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sexta-feira, 15 de julho de 2016

GENTE DAS RUAS DE POMBAL DÉCADA DE 1970

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

1. Um padre com cara de Pirarucu.
2. Foi Cobra do primeiro ao quinto
3. O anotador de bicho que prendeu o Tenente

Diasa (Otacílio de Sousa) pai do Zé Hilto Trajano, Otacilio e Socorro

Diasa empregado da prefeitura como vigilante da Praça do Pirarucu (Praça Monsenhor Valeriano), anotador de “Jogo Bicho” e musico.

Ele foi o responsável pela troca dos Fícus Benjamim pelas Algarobas, que ainda hoje sombream a Praça Getulio Vargas

Lembro que do final da década de 1960 para início da de 1970, Diasa passava de casa em casa, na Rua de Baixo, anotando o jogo, muitas das vezes fiado para não perder a freguesia. Só em Pombal da década de 1970, era possível apostar no jogo do bicho para pagar depois da corrida, e a confiança era tanta que, mesmo não sendo ganhador, o cliente pagava o a aposta perdida. 


Outra lembrança que eu tenho de Diasa, nessa época eu tinha entre nove e 11 anos, era ele no pé de rádio anotando o resultado do bicho. Até hoje eu não entendi aquele códigos tipo: “A” de Antonio, “N” de Nadir, “P” de Paulo “L” de Luiz e “M” de Maria, e no final Diasa fazia umas cálculo e gritava pra dona Valmira de seu Zé Compressor, outra anotadora de bicho:

“deu Cobra de novo e do primeiro ao quinto, Valmira”

No momento que Diasa gritou o bicho para dona Valmira, passava por trás dele, Dona Maloura, que era a parteira e mais abusada que se tinha noticias, e não era de “levar desaforos” para casa. Certa que Diasa estava soltando pilherias com ela, deu-lhe uma bela de uma esculhambação.

Certa vez, acho que em 1969, chegou a Pombal, vindo de Catolé do Rocha, um Tenente de nome Milton, com a incumbência de botar ordem em de Pombal, que andava meio atrapalhada a coisa na cidade.

A tropa de onze homens comandada pelo Tenente Milton desfilava pelas ruas da cidade com seus colts e cartucheiras na cintura, no melhor estilo velho oeste, como forma de intimidar os desavisados. 


Naquela época o Grande Hotel estava sob a administração de Zé Preto, e era o local de encontro dos que gostavam de tomar uma cerveja gelada para depois descer para o banho no rio antes do almoço.

Entre os frequentadores do Grande Hotel estavam os advogados Dr Plínio, Dr. Antonio Queiroga, seu Joguinha, seu Zé Pretinho, seu Zé Avelino do Cartório, Dr Newton, promotor da cidade e o Juiz, Dr João Aquino.

Diasa aproveitava a ocasião para anotar as apostas do bicho com os frequentadores. O Grande Hotel a época tinha duas portas frontais e duas pequena nas laterais.

Eis que o Tenente Milton chega com seus onze homens, cheio da autoridade que achava que tinha, manda baixar todas as portas do Grande Hotel, inundando o ambiente de total escuridão. Diasa, que fazia de costa anotava um jogo e não percebeu a o ocorrido, e grita de lá:

- Quem foi o corno que apagou as luzes?

De imediato o Tenente Milton dá ordem de prisão a Diasa e manda que o recolha a delegacia.

Nisso o Juiz Dr. João Aquino toma a frente e gruta de lá:

- Preso ta você, seu cabra safado!

O Tenente Milton revida:

- Leve esse também. Ora, quem você pensa que é?

Dr. Newton, promotor grita de Lá. 

- Ele num é ninguém, não Tenente. É só o juiz da cidade. E se acha pouco eu sou o promotor e se ainda não deu pro senhor, deixe que eu apresente os outros: aqueles três são os donos do cartório, os três ali a frente são advogados. E quem vai se recolher a delegacia é o senhor, e só saia de lá quando receber minhas ordens.

No dia seguinte o Tenente Milton deixou a cidades, e nunca mais foi visto nas redondezas.

O prefeito Dr. Azuil construiu a praça por trás da Igreja Matriz e a batizou como o nome de Praça Monsenhor Valeriano, mas, colocou lá uma enorme piscina e dentro um peixe pirarucu, de forma que a Praça passou a ser chamada simplesmente de Praça do Pirarucu.

Insatisfeito com esse batismo popular, prefeito Dr. Azuil Arruda, convocou Diasa, o guarda da Praça para informá-lo que estava arrependido de ter colocado os peixes na referida praça, isso porque o povo da cidade passou a chamar aquele logradouro de Praça do Pirarucu o que era uma ofensa ao homenageado que era Monsenhor Valeriano, tio da sua esposa, homem muito importante e culto, e o povo desrespeitava a sua nobre iniciativa.

Diasa que era apreciador de pinga e àquelas horas já tinha toadas as de direito, ouviu aquilo calado, porém, depois fez o seguinte comentário:

- O povo está certo, prefeito: se o senhor olhar direito Padre Monsenhor Valeriano está tão velhinho que mais parecia um pirarucu mesmo. 

O Prefeito saiu rindo do ambiente e não voltou mais a reclamar do nome que o povo escolheu para a praça.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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