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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mais um Jararaca?

Por: Marilene Araujo de Barros


Este senhor será mesmo um dos jararacas?
          
            Sou Marilene Araújo de Barros, professora aposentada da Rede Pública de Ensino Estadual de Sergipe, graduada em História e pós-graduada em Gestão Escolar. Resido na cidade de Poço Redondo-SE, desde 1983. Sou natural de Pernambuco, lá do sertão de Águas Belas, nas vizinhanças da Fazenda Nova, do lendário Audálio Tenório. Apesar da proximidade existente entre os dois estados, as atribuições no trabalho, à correria do dia-a-dia, juntamente a outros fatores pessoais, me levaram a ficar por vários anos sem rever o lugar onde nasci e vivi grande parte de minha vida, e que apesar das dificuldades existentes naquela época, a seca como exemplo, viver uma vida totalmente interiorana era tarefa bastante difícil, mas confesso, fui muito feliz naquele solo pernambucano, especialmente durante a minha saudosa infância, é que o viver naquele sertão era regado de um patrimônio cultural que não mais existe nos dias atuais e certamente nos futuros. Sou grata a Deus por ter tido o privilégio e a ventura de nascer naquele mundo, naquela época, e naquele lugar.
            Com o passar dos anos chega a minha aposentadoria e com ela a disponibilidade de tempo. Bateu-me uma vontade louca de realizar algumas viagens, especialmente para as terras de Pernambuco, priorizando as localidades em que outrora eu e minha família residimos, e foram tantas que prefiro citar em outra ocasião.

O policial Luiz e o possível ex-cangaceiro Jararaca
 
           Em dezembro de 2010, eu, meu irmão Luiz (policial civil), minha irmã Ana, minha sobrinha Lara, filha de Luiz, seguimos para Pernambuco, iríamos rever nossas antigas moradias, além de visitar velhos amigos e parentes. Confesso ter sido uma viagem deveras emocionante. Foi comovente ver a velha casa da fazenda Riacho Fundo, local de meu nascimento. Ditosa e antiga moradia sertaneja, patrimônio de meu avô Manoel de César, e posteriormente, herdade de meu pai, o saudoso e amado Zé de César.
             O Riacho Fundo, quando pertencia a meu avô, foi atacado por Lampião que desejava justiçar Manoel de César devido o mesmo ser um fiel aliado do governo de Pernambuco.

            
             Em minha meninice eu via nas portas do armazém, ao lado da casa-grande, os furos causados pelas balas cangaceiras. Após visitar a velha fazenda Riacho Fundo seguimos até a povoação Garanhunszinho, mais uma de nossas antigas moradias. Naquela localidade que parece não ter avançado e nem retraído no tempo, encontramos algo que nos chamou atenção. Em uma humilde casinha, ao lado de um armazém, nos deparamos com um senhor de provecta idade. A ele nos dirigimos e curiosos dispusemos em fazer-lhe perguntas. Surpresos, notamos que aquele ancião possuía uma memória elogiável.
             Em suas respostas o mesmo disse ter nascido no dia 13 de outubro de 1913 e se chamava Aristides Lins Maranhão, nascido lá pras banda de Bom Conselho, também em Pernambuco. Segundo suas palavras, ainda jovem, veio trabalhar na Fazenda Nova, onde tinha a proteção do Dr. Audálio. De repente, aquele velhinho fez uma declaração bombástica que nos deixou admirados e perplexos. Ele asseverou ter sido cangaceiro de Lampião, com o nome de Jararaca.
             Discorrendo sobre esta novidade, seu Aristides contou que: em uma das visitas de Lampião a Fazenda Nova, o mesmo simpatizou com ele, surpreendendo ao poderoso homem daquele sertão. O rei cangaceiro pediu que aquele rapaz o acompanhasse, pois havia simpatizado com ele, pedindo assim, permissão ao Dr. Audálio para levar consigo o seu trabalhador.

Lara, filha do policial Luiz, ao lado do
senhor Aristides, o possível Jararaca
 
           Após grande insistência, o fazendeiro permitiu a ida de seu agregado para a companhia de seu grande e fiel amigo. No entanto, disse a Lampião que a permissão seria de cinco anos e assim que terminasse esse prazo o mesmo fosse devolvido a sua companhia. Lampião concordou e lá se foi Aristides para se tornar mais um dos Jararacas. Segundo os dizeres do ancião, este acontecimento se deu por volta dos anos 30. A promessa foi cumprida. Cinco anos depois Aristides estava de volta e foi viver por muitos anos ao lado de seu tão respeitado e temido patrão. Em fevereiro de 2011 voltei a visitá-lo por mais duas vezes e a sua versão sobre ter sido o cangaceiro Jararaca não havia mudado uma vírgula sequer.

              É verdade? Não sei. Com a palavra os pesquisadores e estudiosos do cangaço.


Marilene Araújo de Barros
Poço Redondo - SE
Extraído do blog: "Cariri Cangaço" 


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