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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

LAMENTOS DE UM SERTANEJO REVOLTADO COM AS AGRESSÕES SOFRIDAS PELA REGIÃO SEMIÁRIDA ATRAVÉS DA PRODUÇÃO CORDELÍSTICA DO POETA POPULAR NILSON SILVA

 Por José Romero Araújo Cardoso

Trazendo o título de Lamentos de um sertanejo, importante cordel de autoria do poeta popular Nilson Silva, publicado no ano de 2013, integrando a Coleção Poemas e Cordéis, destaca-se pela denúncia contra a forma como o sertão vem sendo transformado, graças à antropização exacerbada.

Ênfase à nostalgia, quando o semiárido irradiava plenamente belezas como o cantar do vento, o grito da correnteza, o canto do sabiá e o arrulhar da burguesa, destaca-se no refrão inicial da poética popular do renomado cordelista mossoroense, nascido a 26 de maio de 1958.
          
O autor intercala de forma ímpar elementos da cultura popular sertaneja, como o aboio do vaqueiro e o glamour das festas juninas com as lembranças das características marcantes dos pássaros que outrora enchiam com plenitude e beleza inaudita recantos mais escondidos dos confins do semiárido.
          
O desmatamento e o abandono do campo tem trazido conseqüências desastrosas para a região sertaneja, sendo difícil nos dias de hoje observar-se, como no passado, cantos do acauã, da coruja, da casaca-de-couro, do grito do carão em busca de aruá, não ouvindo-se mais sapo e rãs coaxando na beira de uma lagoa.
          
O hábito de aprisionar passarinhos contribui de forma afrontosa para que as espécies que embelezavam o sertão com seus cantos magistrais não sejam mais encontradas em grande profusão.
          
Impossibilitadas de dispor de condições de dar continuidade à vida em uma região que vem apresentando-se cada dia mais inóspita e desafiadora, aves que integravam indelevelmente a presença biológica no bioma caatingueiro desaparecem sem deixar vestígios.
          
Lembranças estão integrando a ecologia regional, pois o desequilíbrio é notado a olhos vistos, ameaçando de extinção pássaros como o canário, juriti, asa branca, bem-te-vi, xexéu, colibri, azulão, pintassilgo, xororó jaçanã, socó e nhambus.
          
Também espécies de médio porte da fauna sertaneja são citadas no cordel de autoria do poeta popular Nilson Silva, pois gato maracajá, peba, tejuaçu, tatu, tamanduá, veado mandigueiro, mocó, cutia e preá também estão desaparecendo, entrando na lista de animais ameaçados de extinção.
          
A caça predatória e o comércio clandestino de pele e couro de animais silvestres tem se responsabilizado pelo sumiço dessas espécies, destacando ainda o desaparecimento das emas que em épocas passadas  perlustravam todos os quadrantes da chapada do Apodi, juntamente com imensas varas de porcos-do-mato.
          
Integrando a paisagem sertaneja, encontrava-se agricultor rasgando o ventre da terra, esperando e obtendo sucesso em safras magistrais de arroz, milho e feijão, em suma, produtos da agricultura de subsistência sertaneja, a qual, ao lado do algodão responsabilizavam-se pela efetiva geração de emprego e renda no campo na região semiárida.
          
A agricultura de subsistência, castigada pelas estiagens, hoje se torna desafio e incógnita quanto à sua continuidade, tendo em vista privilégios auferidos pelo agrobusiness, detentor de inúmeras vantagens, incluindo, entre estas, condições plenas de utilizar a água do lençol freático, coisa quase impossível para o agricultor desprovido de recursos tecnológicos e financeiros.
          
A cultura algodoeira, desestruturada em meados da década de oitenta do século passado, graças à chegada da praga do bicudo, não tem mais importância na economia regional, restando apenas lembranças de uma época áurea na qual o homem sertanejo era bem mais feliz do que nos dias de hoje.
          
Finalizando o cordel, o último refrão destaca a necessidade de proteger a natureza antes que o sertão desapareça por completo, tragado pelos pontos de desertificação que afligem todos que se preocupam com o meio ambiente em uma região frágil em suas características ecológicas.

José Romero Araújo Cardoso - Geógrafo (UFPB). Escritor. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UERN). Membro do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e da Associação dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM)

Enviado pelo professor e escritor  Benedito Vasconcelos Mendes

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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