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terça-feira, 11 de março de 2014

“LAMPIÃO” COMO SURGIU ESTE APELIDO" - PARTE FINAL

Cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira

"Algumas hipóteses"


TERCEIRA HIPOTESE:
  
Jeremoabo nordeste da Bahia  dezembro de 1921, Virgulino descia a Serra Negra comandando  um subgrupo  de cangaceiros com destino à Poço Redondo, seu objetivo era receber do proprietário de uma fabrica de descaroçar algodão, o pagamento em dinheiro referente a um trabalho encomendado pelo mesmo, e aproveitando a viagem  levar também um rifle papo amarelo novinho em folha para um armeiro Tcheco muito bom e afamado por nome de Crovic Smolareck, mais conhecido pela alcunha  de “Russinho Fura Ferro”, pois o jovem cangaceiro queria que o supracitado profissional lhe acrescentasse uma peça em sua arma visando obter uma rápida cadencia de tiros.
          
Nesta região havia muitos comentários de que um homem perverso conhecido por nome Capela do Cão, um ex-jagunço de uma fazenda de algodão  de propriedade de três irmãos, dois coronéis latifundiários e um major de patente militar, que o tal verdugo ignorando a ordem de um de seus  patrões, foi advertido, castigado e preso por ter após uma discussão assassinado covardemente a punhaladas um empregado da fazenda, e depois que saiu da cadeia , passou a praticar  estupros, saques, e violentos assassinatos espalhando terror e medo entre os colonos e  demais sertanejos do lugar; e sempre ileso  desaparecia em meio ás caatingas e serranias daquele remoto sertão. Afirmavam ainda o povo do lugar, que o referido desordeiro durante uma de suas fugas estando bastante ferido por um tiro de fuzil, foi  encontrado quase morto, por acaso; pela negra velha de nome Sá Dona Quelé, que levando-o para sua moradia; numa tapera de madeira ás margens de um ribeiro, que lá; com a ponta de um punhal  incandescente,  retirou o projétil  que encontrava-se alojado em seu tórax, e assim o curou aliviando seus sofrimentos, com benzeduras ervas e unguentos. Ele foi  adotado então pela afro descendente  que era considerada decrépita por aquele povo e que por isso vivia afastada e escusa naqueles rincões praticando cultos de magia negra na companhia de um cão horrível de nome arrebenta corrente. Dizem os moradores mais antigos que o tal cão  da velha Quelé, era filho de uma cadela comum que estando no cio, pegou cria  de um lobisomem e morreu ao parir este único filhote. Que o cãozinho cresceu forte, robusto mas;  feroz ao extremo,  sendo alimentado pela velha com leite de cabras e posteriormente com carne humana de  defuntos que ele encontrava morto pelas estradas, ou que o mesmo  assassinava  e também às vezes, os  desenterravam  das covas mais recentes dos cemitérios da região.

Mas assim que o terrível assassino recuperou-se totalmente, foi logo adotado por sua benfeitora, e ambos criaram entre si, um forte  vínculo de amizade e respeito o qual um cuidava do outro, isto é; ele a protegia caçava e conseguia o alimento e ela retribuía com outros favores tal como dar guarida, preparar a comida, lavar suas roupas, fechar seu corpo com ritos satânicos de Vu Du , e ainda dar-lhe o poder de se transformar em pedras, arbustos e troncos de madeira diante das vistas de seus inimigos.

Virgulino não era ainda tão perseguido nem muito conhecido pela polícia, portanto sua indumentária  não chamou atenção quando eles entraram na cidade, daí então; após o futuro rei do  cangaço cumprir sua incumbência, se dirigiu até á oficina do tal armeiro que efetuou   com  sucesso a tal modificação em seu rifle winchester cal. 44, estando tudo certo, Virgulino agora viajava de volta para reencontrar o bando do Sinhô Pereira que  encontrava-se em um coito perto de Porto das Folhas. Já bem na boca da noite em meio àquela selva de rochas, ao chegarem próximos á um caldeirão d’água, lá ai vinha sagaz e matreiro por uma trilha na mesma direção, o tal Capela do Cão carregando nas costas um caititu  já esfolado e limpo. Isto foi no átimo, antes que os cangaceiros avistassem o verdugo, o demônio já  havia se transformado em um toco de aroeira, passando assim despercebido por eles. Após o subgrupo  saciarem a sede e abastecerem seus cantis, Virgulino disse a seus amigos : 

- Vou testar o rifle naquele tronco, vamos ver se ele realmente ficou bom. 

E assim sem fazer visada num gesto rápido, brusco e traquejado, Virgulino efetua oito disparos  praticamente concomitantes cujo fogo da queima da pólvora  formou um clarão igual a luz de um lampião, acertando todos os tiros no alvo, vindo a arrancar lascas do tronco de madeira.

Então quando um de seus homens vai ver e conferir como ficou o agrupamento dos impactos dos projéteis, diz o cabra surpreso: 

- Ele acertou sim todos os tiros no alvo, e olhem! Alguém fugiu e deixou um porco do mato já no jeito de assar  aqui em cima do toco. 

Sorrindo Virgulino ordenou a seu subordinado que lhe trouxesse o achado para ele examinar, e assim constatando não ser armadilha nem estar envenenado, daí sim; ordenou que pudessem  assá-la e come-la, e assim foi feito; e logo em seguida  todos armaram suas redes e foram dormir com o bucho cheio. Daí no romper da aurora do outro dia, bem antes da zabelê cantar saudando o introito do verão, eles acenderam um fogo, fizeram e tomaram um saboroso café tropeiro bem quente e partiram após; como uma alcateia de raposas sorrateiras entre os cactos, mandacarus, xiquexiques, quipás e outras plantas espinhosas do extraordinário e único, porem inóspito bioma nordestino, deixando  inerte o  corpo  sem vida do bandido Capela do Cão, todo crivado de balas com vários ossos quebrados e expostos e ainda a  carcaça   coberta por um manto  ensanguentado; regando  com seu sangue vil, o árido  chão de piçarras daquele  vale sombrio  que encharcado, negrejava  lúgubre  nos ermos   longínquo  do árido sertão, desgraçado  e castigado  pelo  fadário cruel e fatídico das  intempéries.
          
Nas cidades, sítios e nos lugares mais remotos daquela região, as crianças catavam em suas brincadeiras e em outras varias atividades lúdicas nas noites enluaradas, musicas cujo conteúdo era referente á estes três vilões que aterrorizavam o sertão, Sá Dona Quelé, rebenta corrente e Capela do Cão. 

S Á  DONA QUELÉ


Lá vem Sá  Dona Quelé, mais                                                                        
Lá vem Sá Dona Quelé , mais Capela do Cão
Patuá di mandinga, dois litros di pinga
Um  saco di farinha e jabá du bão.

Lá vem  Sá Dona Quelé, mais Capela do Cão
Lá vem  Sá Dona Quelé, mais Capela do Cão
Armado até us dente e o rebenta corrente
  Matando gente  por todo o sertão                           

Quem foi  quem mato? U Capela do Cão?
Quem foi quem mato? U Capela do Cão?
Não foi Sabino  nem Jesuino.
Foi Virgulino, foi Lampião.

Cadê Sá  Dona Quelé? Ela sumiu no sertão.
Cadê Sá Dona Quelé? Ela sumiu no sertão.
E o rebenta corrente avançou  no tenente.
E  morreu com tiro de mosquetão.
Tom  -   e / b7/e/ b7...  ( catira )
       
Só mesmo desta forma é possível realizar com precisão os movimentos para efetuar tais disparos.

Dizem que com qualquer  objeto amarrado  pressionando  o gatilho do winchester, também  poderia realizar sucessivos disparos, mas isto seria impossível, pois no desenho acima,  mostra explicito    o   grau   de  dificuldade para realizar esta façanha.

Caro amigo Mendes, estas são histórias que o povo contam, eu apenas as ouço com atenção e através de pesquisas e um pouco de conhecimento e muita criatividade, as narro  da minha maneira.

CABO FRANCISCO CARLOS JORGE DE OLIVEIRA PMPR-RR  
“Saudações Militares”.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com





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