Por Verluce
Ferraz
Há cerca de
mais de cem anos que o povo lida com o assunto Cangaço, estudiosos tentam
intensamente responder ao fenômeno, típico dos Sertões do Nordeste brasileiro;
considerando-se que desapareceu no ano de 1938, com a morte do mais famoso
cangaceiro, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Tais tipos cangaceiros
diferem muito até mesmo daqueles descritos por Eric J. Hobsbawm. Tenho escutado
de muitos, afirmativas que o Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, é uma das
pessoas mais biografadas de nosso País e fora dele; desconfiando dessa
afirmativa, hei de desculpar-me e discordo, por entender que devemos colocar
“cada macaco em seu galho”. Para não deixar a lacuna, direi que a Aviação tem
um pai brasileiro, Santos Dumont, conhecido no mundo inteiro; na Saúde, Oswaldo
Gonçalves Cruz: na Educação, Paulo Freire; na Literatura de Ficção, Machado de
Assis; no Direito, Rui Barbosa. Agora em se tratando do Cangaço encontramos
Virgulino, o Lampião. Toda História deve ter base e resposta (ainda a história
do Cangaço depende de muitas confirmações; as que se nos apresentam são muito
controversas. Fato que assustam mais ainda são afirmativas vindas dos
escritores que tornam-se best-seller no assunto. São inúmeras as tentativas de
se acertar, ou por seu passado quase inacessível ou em virtude do Estado de
Direito que foi o maior interessado em extinguir com o Cangaço. Além de ser um
câncer para a nossa história, mostrava o sério perigo e danos causados pelo
cangaceirismo. Por isso, ainda ouso afirmar que não há ainda, ou nunca haverá,
domínio do assunto. Percebe-se na intenção do perigo a formação de base, que
conduz mais aos sonhos e fantasias, quase sempre equivocadas. Temos de fugir e
escapar dos desejos que motivam alguns que cometem e constroem arquétipos
repassando-os à literatura. Expliquemos: o Cangaço não tem pai e tampouco foi
primazia de Virgulino, o Lampião. Mas, aqui, é tarefa minha mostrar que a
ligação dele com a família Pereira, envolvida em conflitos políticos e pela
posse de terras com a família Carvalho. Tanto o Sebastião Pereira da Silva, o
Senhor Pereira e seu primo Luiz Padre, antecederam Virgulino na vida
cangaceira, repassando o seu bando para Virgulino (ainda não era Lampião),
Senhor Pereira e Luiz Padre abandonaram o cangaço e foram para o Estado de
Minas Gerais. Entregue os poderes a Virgulino, esse passa a chefiar e aumentar
seus grupos. Interessante aqui é que Lampião substituiu duas das funções que
levariam ao mundo do crime: em primeiro, assume o comando de grupos criminosos
do Senhor Pereira; em segundo, fará a transferência dos desejo dos chefes para
sua mente associando o seu objetivo de vingar as mortes dos patriarcas. Copiou
e assimilou aquilo que veio de seu chefe no cangaço. Deve ter sido por
admiração à família Pereira? Se assim fosse por qual motivo não acompanhou a tendência
do Senhor Pereira e do seu primo Luiz Padre, quando atenderam aos conselhos do
Padre Cícero Romão, que os induziu a largarem a vida do crime? Lampião desfaz a
promessa quando rejeita o terceiro acordo, ou trato entre Senhor Pereira e o
Padre. Por que Virgulino não conseguiu fugir do crime e só a morte interrompeu
a sua carreira de matador? Tal posição não pode ser analisada por analogia;
Virgulino que pediu emprestado os dois motivos para justificar sua intenção de
entrar para o mundo do crime: vingar a morte de seus genitores. No entanto
todas as forças motivadoras são algo inexistentes. Será que queria evitar o
peso do inconsciente? Nunca conseguiria realizar algo que estava tão próximo e
possível? Bastava-lhe o querer, ou não sabia que esse material advinha de um
sonho desconhecido? Falhou muito para quem tinha um ‘direito especial’. Seguir
os passos do Senhor Pereira, mas, ainda tinha um outro mandamento especial:
cumprir com a promessa para com o Padre Cícero, de quem se dizia devoto e foi
lá no Juazeiro do Norte pedir bênçãos ao santo padre: ouviu mas não escutou os
conselhos do padre, que seria abandonar o mundo do crime. Lampião não encaixou
em nenhuma das três alternativas porque o seu motivo era psíquico e já
existente - o elemento crime. O cangaço para Virgulino vinha de um conjunto
desordenado de material da infância, intimamente ligado à supressão de seus
desejos. Gostaria de aqui chamar a atenção para o fato de que foram os seus
desejos que abriram caminhos para mostrar suas lembranças e reproduzir a sua
capacidade de criações artísticas, como a letra da música ‘mulé rendeira’,
liberar o ‘estilista’ que havia dentro de si. E a Maria de Déia, (ou Maria
Bonita) jamais teve a ideia do seu importante papel que seria fornecer as
despesas psíquicas ao cangaceiro, realizando o suporte a um poderoso psicopata
‘machão capitalista’...
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