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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

FILOZINHA

*Rangel Alves da Costa

Filomena da Anunciação, mais conhecida como Filozinha, eis o nome de minha namorada. Nunca vi mulher tão bonita nem por onde alumia o sol nem por onde clareia a lua.
Mocinha na idade de flor, um favo de mel na colmeia desse mundão sertanejo. Cabelos lisos de índia tapuia, pele bronzeada de jambo ou dourada de urucum. Uma bela paisagem desenha em cima de uma mulher.
Minha indiazinha é sertaneja, matuta, cabocla, uma flor campestre que de repente chegou ao meu olhar. Chegou e logo apaixonei. Ela ainda não sabe não, ainda não sabe que sou seu namorado, mas já faz alguns dias que namoro com ela.
E ela ainda não sabe por um só motivo: o pai dela. Com efeito, andando pelos matos, pelas estradas e arredores como sempre faço, resolvi me alongar mais um pouco e ir bater à porta de um famoso vaqueiro.
E vaqueiro afamado, cabra valente tanto na pega do boi como em qualquer outra situação. De pouca conversa, quem o avista logo teme a fama de valentia. Eis que chegando, depois de bater à porta tomei um susto danado. Fui recebido como o maior dos amigos.
Contudo, no primeiro passo que dei depois da porta, mais espantado fiquei. Meio escondida atrás de uma cortina, como quem queria avistar o visitante, aquela mocinha mais linda do mundo. Não acreditei no que vi.
O pai dela conversava e conversava e eu caçando aquele rosto por todo lugar. Pedi um pouco d’água sem estar com sede, na esperança que fosse ela quem trouxesse a moringa. E foi ela mesma.
Toda sem jeito, envergonhada, com roupa de chita e chinelo de dedo, tudo fez para encobrir seu olhar com os cabelos. Mas vi que me olhava. E muito. Então logo me apaixonei. Perguntei ao vaqueiro se era sua filha, então tive de ouvir:
“É minha fia e minha fia vai ser pra sempre. Num nasceu nem pra namorar nem pra casar. E o cabra que se enxerir por aqui eu faço dele um restim no outro dia”. Que absurdo, pensei. Mas já estava apaixonado e apaixonado continuei.
Quase todos os dias eu volto lá para namorar. Mas namorar sem que ela sequer saiba. Pra namorar sozinho, intimamente, apenas pelo desejo e pelo olhar. Um namoro inventado apenas pela vontade de namorar.
Sei que ela me olha, sei que ela me quer. Se não fosse aquela valentia do pai eu já ia pedir sua mão e tudo mais. Só tem um porém. Ela só me olha, mas nunca abriu a boca para dizer um tantinho assim.
E tenho medo de mais de qualquer dia chegar perto dela e ouvir o que nunca desejaria. Algo assim como um silêncio silencioso demais, profundo e duradouro, talvez eternizado na sua voz.
Mas ainda assim não desistirei. Jamais desistirei. Ela é minha namorada e sempre será. Mesmo sem a palavra, mesmo sem qualquer toque, mesmo sem qualquer beijo, ela sempre será minha namorada.
Amar assim é difícil demais. Mas não deixa de ser amor. Quando o coração resolve por conta própria encontrar seu sorriso, então não há mais o que fazer. Será sempre amor, mesmo que as esperanças sejam como folhas ao vento.
Mas amo minha Filozinha. Quem sabe se ela também não me ama. E se na escrita do destino estiver, não haverá pai nem qualquer coisa que impeça de no seu dedo chegar um anel dourado de sol e de lua.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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