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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Relatos...e relatos

Por: Cicinato

Barros Alves, Vilela, Ângelo Osmiro e Cicinato

Sou pesquisador do cangaço há muito tempo e confesso que já li ou escutei muitos absurdos sobre algum aspecto ou outro ligado ao instigante tema. Como era de se esperar, as biografias dos cangaceiros mais famosos provocam as maiores polêmicas. É verdade que alguns estudiosos sérios têm se dedicado à árdua tarefa de "separar o joio do trigo", mas, infelizmente, ainda há espaço para opiniões e teses, no mínimo, estaparfúrdias. Alguns autores não gostam de mencionar fontes ou se apegam aos relatos mais frágeis, sem nenhum embasamento.
A tese do momento, a polêmica da moda, entre os interessados pelo assunto do cangaço, é a que se refere à suposta homossexualidade do cangaceiro Lampião.
Não li o livro do juiz sergipano e não sei quais as fontes que ele usou, mas pelo que já li em textos de colegas, como:
 
João de Sousa Lima,
Alcino Costa
 
e Wescley Dutra, o autor apenas deu importância a relatos desencontrados, muito mais lendas do que qualquer outra coisa. Quem estuda detidamente o cangaço sabe que o que existe em demasia, nesse campo de estudos, é a invencionice, a maledicência, o "fuxico", a fofoca, a divulgação de "estórias" sem pé nem cabeça. Em todos esses anos de estudo, não tinha observado, com exceção do livro de Joaquim Góis, alguma referência, por exemplo, a um caso amoroso envolvendo
Neném, Luiz Pedro e Maria Bonita
Maria Bonita e Luís Pedro, aspecto também mencionado na obra "O Mata Sete", a qual trouxe toda essa celeuma. Como acreditar nisso agora?
Mas há uma infinidade de outros disparates sobre cangaço e, especificamente, sobre Lampião. Querem alguns exemplos?
1) Lampião teria perambulado no Piauí (Surpreendi-me, um dia, ao acessar uma página de uma comunidade de uma rede social, com a notícia do lançamento de um livro com essa intrigante tese. Falava-se até numa batalha da Macambira, com 400 soldados contra menos de 100 cangaceiros. Ora, isso não aconteceu no Ceará no fim de junho de 1927, quando Lampião voltava de Mossoró? Será que estão aproveitando fatos ocorridos e mudando apenas os locais?
2) Lampião conhecera pessoalmente o artista Luiz Gonzaga, o rei do Baião (não há, em estudos sérios, quaisquer referências a isso, até onde eu sei).
3) Lampião procurara o coronel Horácio de Matos, na Bahia, e foi um dos seus protegidos;
E assim por diante... São inúmeros os exemplos e faria um texto muito grande se fosse enumerá-los um a um. Não sou radical a ponto de negar completamente a possibilidade de que tais fatos - ou pelo menos alguns deles - tenham acontecido. Só não consigo digerir, aceitar ou entender com facilidade o fato de que eles possam se sustentar na literatura cangaceira, porque não há provas relevantes para atestá-los, nem eles foram levados em consideração por aqueles que estudaram o assunto com responsabilidade e seriedade.
ADENDO
Amigo Cicinato:
É claro que o sol nasceu para todos nós, mas neste caso, o sol só iluminará quem realmente escreveu a verdade. Mesmo que este livro venha ser um dia liberado para a venda, são pouquinhos que o comprarão. Os que estudam o cangaço e sabem muito bem o que já foi feito, sem fantasia, sem ficção, sem imaginação sonolenta, jamais cairão nesta de adquirir um livro fantasiado e recheado de mentiras, 

A melhor maneira de acabar de uma vez por toda certas mentiras que alguns ambiciosos por valores afirmam que  aconteceram no cangaço, é a SBEC lançar um selo para ser impresso na capa de cada trabalho publicado, e ela mesma lançará  o livro do escritor e posteriormente se encarregará da venda. Não é que ela sairá vendendo, mas com o selo impresso na capa, não será mais necessário o leitor ficar na dúvida e se perguntando: Este livro tem fundamento? Seria como uma autorização para a publicação do livro. Quem não foi autorizado pela SBEC, com certeza o livro não tem fundamento. É claro que a SBEC não iria proibir ninguém lançar livros sobre o cangaço, mas sem o selo, não tem valor nenhum sobre a literatura lampiônica. O selo seria como garantia de um trabalho sério e indicado por todos escritores, pesquisadores e historiadores do cangaço. Isso no intuito de preservar a boa literatura lampiônica que nós temos, e os ambiciosos por dinheiro   não mais avacalharem a nossa literatura que tem sido feita com respeito e carinho.

Quando alguém falasse  que  lançaram um novo livro sobre o cangaço, quem o ouviu, perguntaria logo: "Tem o selo da SBEC?" Se tiver eu vou comprar, mas se não tiver eu não o comprarei... Com o selo da SBEC, viciaria o leitor só comprar livros que realmente estivesse de acordo com o tema cangaço.

Não sei se estou certo ou errado, mas essa é a minha opinião.

José Mendes Pereira
Extraído do blog do Cicinato

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