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domingo, 27 de dezembro de 2020

A SEPULTURA DO CANGACEIRO.

Por Rangel Alves da Costa

Canário (Bernardino Rocha), cangaceiro filho de Poço Redondo, ao ser traído e morto pelo também bandoleiro Penedinho em setembro de 38, teve seu corpo enterrado sem a cabeça debaixo de um umbuzeiro (foto abaixo), logo adiante do local da traição, num lajedo beira d’água na Fazenda Coruripe, em seu berço de nascimento. Enterrado apenas o tronco porque o comandante Zé Rufino, famoso caçador de cangaceiros e sedento pelas riquezas do cangaço, logo chegou diretamente da vizinha e baiana Serra Negra para se certificar da morte e do possível espólio deixado. Tomou conhecimento da morte através do próprio Penedinho, que após matar o companheiro de sua prima Adília correu para se entregar no quartel do famoso comandante, logo após a fronteira. A entrega sempre era facilitada após a baixa de outro companheiro do bando. Assim que soube, Zé Rufino esfregou as palmas da mão, lambeu-se nos beiços, e cortou chão até Poço Redondo. Seus olhos brilhavam na avidez do que poderia encontrar, até mesmo porque o traidor já tinha confessado que havia dinheiro e joias enterrados pelos arredores. Há incerteza do que e do quanto encontrou, mas há certeza que decepou a cabeça do morto e com ela retornou. O restante do corpo foi enterrado embaixo do umbuzeiro, sob uma cruz torta e desolada e - dizem ainda hoje - o fantasma de um cachorro que por muito tempo, em noites de breu e tristezas, chorou e uivou a saudade de seu dono. O mesmo cachorro de Canário que continuou velando o corpo estendido no lajedo e que foi morto com a chegada da volante.

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