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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A CANGACEIRA CATARINA

Por Sálvio Siqueira

Nos tempos que se foram a vida não era nada promissora para os jovens sertanejos nos vários Estados que compõem o Nordeste do País. A coisa não era fácil para os homens, imaginem para as mulheres, naquela época?

A mulher sertaneja sempre era criada para trabalhar, servir ao marido em tudo. Nunca que podia ter seu próprio querer e viver sua vida. Até para estudar, como relatos nos mostra eram ‘proibido’ pelos pais para que não “ficassem sabidas”.

Toda proibição faz com que acometa, em um lado oculto da mente, no ser humano, de liberdade e sonhos... Assim ocorreu com várias mocinhas sertanejas.

Viram elas, a liberdade, o direito de fazerem o que queriam tão cobiçadas na maneira dos cangaceiros viverem. Nômades, não prestando satisfações para quem quer que fosse. Esse sonho foi o motivo de várias delas seguirem na trilha sangrenta do cangaço.

Havia uma jovem chamada Catarina Maria da Conceição, filha do Sr. Arsênio José da Silva e dona Maria da Conceição, que foge do aconchego do lar de seus pais, para seguir uma paixão alucinante pelo jovem João Francisco da Silva, de alcunha, nas hastes cangaceiras, “Nevoeiro”.

Nevoeiro, quando ainda João Francisco da Silva, juntos com seus irmãos nasceram e viviam na fazenda Baixa Funda, hoje região do município de Paulo Afonso, BA. Quando, mais tarde, ele e os irmãos, Silvino e Martins, entram para o cangaço e passam a serem chamados pelas alcunhas de “Jurema” e “Pó-Corante”, respectivamente.

Talvez por que ‘lá’ já estavam suas primas Inacinha e Rosa, Catarina tenha tido coragem de seguir por esta ‘vereda’ do crime, do banditismo... do cangaço. Mas, para ela do amor, da paixão e da liberdade.

Catarina se faz companheira do cangaceiro Nevoeiro e vivem, segundo relato de historiadores, um amor intenso.

“(...)Catarina e Nevoeiro viveram intensamente o amor que juraram um ao outro, foram bastante apaixonados (...)." (LIMA, 2013)

Acreditamos que a cada parada, os casais cangaceiros se entregavam ardentes, pois tinham apenas instantes para isso, entre uma carreira e outra por dentro da caatinga.

Em uma dessas paradas, deu-se um tiroteio contra uma volante e o cangaceiro Nevoeiro é abatido. Deixando sua amada sozinha, sem seu amor, porém, um fruto estava a gerar-se em seu útero. Fruto de tão alucinada paixão.

Havia uma determinação nos grupos cangaceiros de que mulher não podia viver sem companheiro. Aquela que teimasse em seguir sozinha, após perder seu companheiro, era condenada a morte. Essa determinação era para que, se fossem pegas elas não revelassem aos perseguidores as localidades onde faziam seus acampamentos, coiteiros e fornecedores.

A barriga de Catarina começa a crescer, dificultando sua locomoção dentro do mato, nas inúmeras fugas que tinham que fazer. Pensando na criança em seu ventre, e na sentença de morte que poderia a qualquer momento ocorrer, ela dá uma escapada e entrega-se as autoridades.

“(...) A entrega aconteceu na fazenda Patamuté, em Macuraré, ao tenente Zé Soares (...)”.(Ob. Ct.)

Com toda certeza ela sabia que tiraria cadeia, após se entregar. Mas, estava pensando naquele ser que já mexia-se bastante dentro dela. Porém, ao ver o avançado estado de gravidez, o oficial não permite que a mesma seja encarcerada. Aluga uma casa e a coloca para morar.

No meado de 1937 ela dá a luz a uma menina, a qual recebe o nome de Alzira Maria da Conceição.

Ao passarem sete dias de ‘resguardo’, Catarina é transferida para a cidade de Água Branca, nas Alagoas. Naquele Estado, na cidade de Água Branca, o tenente Zé Soares não tem poder. Ela, perdendo essa proteção é presa e perde a guarda da sua pequena filha. Alzira ficou aos cuidados da avó Libânia e de algumas irmãs de Catarina que tinham ido acompanhando-a até aquele novo Estado. Uma das irmãs, levava a pequenina Alzira para que sua mãe a alimentasse com o leite de seus seios.

“(...) Sabina era a irmã de Catarina, responsável de levar a criança todos os dias para ser alimentada através das grades da cadeia, um grande martírio para aquela mãe que pagava o preço de ter pertencido ao grupo que seguia o famigerado Lampião (...).” (Ob. Ct.)

Passa o restante do ano de 1937. Já em meados do ano de 1938, Lampião é abatido na grota do riacho Angico, em terras sergipanas. Segundo pesquisadores, mesmo estando ainda presa, a notícia entristece, mais ainda, a cangaceira Catarina, que outrora fora companheira do cangaceiro Nevoeiro.

Depois de alguns meses, após a morte do “Rei dos Cangaceiros”, Catarina é colocada em liberdade. Tendo sua filha, sua mãe e suas irmãs ao seu lado, a ex-cangaceira retorna à sua terra natal.

As perseguições aos cangaceiros continuam com muito afinco. Catarina tem notícias de que, mesmo aqueles que cumpriram pena por terem pertencido ao cangaço, estavam sendo mortos. Então toma os devidos cuidados, e um deles é alterar a data de seu nascimento.

“(...) Catarina fugiu para Paulo Afonso(BA), ocultando o seu passado e tentando ser esquecida. Para recomeçar uma nova vida, ela alterou em dez anos sua data de nascimento, passando de 10 de agosto de 1915 para 05 de julho de 1925 (...).” ( Ob. Ct.)

Depois de longos e árduos anos, Catarina recomeçou sua vida com outro companheiro. Casa-se com o Sr. Manoel Medrado da Silva, em 1º de julho de 1972. Casamento oficializado pelo Juiz de Direito Dr° Kleber Vaz Sampaio.

A ex-cangaceira foi a óbito às 13:30 horas do dia 24 de fevereiro de 1993, em sua residência, na avenida Joana Angélica, na cidade de Paulo Afonso, BA.

Fonte/foto LAMPIÂO EM PAULO AFONSO” – LIMA, João De Sousa.

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