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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

CLEMENTINO QUELÉ: O CANGAÇO MARCOU SEUS PASSOS

Por: João de Sousa Lima

CLEMENTINO QUELÉ: O CANGAÇO MARCOU SEUS PASSOS

Clementino Francisco da Silva, “Quelé”, nascido em  Canindé do São Francisco, Sergipe, em  08 de novembro de 1914, filho de José Francisco e Júlia Alves, teve várias facetas de sua vida ligadas com o cangaço. Primeiro foi criado na fazenda Jerimum, sendo amigo de infância da cangaceira Dulce Menezes, a Dulce companheira do cangaceiro Criança.

A cangaceira Dulce ao centro - Criança à direita

Quelé estava em Canindé do São Francisco quando a cidade foi invadida pelos cangaceiros comandados por Lampião  tendo por companhia o perverso

O cangaceiro Zé Baiano

Zé Baiano que ferrou as irmãs Marques. Quelé viu os cangaceiros entrando na cidade e depois ouviu o clamor das mulheres que tiveram suas faces ferradas com as iniciais JB.


As irmãs ferradas por Zé Baiano

Quelé hoje reside no povoado Nambebé, em Paulo Afonso, Bahia. Mora justamente na casa de Pimba que era tio dos cangaceiros bananeira e Artur, era irmão de “Lixandrão”, grande coiteiro de Lampião.

Em uma das entradas de Lampião no Nambebé Pimba denunciou a passagem à polícia e Lampião ficou sabendo da entrega, voltando ao povoado com o intuito de matar o delator e só por pedido de Lixandrão que era um coiteiro respeitado e pai do cangaceiro Bananeira foi que Lampião não concluiu sua intenção.  Por castigo Pimba teve tatuado em sua testa uma cruz feita por Lampião, ferida aberta pela afiada lâmina de um canivete.

Quelé é casado com Maria Teixeira, filha do coiteiro Antonio Curvina. Antonio Curvina foi um ótimo artesão em couro e era quem fazia chapéus, cartucheiras, alpercatas, cintos e bandoleiras para Lampião e seus seguidores. Quando do combate da Lagoa do Mel onde morreram dezenove soldados e o Ezequiel (irmão de Lampião), um dos soldados que fugiu ao cerco, se perdeu dentro da mataria fechada e saiu justamente no povoado Nambebé. Com o alerta que ali era reduto de Lampião o soldado pegou Antonio Curvina e o menino Epiphânio de Félix como reféns e ordenou que eles o levassem até Santo Antonio da Glória. No trajeto, o soldado bastante cansado, entregou seus pertences ao Antonio Curvina para que ele o ajudasse a levar o material. Assim que eles saíram do Nambebé alguns cangaceiros que vinham no encalço do soldado chegaram ao povoado. Maria, esposa de Antonio, contou a história acontecida com seu marido e a falou da preocupação que estava passando por ver seu companheiro nas mãos do militar. Os cangaceiros seguiram por outro caminho que levava em um tempo mais curto até o povoado Salgadinho. Ganhando tempo os cangaceiros chegaram a um ponto e armaram emboscadas para pegar o soldado. Ao longe avistaram as três pessoas que seguiam uma vereda, Antonio Curvina vinha com os bornais e o chapéu do soldado. Os cangaceiros confundiram o coiteiro com o soldado e atiraram, o soldado correu, o garoto Epiphânio de Félix se emparelhou em uma árvore e nada sofreu, Antonio Curvina caiu morto. O soldado chegou ao povoado Salgadinho e justamente na casa da irmã da cangaceira Lídia que avisou a ele que ali era coito de cangaceiros. O soldado se negou a sair da residência. No encalço dos cangaceiros e do soldado, montado em um burro,  vinha o primo de Antonio Curvina, o jovem Lindo de Zezé. Lino encontrou o primo morto e saiu em perseguição ao soldado indo encontrá-lo no povoado Salgadinho. Lino pegou o soldado, amarrou-o, montou no burro e saiu arrastando o soldado, na subida da Serra do Padre Lino matou o soldado, pegou seu armamento e foi se apresentar ao cangaceiro Lampião que ouviu sua história e de imediato o aceitou em seu bando, passando Lino a ser chamado de Pancada, o famoso cangaceiro Pancada.

Quelé chegou a Paulo Afonso ainda na década de 1940. Com o começo das obras da CHESF Quelé derrubava a golpes de machado, frondosas árvores que eram utilizadas pela companhia para fazer as pontes para os caminhões passarem transportando material para a construção das usinas. Hoje, aos 99 anos de vida, Quelé ainda é lúcido e bom de conversa residindo no povoado Nambebé onde todos os dias uma numerosa família senta-se ao seu redor para ouvir suas histórias de vida e seus ensinamentos de homem justo, correto e trabalhador. Lutando contra um problema de próstata, sempre de olho na sonda que lhe acompanha, o velho senhor enumera seus passos que coincidiram com as passagens do cangaço e entre um misto de orgulho e de dono do seu tempo, ele conta histórias, encanta, recita versos, declama histórias completas aprendidas nos cordéis, relata fatos, emociona e emociona-se, considera suas andanças nas ásperas veredas que o sertão lhe impôs. Sábio cavalheiro de um tempo que tem perdido a oralidade dos fatos pela idade dos períodos corridos.

João de Sousa Lima
Historiador e escritor


João e Seu Quelé no terreiro de sua casa, no povoado Nambebé, reduto de Cangaceiros.


Sebastião Carvalho, Quelé e João de Sousa Lima. As histórias de Quelé são ricas em detalhes. A casa era onde morava Pimba.


Escombros da casa do coiteiro Lixandrão, pai dos cangaceiros Bananeira e Artur, povoado Nambebé, Paulo Afonso, Bahia.


Escombros da casa do coiteiro Lixandrão, pai dos cangaceiros Bananeira e Artur, povoado Nambebé, Paulo Afonso, Bahia.


Escombros da primeira casa de Pimba


Maria, filha de Antonio Curvina e esposa de Quelé


Quelé e sua identificação


Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima

www.joaodesousalima.com

2 comentários:

  1. Anônimo17:03:00

    Há de se frisar que este QUELÉ - baiano - é o segundo na história.
    O primeiro e mais conhecido é seu homônimo Clementino Furtado - QUELÉ DO PAJEÚ - que fora amigo de Lampião, tornando-se seu inimigo e ingressando na Polícia da Paraíba e que passou com uma Volante por Mossoró após o 13 de junho de 1927, no encalçao dos cangaceiros a caminho do Ceará.
    Kydelmir Dantas
    Mossoró-RN

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  2. Kydelmir, esta sua explicação vale e como vale para os nossos leitores.

    Antes do seu comentário em nosso blog um leitor enviou-me e-mail dizendo que conhecia a história do Quelé, mas pelas contas que ele fez, em 1927, quando Quelé entrou em Mossoró, pela data do seu nascimento, ela ainda era menino, apenas com 13 anos, e seria impossível naquele tempo um menino já bem firmado na polícia.
    Eu acredito que ele não memorizou o nome verdadeiro do Quelé que visitou Mossoró naqueles tempos.

    Parabéns pelo seu comentário, apenas informando um pouco sobre a diferença de um Quelé para o outro.

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