Material do acervo do José João Souza
Há 80 anos, o
terrível encontro entre militares do Governo Getulista e cangaceiros liderados
por Lampião e sua esposa, Maria Bonita, foram pegos de surpresa e quase sem
nenhuma reação na madrugada do dia 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em
Sergipe, praticamente pôs fim à chamada Era do Cangaço. Em meio àquelas árvores
retorcidas da caatinga e resultando num verdadeiro banho de sangue no sertão
nordestino, 11 integrantes do afamado bando, incluindo o casal líder, foram
mortos e tiveram suas cabeças decepadas.
Esta tragédia
verdadeira é o tema do grandioso espetáculo ao ar livre e gratuito “O MASSACRE
DE ANGICO – A MORTE DE LAMPIÃO”, concebido a partir do até então único texto
dramatúrgico escrito pelo pesquisador do Cangaço, Anildomá Willans de Souza,
natural de Serra Talhada, mesma cidade onde Virgolino Ferreira da Silva, o
Lampião, nasceu.
Mas o “molho”
que rege toda esta história é o perfil apresentado deste homem símbolo do
Cangaço, visto por um outro viés, bem mais humano, “mostraremos ao público um
Lampião apaixonado, que sente medo, afetuoso, que não era somente a guerra
travada contra os coronéis e fazendeiros, contra a polícia e toda estrutura de
poder, mas um homem que amava as poesias e sua gente”, revela o autor.
Numa
realização da Fundação Cultural Cabras de Lampião, com patrocínio do
FUNCULTURA/Secretaria de Cultura/Governo do Estado de Pernambuco e Prefeitura
Municipal de Serra Talhada a montagem, que teve sua estreia em julho de 2012,
com absoluto sucesso, volta a ser apresentada no município de Serra Talhada,de
25 a 29 de julho, sempre às 20h, na Estação do Forró (antiga Estação
Ferroviária), sob o lema “O Maior Espetáculo ao Ar Livre do Sertão Nordestino”.
Com entrada
franca, a expectativa é reunir mais de cinquenta mil pessoas nos cinco dias da
temporada. À frente da encenação, queconta com 50 atores e 70 figurantes, além
de 40 profissionais na equipe técnica e administrativa,está um mestre de
grandiosas produções teatrais ao ar livre no Estado, o diretor, ator e
dramaturgo José Pimentel.
Com cenas de
relances quase cinematográficos,“O MASSACRE DE ANGICO – A MORTE DE
LAMPIÃO”reconta a vida do Rei do Cangaço, desde o desentendimento inicial de
sua família com o vizinho fazendeiro, Zé Saturnino, ainda em Serra Talhada.
Para evitar uma tragédia iminente, e que de fato aconteceu, seu pai, Zé
Ferreira, fugiu com os filhos para Alagoas, mas acabou sendo assassinado por
vingança. Revoltados e para fazer justiça com as próprias mãos, Virgolino
Ferreira da Silva e seus irmãos entregaram-se ao Cangaço, movimento que deixou
muito político, coronel e fazendeiro apavorado nas décadas de 1920 e 1930 no
Nordeste. Temidos por uns e amados por outros, os cangaceiros serviram como
denunciantes das péssimas condições sociais daquela época, tanto que a honra e bravura
de Lampião foram decantadas pelos poetas populares, ao mesmo tempo em que o
Governo o via como uma doença que precisava ser eliminada.
Foi com a
decisão do então presidente da República, Getúlio Vargas, que as tropas
militares conseguiram preparar, após diversas tentativas, uma emboscada em
local propício, de única entrada e saída, em Angico. Mas até sua morte, outros
fatos importantes da trajetória desde homem que marcou a história do Brasil,
afamado como herói e bandido, são revelados, como seu encontro com Padre Cícero
para receber a patente de capitão do Exército Patriótico; as demonstrações de
liderança e guerrilha nas visitas aos sete estados do Nordeste; seu amor à
esposa, Maria Bonita, com frases poéticas ditas à luz do luar; a festa da cabroeira
dançando xaxado e coco; e até a traição de Pedro de Cândida, coiteiro que foi
torturado pelos militares e acabou entregando o local de repouso dos
cangaceiros em terras sergipanas (Lampião foi assassinado aos 41 anos. Maria
Bonita estava com 27).
No elenco,
atores da própria Serra Talhada, mas também do Recife e Olinda, além da
atriz/cantora Roberta Aureliano, que interpreta Maria Bonita e é natural de
Maceió, Alagoas, mas passou toda a infância em Serra Talhada. O ator e
dançarino Karl Marx, de apenas 28 anos, vive o protagonista. Integrante do
Grupo de Xaxado Cabras de Lampião, ele comemora 14 anos à frente do mesmo
papel, em outras montagens. “A responsabilidade é grande porque trata-se de uma
personagem que mexe com a imaginação das pessoas, que influenciou a cultura
popular sertaneja, os valores morais e até o modo de viver do nosso povo. Pra
mim, que sou da terra de Lampião, que nasci e me criei ouvindo histórias sobre
esses homens que escreveram nossa história com chumbo, suor e sangue, me sinto feliz
e orgulhoso pela oportunidade de revelar seu lado humano, suas emoções, seus
medos e todos os elementos que o transformaram nessa figura mítica. Este
trabalho é mais do que um desafio profissional. É quase uma missão de vida,
ainda mais quando se trata de Cangaço, tema polêmico que gera divergências,
contradições e até preconceitos”.
Ambientada em
cima de uma ribanceira de terra batida (mas sem ser necessária a itinerância do
público e com visão privilegiada para todos), durante 1h30 a encenação acontece,
contando com uma arrojada trilha sonora (que, além das vozes gravadas dos
intérpretes, inclui obras de Chico Science a Amelinha, com a música Mulher
nova, Bonita e Carinho, Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, além de músicas do
cancioneiro popular, como Mulher Rendeira; e a canção Se Eu Soubesse, na voz da
atriz e cantora Roberta Aureliano, intérprete da Maria Bonita), iluminação
detalhista e muitos efeitos especiais, estes últimos, assim como os cenários,
assinados pelo mago da cenografia pernambucana Octávio Catanho (Tibi), parceiro
de José Pimentel em todos os seus outros trabalhos. No total, o projeto está
orçado em R$ 500 mil e deve atrair ainda mais turistas àquela região, berço do
grande homem do Cangaço.
FONTE: SITE
PREFEITURA MUNICIPAL DE SERRA TALHADA
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