João de Sousa Lima, Manoel Severo e os Roteiros do Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022
Sem sombra de dúvidas a programação do Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022 trará um conjunto extraordinário de visitas técnicas de grande valor para todos aqueles que pesquisam o tema cangaço e que procuram conhecer de perto como tudo aconteceu. "Um dos objetivos do Cariri Cangaço é levar nossos convidados aos verdadeiros cenários da saga cangaceira e aqui em Paulo Afonso nossa responsabilidade aumenta em função da enormidade de locais que não podem deixar de ser visitados. Por isso estamos ao lado de nossa Comissão Organizadora do Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022 desenvolvendo a programação de maneira responsável e que possa proporcionar aos nossos convidados, um Cariri Cangaço inesquecível" ressalta o presidente da Comissão, pesquisador João de Sousa Lima.
"Depois das visitas ao Povoado do Riacho, à Cruz de Zé Pretinho, à Vila de Dona Generosa e ao Museu da Casa de Maria Bonita, o Cariri Cangaço prepara um conjunto de visitas vitais para todos aqueles que estarão presentes ao grande Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022, começando pelo povoado de Arrasta Pé, onde nasceu a ex-cangaceira Durvinha" pontua Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.
João de Sousa e Manoel Severo no local da casa onde nasceu Durvinha
Durvalina Gomes de Sá, cangaceira nascida no povoado Arrasta Pé, recebeu o apelido no cangaço de Durvinha, nascida em 1915. Sua residência foi muito visitada por Lampião e seus sub grupos e nessas passagens, em 1930, ela já apaixonada, seguiu o cangaceiro Virgínio, depois da morte do cunhado de Lampião passou a ser companheira do cangaceiro Moreno.
Moreno e Durvinha em foto para o documentário "Os Últimos Cangaceiros"
de Wolnei Oliveira.
Quem nos conta é João de Sousa Lima: "Saindo da sede de Paulo Afonso, na direção da BR 210 chegaremos à entrada do povoado Salgadinho, situado nas margens da exuberante Serra do Padre, rendeu-se aos encantos sublimes da mais deslumbrante flor germinada em seus campos: a belíssima Lídia Pereira de Souza. Uma formosa morena de traços perfeitos e sedutores e curvas delineadamente sensuais. Lídia Pereira de Souza viria um dia a se tornar a bela cangaceira Lídia, de Zé Baiano.
Lídia era filha do modesto casal Luís Pereira de Souza e Maria Rosa Figueiredo, conhecida pela alcunha de Dona Baló, uma exímia rendeira e costureira. O Salgadinho por ser um dos lugares percorridos pelo Rei do Cangaço e seus seguidores, na época em que as andanças do capitão Virgolino atingiu seu apogeu em terras baianas, me foi bastante informativo enquanto eu realizava pesquisas para o livro: Lampião em Paulo Afonso. Por dezenas de vezes estive nesta localidade, registrando as histórias contadas pelos velhos remanescentes da luta cangaceira e neste período, uma das coisas que mais despertou minha atenção foi conhecer a casa onde nasceu a bela cangaceira Lídia, de Zé Baiano. Contra todas as possibilidades e intempéries, as ruinas ainda teimam em continuar refletindo o passado esquecido pelo tempo, local de onde saiu Lídia para acompanhar o "gorila de Chorrochó".
Ruinas da Casa da cangaceira Lídia
"No fim do ano de 1931, o cangaceiro Zé Baiano ficou doente de um tumor grande que impediu o bandoleiro de andar nas caatingas. Aí Lampião levou Zé Baiano para a casa de um antigo coiteiro chamado Luiz Pereira na localidade Salgadinho perto de Paulo Afonso. Ali o cangaceiro ficou 15 dias sendo cuidado por Luiz Pereira e dona Maria Rosa. Quando ficou curado o cangaceiro foi embora, levando Lídia, a sua filha mais nova. Lídia era uma linda menina mocinha de apenas 15 anos de idade quando deixou seus pais para acompanhar o terrível e cruel cangaceiro Zé Baiano." Manoel Belarmino.
João de Sousa Lima e Manoel Severo: Roteiros Históricos do
Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022
E continua João de Sousa Lima: "nosso outro roteiro começa pelo povoado Campos Novos distante 15 km da sede, aqui é o local onde nasceu morto e foi enterrado o primeiro filho de Lampião e Maria bonita, mais 06 km chega-se ao povoado Nambebé onde nasceram os cangaceiros Bananeira e Medalha que também veio a ser um dos grandes coitos de Lampião, seguindo chegamos ao povoado Macambira onde aconteceu a prisão do cangaceiro Passarinho, depois os povoados de Alagadiço e Serrote, local onde Lampião matou o jovem João de Clemente. Mais 2,5 km chega-se ao povoado Lagoa do Rancho local onde Lampião matou o cangaceiro Sabiá depois que esse estuprou uma moça chamada Rita, de apenas 15 anos de idade, por último chega-se na Várzea povoado que é entrada pro Raso da Catarina. A Várzea foi um dos maiores coitos de Lampião e a casa de Aristéia, onde os cangaceiros realizavam os bailes, ainda encontra-se em pé e o coiteiro Arlindo Grande é uma das fontes de informações das histórias daquele tempo."
Um dos cenários mais emblemáticos de Paulo Afonso, sem dúvidas trata-se da Lagoa do Mel, local do combate onde perdeu a vida, Ezequiel, irmão mais novo de Virgulino Ferreira: um dos mais ferrenhos combates de Lampião na Bahia aconteceu aqui em Paulo Afonso, no povoado Baixa do Boi. Nesse confronto morreu, a principio, 16 soldados e posteriormente, em fuga e perdidos, morreram mais 3 policiais. Essas terras eram pertencentes na época, a Santo Antônio da Glória do curral dos Bois. O tenente Arsênio Alves de Souza chegou ás imediações do povoado Riacho com uma volante composta por aproximadamente 20 soldados e tendo como guia os dois irmãos Aurélio e Joví, que eram fugitivos da cadeia de Glória, preso pelo inspetor de quarteirão, o senhor Pedro Gomes de Sá, pai da cangaceira Durvinha. A volante chegou ao povoado riacho no dia 23 de abril de 1931, trazendo entre seu aparato bélico uma metralhadora Hotchkiss. O primeiro contato do tenente no lugar foi com Zé Pretinho e o jovem foi forçado a seguir com os policiais. Cruzaram o terreiro de dona generosa Gomes de Sá, coiteira de Lampião e foram armar acampamento na Lagoa do Mel, um tanque construído por Antonio Chiquinho. Enquanto a policia se preparava para passar a noite na lagoa do Mel, outras fontes confiáveis de informações de Lampião se dirigiam para o povoado Arrasta-pé para avisar ao Rei do Cangaço sobre a presença dos militares nas proximidades. Lampião mandou avisar Corisco e Ângelo Roque, que estavam arranchados bem próximos e junto com eles combinaram um ataque aos soldados.
Ainda com o escuro da noite, próximo ao amanhecer, Lampião recolheu alguns chocalhos com Pedro Gomes e seguiu as veredas que davam a cesso a lagoa do mel. No coito da policia, prestes a amanhecer, o Zé Pretinho saiu com o intuito de pegar um bode para fazer parte do desjejum de todos ali. Com a escuridão se transformando em luz, os soldados ouviram o tilintar de chocalhos e imaginaram que seriam os bodes se aproximando para beber água (um dos sobreviventes desse combate, o soldado José Sabino, ordenança do tenente, relatou, anos depois, que realmente confundiram os chocalhos, achando que eram alguns caprinos se aproximando para beber água na lagoa). Na verdade eram os cangaceiros cercando o coito.
Despreocupados, os policiais sofreram um forte e inesperado ataque, uma verdadeira chuva de balas caiu sobre eles. Vários corpos caíram atingidos por balas mortais e certeiras. A dificuldade encontrada pelos soldados foi que eles cometeram um grande vacilo. A lagoa do Mel era rodeada por uma cerca de varas e eles haviam dormido dentro do cercado. Quando eles tentavam transpor as madeiras se transformavam em alvo fácil e caiam mortalmente feridos. Um exemplo dessas mortes trágicas foi a do sargento Leomelino Rocha que morreu e ficou de pé pendurado nas madeiras. Em um dos bolsos desse sargento lampião encontrou um bilhete do coronel Petro indicando alguns locais onde ele se escondia. O tenente Arsênio diante o desespero do momento, conseguiu efetuar uma rajada de metralhadora e acabou acertando a barriga de Ezequiel Ferreira. A arma depois emperrou e o tenente conseguiu retirar o percussor (ferrolho) da arma e fugiu levando a peça que deixaria a arma inutilizável. Nesse dia Lampião chorou amargamente a morte do irmão caçula e teve que enterrá-lo, com a ajuda de Antonio Chiquinho, próximo a Lagoa do Mel. Era a vida dos que viviam pelo poder das armas, que tombavam no dia a dia, pelo aço lacerante do pipocar das artilharias dos diversos grupos que traçaram as páginas do cangaço no nordeste brasileiro."
Raso da Catarina por Jurandir Lima
Um dos mais belos cenários de Paulo Afonso e que traduz sobremaneira o Bioma Caatinga é o Raso da Catarina, são trinta e oito mil quilômetros quadrados de área com ecorregião de solos muito arenosos, profundos e pouco férteis, de relevo muito plano. Apresenta Cânions na parte oeste. É a região mais seca do sertão baiano, com clima semiárido bastante quente e seco, grandes amplitudes térmicas entre o dia e a noite. A precipitação média anual é 350 mm e em algumas regiões chega a 300 mm.
Cangaceiros Gato e Inacinha
OS PANKARARÉS E O BANDO DE LAMPIÃO
Santílio Barros era o verdadeiro nome do cangaceiro Gato e não se tem na história do cangaço, outro homem que tenha sido tão sanguinário, perverso e frio como foi este cangaceiro. Era filho de Ana ( Aninha Bola) e Fabiano, um dos sobreviventes da guerra de Canudos, seguidor do reverenciado beato Antonio Conselhereiro. Era índio da tribo Pankararé. Alem de Gato, duas irmãs sua foram pro bando: Julinha, amante de Mané Revoltoso e Rosalina Maria da Conceição, companheira de Francisco do Nascimento, o cangaceiro Mourão. Mourão mesmo sendo cunhado e primo de Gato, acabou sendo morto por ele, depois que Mourão e Mormaço acabaram uma festa, acontecida no Brejo do Burgo, onde deram alguns tiros colocando a população em pavorosa fuga, Gato sendo cobrado por Lampião que pediu providências por ser o pessoal de sua família, perseguiu e matou os dois companheiros enquanto eles pegavam água em um barreiro, em um dos coitos no Raso da Catarina. Mourão deixou Rosalina grávida e desta gravidez, nasceu Hercílio Ribeiro do Nascimento, ainda vivo e residindo no Brejo do Burgo.
O Raso recebe esse nome porque seu relevo é quase toda sua totalidade, plano com vegetação rasteira e Catarina é em homenagem a proprietária da Fazenda Catarina, que existe até hoje na região. Conta a lenda, que a fazendeira lutou contra a seca, mas foi derrotada por uma nuvem de gafanhotos que devorou a plantação de milho e feijão, deixando-a em estado de loucura e sozinha até o fim da vida. Dizem que seu espírito vaga a localidade ajudando vaqueiros a encontrar animais perdidos.
Famílias dos índios pankararés habitam na entrada do cânion seco na chamada Baixa do Chico que apresenta belíssimas formações rochosas esculpidas pelo vento parecendo castelos, torre e bispo do tabuleiro de xadrez. Uma outra, lembra uma grande catedral gótica. O Raso da Catarina foi um dos maiores coitos de Lampião e seus seguidores. Vários Índios da Tribo Pankararé, residentes no povoado Brejo do Burgo, fizeram parte do cangaço. A flora predominante é de xique-xiques, mandacarus, coroas-de-frade, facheiros, palmatórias, diversos tipos de bromeliáceas, como a macambira e árvores como o juazeiro, umbuzeiro, jatobá, pereiro, A fauna é rica em variedade de aves com coloridas plumagens e pequenos animais e refúgio de algumas espécies de micos e da ararinha-azul.
CARIRI CANGAÇO PAULO AFONSO 2022
24 a 27 de Março de 2022
Paulo Afonso
BAHIA-BRASIL
Redação Cariri Cangaço
Paulo Afonso; 16 de Dezembro de 2021
https://cariricangaco.blogspot.com/2022/01/os-espetaculares-roteiros-do-cariri.html
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