Por José Mendes Pereira
O
capitão Bonessi tem razão em afirmar que os asseclas e os policiais não deram as
informações corretas sobre o que aconteceu na Grota de Angico na madrugada de 28 de Julho de 1938. Ou
esconderam fatos verdadeiros, ou criaram coisas que não aconteceram no momento da chacina contra os cangaceiros.
Em novembro de
1973, o cangaceiro Balão cedeu entrevista à Revista Realidade, e nela eu tenho
minhas dúvidas.
O cangaceiro Balão
Palavras
do cangaceiro Balão: “- Estávamos acampados perto do Rio São Francisco.
Lampião acordou às 5 horas da manhã e mandou um dos homens reunir o grupo para
fazer o ofício de Nossa Senhora. Enquanto lia a missa em voz alta, todos nós
ficamos ajoelhados ao lado das barracas, respondendo amém e batendo no peito na
hora do Senhor Deus".
Lampião e sua malta rezando
Continua: "- Terminado
o ofício Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas quando ele se
abaixou no córrego, veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas
pedras, a 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândido, um dos nossos,
havia nos traído, e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição
das camas."
"Numa rajada
de metralhadora serrou a ponta da minha barraca..."
E continua
o cangaceiro Balão: "- Meu companheiro Mergulhão, levantou-se de um
salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu permaneci deitado, e com
jeito, coloquei o bornal de balas no ombro direito, o sobressalente no esquerdo,
calcei uma alpargata. A do pé esquerdo não quis entrar, e eu a prendi também no
ombro. Quando levantei, vi um soldado batendo com o fuzil na cabeça de
Mergulhão. De repente ele estava com o cano de sua arma encostado na minha
perna, e eu apontava meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos. Caímos os dois
e fomos formar uma cruz junto ao corpo de Mergulhão. Levantei-me devagar.
O soldado estava morto, e minha perna não fora quebrada".
"Então vi
Lampião caído de costas com uma bala na testa..."
Continua
Balão: "- Moeda, Tempo Duro (observe caro Antonio de Oliveira, que este não aparece na lista oficial dos
abatidos, e nem tão pouco na lista de Alcino Alves da Costa, uma com mais credibilidade), Quinta-feira,
todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e duas
mulheres.
Maria Bonita
Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de
algumas pedras, mas foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para
chorar. As balas batiam nas pedras soltando faíscas e lascas. Ouviam-se os
gritos por toda parte. Um inferno! Luiz Pedro ainda gritou: "- Vamos pegar o dinheiro
e o ouro na barraca de Lampião”. Não conseguiu. Caiu atingido por uma
rajada".
Neném e Luis Pedro
Em
minha humilde opinião, esta afirmação do cangaceiro Balão, contraria o que disse Mané
Veio, pois nas declarações que deu aos repórteres, ele levou um bom tempo para
assassinar Luiz Pedro.
O cangaceiro Zé Sereno
Continua Balão "- Corri até ele, peguei seu mosquetão e com Zé Sereno,
conseguimos furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento
exato. Para mim foi Deus".
Vamos conhecer as minhas dúvidas:
1 - Será que depois da missa ele voltou a se deitar?
2 - Como foi que ele viu que a bala que atingiu o rei foi mesmo no meio da testa, quando ele diz que Lampião estava de costas?
3 - Como foi que no meio de um cerrado tiroteio, ele teve coragem de ir pegar o
mosquetão de Luiz Pedro que já estava morto?
4 - Como foi que ainda deu tempo para ele contar os mortos, pois no meio de um
tiroteio, qualquer ser humano não espera por nada, muito menos para contar quem
lá morreu?
5 - Como foi que ainda deu tempo para ele calçar as alpargatas?
6 - Por que Balão caiu quando ele e o policial ambos atiraram, se ele não
sofreu nenhum impacto para ser derrubado?
O amigo Balão fantasiou algumas respostas. Muitas verdades, é claro! Mas
outras, fantasiadas. Gostaria muito que as suas respostas fossem verdades. Mas
pelo que ele disse, não há como eu acreditar em todas. E quem mais sabe o que aconteceu contra os cangaceiros naquela madrugada de 28 de Julho de 1938, ninguém melhor para contar, se falasse, a própria Grota de Angico, que guarda em segredo o que viu e o que ouviu. Sobre as informações que as balas batiam nas pedras..., isto é mais do que verdade, só pode ser mesmo um verdadeiro inferno.
Informação ao leitor:
Esta minha inquietação não tem valor para a literatura lampiônica. É apenas minha opinião.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Incansável pesquisador Mendes: Como sempre afirmo: Não é querer ser solidário com tudo que você pensa e escreve. Mas é seguir a lógica; é encarar a realidade. O ex-cangaceiro Balão prestou boas informações - deu grande contribuição através sua entrevista, não resta dúvida. Contudo, tenho que comungar com você e com outros pesquisadores: houve sim, FANTASIAS no seu comentário. Talvez pelo tempo decorrido - 35 anos após o ocorrido. Ou mesmo pela idade. Ou pelo estado emocional de quem passou pela tragédia. Tudo é possível. Mas temos mesmo que aceitar o que nos falava (e fala em seu livro), o saudoso Alcino Alves Costa: "Houve mentiras e mistérios em ANGICO".
ResponderExcluirMuito grato pela sua provocação quanto ao assunto. Faz bem para todos nós esse tipo de dúvida.
Antonio Oliveira - Serrinha
Mendes favor abrir o e-mail e veja o documentário que gravei e enviei para você.AGORA OK!
ResponderExcluirAntonio Oliveira
Amigo Mendes,fico imaginando a tristesa que os que escaparam ao cerco devem ter sentido ao ver seus amigos de convivio diario serem mortos,e muitos nunca mais se viram! Apesar de tudo sou fã de Lampião e seus cabras,só Deus pode Julgar todos nós! Danilo Ferreira-Itapetim-pe
ResponderExcluirCaro amigo Mendes,fico imaginando como deve ter sido triste para os que escaparam ao cerco ver seus amigos de convivio serem mortos e todos se separarem,muitos nunca mais se viram! Apesar de tudo sou fã de Lampiao e seus cabras,só Deus pode nos Julgar! Abraço. Danilo Ferreira Itapetim-PE
ResponderExcluir