Por Ricardo Beliel
"Ulisses
lembra, quando criança, ver o pai, Euclydes, montar um arsenal sobre o corpo e
sair por uma porta, sem dia de regresso. "Meu pai saía combatendo com as
forças volantes, era comandante de volante. Nesse tempo tudo era à pé, não
tinha carro, não tinha nada. Andava assim, de mês em mês, no meio do mundo
atrás de Lampeão". Muitos combates marcaram as vidas dos habitantes em
torno de Nazareth. Enforcado, Barriguda, Baixas, Caraíbas, Genipapo... Ulisses
e Zezinho são de poucas palavras. Falam com olhares furtivos e as marcas
profundas nos rostos desses velhos remanescentes de tempos de guerra são como
uma caligrafia cruenta a contar histórias sangradas por punhais.
"Lampeão voltou pra se vingar de Nazareth. Primeiro passou lá na fazenda de pai, no Genipapo. Queria tocar fogo. Meu avô, Gomes Jurubeba, resistiu de rifle no alto da casa. Tava só, mais minha tia Melânia e uma sobrinha, Guiomar. Os cangaceiros atiravam na casa e gritavam indecências, ameaçando matar. Tia Melânia, de rifle na mão saiu da casa, varou o oitão, e encarou Lampeão. Fincou o pé e chamou pra luta, mas ele ficou parado. Era ele e ela, mas dizem que eles tinham superstição. Não podiam matar mulher em combate, que dava azar. Voltou pro mato e foi embora". Rubelvam, filho de um dos soldados nazarenos, José Gomes de Lira, e neto do resistente Gomes Jurubeba, conta, com os olhos abugalhados, para Ulisses uma vez mais uma história que faz parte da vida de todos nesse recanto de passado doloroso".
Trecho do livro "Memórias Sangradas", de Ricardo Beliel e Luciana Nabuco, a ser lançado em breve.
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