Do acervo do professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio
Sob muitas lágrimas das duas filhas, dos três que teve com Corisco, dezenas de netos e bisnetos, todos chorando convulsivamente, e aplausos de um bom número de admiradores, que acorreram ao Jardim da Saudade, foi sepultado ontem, às 18h10min, o corpo de Sérgia Silva Chagas (Dadá), que morreu, aos 78 anos, na madrugada de ontem, no Hospital São Rafael, vitimada por um câncer generalizado, de acordo com a informação do historiador Carlos Cleber, que, em março próximo, vai relançar o livro “Dadá, a Musa do Cangaço”, da Editora Vozes.
O corpo de Dadá foi velado na capela do Jardim da Saudade, onde o capelão do
cemitério, padre Afonso Gomes, celebrou missa de corpo presente. O filho Sílvio
Hermano, que mora em Alagoas, não chegou a tempo de assistir ao
sepultamento de sua mãe. Entre os admiradores, estiveram no cemitério o
jornalista e juiz classista Oleone Coelho Fontes, autor de um livro sobre o
cangaço, e a ex–vereadora Geracina Aguiar.
AOS 13 ANOS
Nascida em Belém de São Francisco, Pernambuco, em 1915, e uma das filhas do casal Vicente R. da Silva / Maria R. S. da Silva, Dadá entrou no cangaço aos 13 anos de idade. Numa entrevista que concedeu em 1977, ela contou que Lampião chegara na sua casa, “onde fez uma baderna danada”. Na época, Dadá morava na fazenda Macucuré, entre os municípios de Glória e Paulo Afonso, no interior do estado da Bahia.
De repente, disse Dadá, Lampião chamou Corisco e, em tom de brincadeira, disse
para ele: “Como é? Você não quer desmamar esta menina?” Corisco deu uma
gargalhada, me pegou no colo, me colocou na sela do seu cavalo e saiu a galope.
Depois, lembrou, “foram 12 anos de luta, correndo ou enfrentando a Policia por
toda parte”. Sérgia, que ficou conhecida pelo apelido de Dadá, tinha, apenas 13
anos.
MUITO AMOR
Apesar da violência do contato inicial, Dadá sempre falou de Corisco com muita ternura, afirmando: “Nos amamos muito”.
Dadá que teve três filhos com Corisco (Maria do Carmo, Maria Celeste e Sílvio
Hermano), todos vivos, também elogiava Lampião, dizendo que ele era um homem
bom. “Um homem de palavra, que só falava uma vez e não contava vantagens. Fico
triste – confessou – quando vejo escreverem coisas que Lampião nunca fez. Os
livros que têm saído sobre o cangaço só apresentam – dizia Sérgia da Silva
Chagas – vantagens da Polícia e coisas terríveis que nunca aconteceram.”
OUTRO MARIDO
Dadá assistiu a morte de Corisco, em 1939, numa localidade próxima ao município
de Miguel Calmon, varado de balas de metralhadora, mesmo aleijado e já tendo
deixado o cangaço. Ela também foi baleada, teve uma das pernas estraçalhadas e
amputada posteriormente. Casou–se com um velho pintor de paredes, já falecido,
com quem não teve filhos. Criou, no entanto, muitos meninos e meninas, que
considerava como seus filhos. Mesmo com uma perna só, Dadá costurava muito,
chegando a aposentar–se como costureira. Com sua morte, fecha–se uma das
últimas páginas do cangaço no sertão nordestino.
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