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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mossoró em 1915 - 10 de Maio de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Em 1915 o nordeste brasileiro foi assolado por uma terrível seca – a famigerada seca de quinze. E Mossoró, em pleno sertão nordestino, mas com uma boa estrutura comercial, assistia a procissão humilhante dos flagelados que haviam chegados a cidade em busca de salvação. Em registros do livro de tombo da Paróquia de Santa Luzia, eram cerca de doze mil retirantes, famintos e andrajosos que de porta em porta invocavam a caridade popular. A população local era de dezesseis mil habitantes, o que significa dizer que nesse período o número de habitantes quase que dobrou. Apesar da grande massa de flagelados, a misericórdia divina e a ajuda do povo foi tão propícia que ninguém morreu de fome. Não houve peste, correu a seca sem nenhum morbus contagioso.  Francisco Vicente Cunha da Mota, industrial salineiro e um dos chefes de importante organização comercial daquela época, havia assumido o comando da municipalidade para o triênio 1914/1916. Não obstante as dificuldades que teve de vencer, ocasionadas pela seca, a sua administração ficou marcada por uma série de acontecimentos e realizações notáveis, todas de incentivo ao desenvolvimento de Mossoró e da própria região.  

 
 Cunha da Mota era um ardoroso entusiasta do automobilismo, sendo, nesse setor, um verdadeiro pioneiro. Conseguiu fazer a primeira grande viagem de automóvel de penetração interiorana, quando até então as estradas só permitiam o trânsito de comboios e carros de boi. Partindo de Mossoró, chegou a Souza, na Paraíba, três dias depois, percorrendo trezentos quilômetros de trechos sem estradas. Ao regressar, concedeu entrevista ao jornal da terra, narrando com entusiasmo o bom êxito da pioneira jornada. 

Ficheiro:Igreja-São-Vicente-Mossoró.jpg
Foi em 1915 que se iniciou a construção da capela de São Vicente de Paula, na rua Alberto Maranhão, centro de Mossoró, com os retirantes fabricando tijolos para a construção, praticamente trocando o seu serviço por comida. O sacrifício foi tanto que inspirou o padre Manuel de Almeida Barreto, que foi professor, escritor e por duas vezes Diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, a escrever em 1 de dezembro de 1946: “Mossoroenses, quando passardes diante da Igreja de São Vicente de Paula, prestai o vosso culto, não só ao orágo do templo, como aos seus construtores, quase todos desaparecidos, já, porém, ainda mais – Rendei ao vosso preito àqueles humildes grandes, que fabricaram, de graça, o material para o citado templo.” 
Foi também em 1915 que Jerônimo Rosado iniciou a exploração das jazidas de gesso no sítio “Tapuio” em São Sebastião, atual Dix-sept Rosado. 
História: Primeira locomotiva da Estrada de Ferro Mossoró-Porto Franco, 1915.
Foi ainda em 1915, a 7 de fevereiro, num Domingo, por volta das 17 horas, que chegou o primeiro comboio da Estrada de Ferro de Mossoró, vindo de Porto Franco, sendo festivamente recebido pela população. A 19 de março do mesmo ano era feita a inauguração oficial do trecho, que foi entregue ao serviço público, com banquetes oficiais e discurso. O jornal “O Comércio de Mossoró”, em sua edição de 13 de fevereiro de 1915 registrara: “Toda a população correu à estação: eram homens, mulheres e meninos, de todas as classes e de todas as idades. O trem entrou grave e solene, devagar para não atropelar o povo que se apinhava em filas ao longo da estação, saudando-o, vibrando.” 
Esses fragmentos de história que aqui retratamos, é apenas para que as novas gerações possam conhecer um pouco do nosso passado e assim valorizar mais as coisas de nossa terra. Já dizia o Cônego Sales: “Quem não sabe amar o passado, dificilmente terá amor às tradições de sua terra e de sua gente.” 

Geraldo Maia do Nascimento
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