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sábado, 11 de julho de 2020

SINHÔ PEREIRA: O PROFESSOR DE LAMPIÃO


(João Pernambucano)-Republicação
Sinhô Pereira (sentado) e seu primo Luis Padre.

Embora tenha dito certa vez que Lampião já entrou no cangaço sabendo o que fazer, Sinhô Pereira foi determinante para a fortificação do movimento sob o comando de Virgolino.

Sebastião Pereira e Silva nasceu em Serra Talhada, Sertão pernambucano (mesma cidade de Lampião) no dia 20 de janeiro de 1896. A família Pereira tinha posses e descendia do Barão do Pajeú Andrelino Pereira da Silva, condecorado assim por D Pedro II em 1888.

Os conflitos com a família Carvalho eram intensos e praticamente atravessaram o século 19. No início do século 20, Luis Padre (primo de Sinhô Pereira) tem seu pai assassinado em um dos confrontos. O irmão de Sinhô Pereira, Né Pereira, lidera o grupo da família nos intermináveis conflitos que seguiam sem parecer ter fim.

Certa ocasião, Né Pereira (conhecido como Seu Né) recrutou Zé Grande para eu bando. Zé Grande era ex-jagunço dos Carvalho. Passou um tempo preso e após fugir, foi pedir guarida com os Pereiras. Talvez Né Pereira acreditasse que ganharia um grande trunfo, já que o jagunço conhecia detalhes dos seus antigos patrões. No entanto, a história foi outra: Né Pereira tirava um conchilo, quando Zé Grande, aproveitando a oportunidade, o assassinou.

Conta-se que ainda levou o chapéu e o punhal de Seu Né e levou para mostrar aos Carvalhos, na Fazenda Umburanas.

Foi o estopim. E ocasionou na entrada, de vez, de Sinhô Pereira e Luis Padre no Cangaço. Com fúria e revolta pela impunidade, montaram um bando numeroso e com muita sede de vingança.

Os conflitos ganharam proporções muito mais pesadas. Um dos ataques mais furiosos do bando de Sinhô Pereira foi às Fazendas Piranhas e Umburanas, de propriedade dos Carvalho.

O local foi cercado, iniciou-se um combate que durou quase duas horas.

As baixas com feridos começaram a acontecer dos dois lados, quando Sinhô Pereira resolveu incendiar os roçados das fazendas. Queimou uma pequena vila de 14 casas dos agricultores que trabalham nas terras dos Carvalhos. Em seguida matou algumas criações e destruiu os pequenos açudes para os peixes morrerem sem água.

O cenário era de destruição total. A família Carvalho fugiu. Mudou-se. Mas logo em seguida, devido às influências políticas que tinham, passaram a perseguir o bando do Sinhô Pereira com ira.

O bando de Sinhô Pereira não concretizava vingança apenas dos seus líderes. Os integrantes buscavam suas vinganças pessoais e a guerra só aumentava. Como aconteceu no embate na fazenda Santa Rita, que também foi totalmente destruída pelo bando num acerto de contas.

Foi nesse cenário que Sinhô Pereira recebeu a visita de Virgolino e seus irmãos, querendo entrar no bando para vingar a morte do seu pai. Há quem diga que Lampião já integrava grupos de cangaceiros antes do pai morrer. Mas Sinhô Pereira afirmou em uma entrevista no início da década de 1970, que pelo menos em relação a seu grupo, a entrada de Lampião no cangaço só se deu após a morte do pai.

Em 1922, em outro combate intenso e já com Lampião totalmemte adaptado ao bando, aconteceu a morte de Antônio das Umburanas, que tinha forte influência na região. Foi aí que Sinhô Pereira resolveu por fim ao seu legado no Cangaço. Em junho daquele ano, em Serrita (PE), passou o comando a Lampião. Ordenou-lhe, porém, que ninguém da família Pereira seria incomodada pelos cangaceiros.

Virgolino prometeu e cumpriu.

Por acompanhar Sinhô Pereira nas negociações com grandes fazendeiros e outras táticas importantes fora dos combates e tiroteios, Lampião assimilou todo o aprendizado e os aperfeiçoou ainda mais. Sinhô Pereira disse que entregou o comando a Lampião por saber que ele seria o único capaz de levar adiante as lutas do cangaço.

Financiados por Isidoro Conrado e Né da Carnaúba, Sinhô Pereira e Luis Padre viajaram para Goiás, com a chance de recomeçarem a vida. E, sem explicar detalhes, Sinhô Pereira afirmou que não foi nada fácil.

Os anos se passaram e cada um seguiu seu rumo. Luis Padre manteve-se em Goiás. Sinhô Pereira foi para Minas Gerais, onde viveu até cumprir seu ciclo. Morreu em dezembro de 1979. Antes, em 1971, visitou Serra Talhada, cercado de lembranças e emoções. Boas e ruins.


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