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terça-feira, 30 de junho de 2020

SERTÃO DESCOBERTO


Clerisvaldo B. Chagas, 30 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.335

     Igualmente à Floresta Equatorial, à mata Atlântica, o cerrado, os pinhais, manguezais e pampa, a caatinga continua perdendo a sua vegetação original.  A consciência de poucos vai perdendo terreno para os desrespeitosos da Natureza. Quando as quatro estações do ano eram regulares em nosso Sertão alagoano, o homem já perdia lavoura durante a primeira quinzena de agosto. Mesmo sendo julho o mês mais frio e chuvoso para nós, os primeiros quinze dias de agosto traziam o frio dobrado e, quando não era o frio que matava os feijoais, eram as pragas de lagartas. Atualmente a mudança do clima é tão sentida que o homem do campo e todos nós ficamos perdidos nas previsões.

Nostalgia da rolinha branca.  (foto: B. Chagas).

     O desmatamento mais acelerado ou mais lento faz com que os animais selvagens que não morrem de fome, morram pelas mãos dos caçadores ou migrem para as cidades em busca de comida e abrigo. Assim é que a capital paulista se encheu de tantos passarinhos em suas avenidas arborizadas com restos de comida por todos os lugares. Em Maceió houve aglomeração para apreciar um casal de tucanos em pleno logradouro público. Sibites, bem-te-vis e até rolinhas saem das matas periféricas e das grotas em busca de comida e abrigo. Fazem ninhos nas plataformas dos altos postes e até nas varandas ajardinadas da capital. A alimentação é farta no lixo dos terrenos baldios e até nas praças e meio de ruas.

     Em nossa cidade, não é diferente. Antes os pardais, viraram pragas. Andam em bando e botam os outros pássaros para correr. Nem cantam que preste, é somente um chilreado nervoso e irritante   de terras portuguesas. Caso invadam seu telhado, os abrigos das biqueiras, você estará sem sossego por uma infinidade de tempo. Mas o desmatamento é tanto que outros pássaros resolveram enfrentar a agressividade dos pardais e também ocupam territórios urbanos em Santana. Beija-flor (bizunga, colibri), bem-te-vi, sanhaçu e até rolinha, vão aparecendo. A rolinha é muito caçada pelo sabor da carne. Acontece mais por aqui, a presença da rolinha branca (branca e cinza); mas tem a rolinha azul, a fogo-pagou e a caldo- de-feijão que preferem lugares mais quentes do semiárido. São criaturas dóceis, delicadas, que inspiram tristeza e nostalgia.

     Não resistimos a sua presença solitária na fiação da rua defronte a nossa casa. E lá vai “flash” ao invés de bala. Amar as coisinhas do Criador dos Mundos


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