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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

JOSÉ DO TELHADO 1ª PARTE

Por Museu Histórico de Portugal

Gorara-se o assalto à Casa de Cadeade, do Dr. António Fabrício. Mas isso não prejudicou o prestígio do José do Telhado: muito pelo contrário.

Dentro do bando sabia-se que a inveja do José Pequeno e a cobiça de mais uns tantos fora a razão daquele ataque precipitado. Sabia-se também que o homem de Sobreira não receara enfrentar o José Pequeno, repreendendo-o e ameaçando-o, e que o trazia mesmo debaixo de olho. Além disso, o José do Telhado tinha conhecimentos fora do comum, já estivera em Lisboa e servira chefes militares importantes. Até fora condecorado. Fizera a tropa na cavalaria, em Lanceiros da Rainha, chegara a sargento, fora ordenança do barão de Setúbal e do visconde de Sá da Bandeira, e - o que era mais importante - conhecia a estratégia militar e tinha um grande sentido prático. Como se tal não bastasse, possuía força, habilidade e coragem; mais que isso, uma coisa que todos compreenderam logo: ele não permitiria indisciplina nem desordem. Os outros viam-se compelidos a confiar na sua valentia e lealdade. E, instintivamente, começavam a admirá-lo e a respeitá-lo.

"Seria invulgar naquelas circunstâncias, mas o certo é que passava a dispor de um nítido ascendente moral."

Custódio, que nunca consentira que chamassem médico para tratá-lo, viu o seu mal agravar-se mais do que contava. O tiro e as pisadelas do animal eram de consequências bem mais sérias do que a princípio se supunha. Diz a tradição que resolveu então partir, conforme pôde, para a sua terra natal, acompanhado do Girafa, em vista de um tratamento mais cuidado, retirando-se assim, pelo menos temporariamente, da chefia da malta. Mas a presença do José do Telhado, impondo-se como mestre indiscutível, era para Custódio uma espécie de compensação, pois agradava-lhe a personalidade, bravura e franqueza do antigo lanceiro.

Praticamente, todas as pessoas da época que se referem à constituição física do José do Telhado (nomeadamente as testemunhas de casas assaltadas) o descrevem como um homem muito bem constituído fisicamente, alto e forte. Tinha barba cerrada, que usou ao que parece durante a maior parte da sua vida, descaindo em leque. Olhos e cabelos castanhos. Além disso, era muito ágil, e especialista no jogo do pau e no manejo de armas de fogo.
  
Repare-se que nem podia ser de outra maneira: muito ágil e forte. Refiramos apenas que muitas e muitas vezes conseguiu fugir a cercos que lhe eram feitos por mais de dez ou de vinte homens, regedores e soldados. Isso aconteceu em cercos a casas onde dormia e até em pleno dia, como na feira de Vila Meã, por exemplo. Já sem falarmos que sob o seu comando tinha mais de trinta homens, alguns de instinto feroz que era necessário dominar.

Poucos dias depois do assalto a Cadeade, o José do Telhado mandou comparecer todos os homens, à noite, no casebre que fora quartel-general de Custódio, o Boca Negra, e começou por dizer-lhes:

- De hoje em diante acabou-se a revalbaria! Temos de levar a vida a sério se queremos vencer. E quem não estiver satisfeito pode sair já, a porta está aberta! De hoje em diante, a malta aqui reunida não será um bando de ladrões. Governamo-nos, mas eu só vou tirar aos que têm mais, para dar aos que têm menos. Proíbo, ouvi bem: proíbo!, que alguma vez se tire aos pobres e a todos aqueles que vivem honradamente do seu trabalho. Nesta nossa comunidade , também não consinto que se matem pessoas; e só usaremos a força quando resistirem e nos obrigarem a isso. Também não admito que ninguém se aproveite da ocasião para abusar das mulheres.

Enviado de Lisboa capital de Portugal pelo pesquisador Emídio Roberto

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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