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domingo, 16 de março de 2014

DA “GAZETA DO POVO”, JORNAL SERGIPANO, EDIÇÃO DE 15/04/1926 - LAMPIÃO NO JUAZEIRO

Por Antonio Corrêa Sobrinho*


COMO O PADRE CÍCERO EXPLICA E JUSTIFICA A GUARIDA QUE DEU AO CÉLEBRE BANDOLEIRO

Embora orientado por um ponto de vista demasiadamente cristão, para não dizer cavalheiresco, o padre Cícero explica sua atitude, justificando sua atuação no caso, com aquela simplicidade de todos conhecida e com a bondade de coração que a caracteriza.



Trazendo a público sua opinião, um pouco destoante da austera responsabilidade social de um homem do seu prestígio, respeitamos, entretanto, o seu modo de apreciar o fato, porque antes de tudo, a sua exposição foi sincera e bem intencionada.

Interrogado por que não mandava repelir ou prender Lampião e seus asseclas, quando para isto bastava um simples aceno à autoridade policial, então amparada por mais de 800 homens armados das forças legais de Juazeiro, respondeu com a boemia de um apóstolo que se receia de fazer mal ao próximo:



- Não, meu amiguinho! Lampião procurou o Juazeiro com intuitos patrióticos (sic); ele pretende se alistar nas forças legais para dar combate aos revoltosos. Uma vez vitorioso, espera que o governo lhe perdoe os crimes. Este homem que veio a Juazeiro, confiar em minha proteção, pretende se regenerar. Se não for possível alistá-lo nas forças legais, eu o encaminharei para Goiás, onde levará vida honesta, como já fiz com o Senhor Pereira e Luiz Padre. 


Sinhô Pereira e Luiz Padre - eram primos - Sinhô Pereira foi o único patrão de Lampião

Está mais ou menos demonstrado que os governos de Pernambuco e Paraíba não conseguirão prender Lampião, entregando seu bando à Justiça. O povo é sempre o prejudicado nestas causas: é vítima de Lampião, e muitas vezes da polícia também... Este estado de coisas pode ser modificado facilmente: - eu consigo que Lampião se vá embora para muito longe e, assim, ficaremos livres deles.



Porém, mandar prendê-lo, aqui em Juazeiro, nestas circunstâncias?! era um ato de revoltante traição, indigno, de qualquer homem quanto mais de um sacerdote católico.

Eu prevejo que muita gente agora e principalmente meus desafetos vão dizer que eu estou mancomunado com Lampião; mas, não é tal. Aqui no Juazeiro, eu recebo todas as pessoas que me procuram e fico satisfeito em prestar assistência a um transviado da sociedade procurando guiá-lo ao bom caminho.

- Mas, padre Cícero, o governo pode anistiar ou perdoar criminosos comuns?

- Pode, meu amiguinho, pode.

- Está bom...

*Antonio Corrêa é pesquisador do cangaço. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo09:19:00

    Amigo Mendes e professor Antonio Corrêa Sobrinho, não sou católico, mas confio plenamente nas palavras do Padre Cícero quanto a aceitação da presença do Rei do Cangaço em Juazeiro numa ocasião tão embaraçosa - a presença da Coluna Prestes. E creio que assim como ele (o Sacerdote), havia convencido Sinhô Pereira a abandonar a vida errante que levava, poderia também usar os mesmos argumentos com Lampião após a solução do combate que ele iria enfrentar contra os revoltosos da Coluna Prestes.
    São coisas que talvez façam parte dos "MISTÉRIOS" do cangaço.
    Abraços,
    Antonio José de Oliveira - Bela Vista - Serrinha - Bahia.

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