Cabo
Francisco Carlos Jorge de Oliveira
"Algumas hipóteses"
TERCEIRA
HIPOTESE:
Jeremoabo nordeste da Bahia dezembro de 1921, Virgulino descia a Serra
Negra comandando um subgrupo de cangaceiros com destino à Poço Redondo,
seu objetivo era receber do proprietário de uma fabrica de descaroçar algodão,
o pagamento em dinheiro referente a um trabalho encomendado pelo mesmo, e
aproveitando a viagem levar também um
rifle papo amarelo novinho em folha para um armeiro Tcheco muito bom e afamado
por nome de Crovic Smolareck, mais conhecido pela alcunha de “Russinho Fura Ferro”, pois o jovem
cangaceiro queria que o supracitado profissional lhe acrescentasse uma peça em
sua arma visando obter uma rápida cadencia de tiros.
Nesta região havia muitos comentários
de que um homem perverso conhecido por nome Capela do Cão, um ex-jagunço de uma
fazenda de algodão de propriedade de
três irmãos, dois coronéis latifundiários e um major de patente militar, que o
tal verdugo ignorando a ordem de um de seus
patrões, foi advertido, castigado e preso por ter após uma discussão
assassinado covardemente a punhaladas um empregado da fazenda, e depois que
saiu da cadeia , passou a praticar
estupros, saques, e violentos assassinatos espalhando terror e medo
entre os colonos e demais sertanejos do
lugar; e sempre ileso desaparecia em
meio ás caatingas e serranias daquele remoto sertão. Afirmavam ainda o povo do
lugar, que o referido desordeiro durante uma de suas fugas estando bastante
ferido por um tiro de fuzil, foi
encontrado quase morto, por acaso; pela negra velha de nome Sá Dona
Quelé, que levando-o para sua moradia; numa tapera de madeira ás margens de um
ribeiro, que lá; com a ponta de um punhal
incandescente, retirou o
projétil que encontrava-se alojado em
seu tórax, e assim o curou aliviando seus sofrimentos, com benzeduras ervas e unguentos.
Ele foi adotado então pela afro
descendente que era considerada
decrépita por aquele povo e que por isso vivia afastada e escusa naqueles
rincões praticando cultos de magia negra na companhia de um cão horrível de
nome arrebenta corrente. Dizem os moradores mais antigos que o tal cão da velha Quelé, era filho de uma cadela comum
que estando no cio, pegou cria de um
lobisomem e morreu ao parir este único filhote. Que o cãozinho cresceu forte,
robusto mas; feroz ao extremo, sendo alimentado pela velha com leite de
cabras e posteriormente com carne humana de
defuntos que ele encontrava morto pelas estradas, ou que o mesmo assassinava
e também às vezes, os
desenterravam das covas mais
recentes dos cemitérios da região.
Mas assim que o terrível
assassino recuperou-se totalmente, foi logo adotado por sua benfeitora, e ambos
criaram entre si, um forte vínculo de
amizade e respeito o qual um cuidava do outro, isto é; ele a protegia caçava e
conseguia o alimento e ela retribuía com outros favores tal como dar guarida,
preparar a comida, lavar suas roupas, fechar seu corpo com ritos satânicos de
Vu Du , e ainda dar-lhe o poder de se transformar em pedras, arbustos e troncos
de madeira diante das vistas de seus inimigos.
Virgulino não era ainda tão
perseguido nem muito conhecido pela polícia, portanto sua indumentária não chamou atenção quando eles entraram na
cidade, daí então; após o futuro rei do
cangaço cumprir sua incumbência, se dirigiu até á oficina do tal armeiro
que efetuou com sucesso a tal modificação em seu rifle winchester
cal. 44, estando tudo certo, Virgulino agora viajava de volta para reencontrar
o bando do Sinhô Pereira que
encontrava-se em um coito perto de Porto das Folhas. Já bem na boca da
noite em meio àquela selva de rochas, ao chegarem próximos á um caldeirão
d’água, lá ai vinha sagaz e matreiro por uma trilha na mesma direção, o tal
Capela do Cão carregando nas costas um caititu
já esfolado e limpo. Isto foi no
átimo, antes que os cangaceiros avistassem o verdugo, o demônio já havia se transformado em um toco de aroeira,
passando assim despercebido por eles. Após o subgrupo saciarem a sede e abastecerem seus cantis,
Virgulino disse a seus amigos :
- Vou testar o rifle naquele tronco, vamos ver
se ele realmente ficou bom.
E assim sem fazer visada num gesto rápido, brusco e
traquejado, Virgulino efetua oito disparos
praticamente concomitantes cujo fogo da queima da pólvora formou um clarão igual a luz de um lampião,
acertando todos os tiros no alvo, vindo a arrancar lascas do tronco de madeira.
Então quando um de seus homens vai
ver e conferir como ficou o agrupamento dos impactos dos projéteis, diz o cabra
surpreso:
- Ele acertou sim todos os tiros no alvo, e olhem! Alguém fugiu e
deixou um porco do mato já no jeito de assar
aqui em cima do toco.
Sorrindo Virgulino ordenou a seu
subordinado que lhe trouxesse o achado para ele examinar, e assim constatando
não ser armadilha nem estar envenenado, daí sim; ordenou que pudessem assá-la e come-la, e assim foi feito; e logo
em seguida todos armaram suas redes e
foram dormir com o bucho cheio. Daí no romper da aurora do outro dia, bem antes
da zabelê cantar saudando o introito do verão, eles acenderam um fogo, fizeram
e tomaram um saboroso café tropeiro bem quente e partiram após; como uma alcateia
de raposas sorrateiras entre os cactos, mandacarus, xiquexiques, quipás e
outras plantas espinhosas do extraordinário e único, porem inóspito bioma
nordestino, deixando inerte o corpo
sem vida do bandido Capela do Cão, todo crivado de balas com vários
ossos quebrados e expostos e ainda a
carcaça coberta por um
manto ensanguentado; regando com seu sangue vil, o árido chão de piçarras daquele vale sombrio
que encharcado, negrejava
lúgubre nos ermos longínquo
do árido sertão, desgraçado e
castigado pelo fadário cruel e fatídico das intempéries.
Nas cidades, sítios e nos lugares
mais remotos daquela região, as crianças catavam em suas brincadeiras e em
outras varias atividades lúdicas nas noites enluaradas, musicas cujo conteúdo era
referente á estes três vilões que aterrorizavam o sertão, Sá Dona Quelé,
rebenta corrente e Capela do Cão.
S
Á DONA QUELÉ
Lá vem
Sá Dona Quelé, mais
Lá vem Sá Dona
Quelé , mais Capela do Cão
Patuá di
mandinga, dois litros di pinga
Um saco
di farinha e jabá du bão.
Lá vem
Sá Dona Quelé, mais Capela do Cão
Lá vem
Sá Dona Quelé, mais Capela do Cão
Armado até us
dente e o rebenta corrente
Matando
gente por todo o
sertão
Quem foi
quem mato? U Capela do Cão?
Quem foi quem
mato? U Capela do Cão?
Não foi
Sabino nem Jesuino.
Foi Virgulino,
foi Lampião.
Cadê Sá
Dona Quelé? Ela sumiu no sertão.
Cadê Sá Dona
Quelé? Ela sumiu no sertão.
E o rebenta
corrente avançou no tenente.
E morreu
com tiro de mosquetão.
Tom - e / b7/e/ b7... ( catira )
Só mesmo desta forma é possível realizar com precisão os movimentos para
efetuar tais disparos.
Dizem que com qualquer objeto amarrado pressionando o gatilho
do winchester, também poderia realizar sucessivos disparos, mas isto
seria impossível, pois no desenho acima, mostra
explicito o grau de dificuldade
para realizar esta façanha.
Caro amigo Mendes, estas são histórias que o povo contam, eu apenas as ouço com
atenção e através de pesquisas e um pouco de conhecimento e muita criatividade,
as narro da minha maneira.
CABO FRANCISCO CARLOS JORGE DE OLIVEIRA PMPR-RR
“Saudações Militares”.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com
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