las nas festas do fim de ano,quando chegamos na tal fazenda após negociar os suínos, caiu um pé d'água que dava gosto, choveu por umas duas horas consecutivas, e quando nós ao regressarmos para a cidade, passando por um lamaceiro, a caminhonete atolou até o chassi, e agora o que vamos fazer? Meu deus estamos lascados! Saímos do carro com o barro até nas canelas, e por todo o canto que nos olhávamos não via nem ouvíamos uma via alma, só relâmpagos e trovões, até que após alguns minutos avistamos em uma baixada as luzes de lanternas, meu cunhado com medo de ladrões e assaltantes pegou seu 38 e pós na cintura, mas a medida que o grupo se aproximava ouvíamos vozes proseado, mas conversas simples e sadias daí me acalmei.Quando eles chegarem até nós vimos logo que eram de uma folia de reis, mas não a de seu Raimundo, eram de um outro grupo da região.Eles nos cumprimentou e vendo a situação, sem que pedíssemos tomaram a iniciativa de todos juntos empurrarem o veículo até que saiu do lamaçal, meu cunhado quis pagar o trabalho do grupo, mas eles não quiseram receber, e ainda disse um deles: Sigam com Deus e a proteção dos Santos Reis,e assim passando por nós, seguiram seu destino. Meu cunhado comovido com aquele ato de caridade e humildade, montou no carro em silêncio deu partida e viemos embora.Minha sogra me informou hoje na hora do almoço, que meu ele procurou o Seu Raimundo e lhe ofertou uma leitoa como prenda para a festa do dia de reis que se realiza no dia 6 de janeiro.Não comentei nada com ela sobre o caso.

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