Seguidores

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

A CENSURA DE LAMPIÃO.



Bejamim Abrahão, um Sírio-Libanês que foi secretário de Pe. Cícero, documentou o Cangaço em sua intimidade em 1936, produziu filmes e fotos de Lampião, Maria Bonita, de vários cangaceiros e cangaceiras e do bando em seu dia a dia nos acampamentos e na caatinga. No ano seguinte, 1937, ele veiculou em Fortaleza/Ce o filme “ Lampião, o Rei do Cangaço” e passou a vender fotos dos cangaceiros aos interessados. 

Isso indignou o governo, que há anos empenhava dinheiro, recursos e pessoal no combate ao cangaço, mas sem sucesso até então e de repente, aparece uma única pessoa, um estrangeiro civil, que não só encontra com o bando de Lampião, mas convive pacificamente com eles, faz filmes, fotos e divulga àquele movimento clandestino armado, bem organizado, com hierarquias, bem vestidos, com boa saúde, alegres, brincando, encenando lutas, dançando, cozinhando e costurando, os mostra de forma bonita e com mulheres igualmente bonitas e bem vestidas. Mostra o lado particular dos cangaceiros como pessoa comuns e seres humanas, o que foi um insulto e uma desmoralização para o Governo, que apesar de todo o combate empreendido ao cangaço ao longo do tempo, este parecia estar inabaladamente bem e em ascensão. 

Assim, o DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Federal, emana a seguinte ordem ao Ceará: "Secretário Segurança Publica Estado do Ceará Fortaleza. Tendo chegado ao conhecimento do Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de "Aba Filme", com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz. 

Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça.". Assim, foi confiscado todo seu material, que ficou desaparecido por muitos anos e somente nos anos 50 foi recuperado uma parte do material, uma média de 90 fotos e uns 15 minutos de filme do Bando de Lampião, sendo este material o mais importante para o registro e a história brasileira sobre o fenômeno do Cangaço. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 21/01/2020.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário