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terça-feira, 28 de maio de 2013

A música do cangaço

Por: Renato Phaelante(*)

A partir do final dos anos 40, o tema cangaço, tão divulgado pela Imprensa brasileira e também, particularmente, por violeiros, cantadores e folhetos de cordel, ganha vulto nas artes plásticas, no teatro, na literatura, no cinema e, finalmente, na música, através do disco.


Sendo, dentre os cangaceiros, o mais famoso, Lampião é, também, o mais focalizado. Além de sua fama, um outro motivo responsável por um maior enfoque de sua figura é que a sua ação se desenrola num período em que os meios de comunicação passam por um fantástico processo de desenvolvimento e ainda pela extensão de sua situação no ciclo histórico-social. É tão forte a participação de Lampião como homem do cangaço que, mesmo após sua morte, em 1938, quando esse tipo de banditismo é, praticamente, extinto, o prestígio do cangaceiro aumenta - talvez pela própria história que deixa registrada - e o fenômeno passa também a ser estudado por historiadores e elementos sociais.

No que se refere à discografia brasileira, já desde 1929 se registra a presença de um grupo pernambucano que faz sucesso no Rio de Janeiro apresentando-se com chapéus de abas largas, dobradas na frente, roupas  características dos cangaceiros, além de alpercatas similares, e se intitulam como Turunas da Mauriceia.

No ano seguinte, em 1930, quando as façanhas de Lampião se espalham e chegam ao conhecimento dos brasileiros de Norte a Sul do País, o maestro, regente e compositor J. Thomaz compõe um samba intitulado "Vou Pegá Lampião", parece que para o teatro de revista carioca, que é gravado por Castro Barbosa em disco RCA Victor, em 3 de Julho de 1931. A letra do samba é mais que um desafio, uma ameaça a Lampião, feita numa época em que ele e seu bando aterrorizam as gentes do sertão.

"Adeus Amélia
Vou decidir minha sorte
Eu vou pro Norte Vou pegá Lampião. 
Cinquenta contos
Não fazem mal a ninguém
Vamos ver se esse malandro
Desta vez vem ou não vem
Não quero nada
Nem revólver nem canhão
Vou pegá-lo à cabeçada,
Pontapé e bofetão.
Não sou criança
Ele vai virar estopa
Vou acabar com essa lambança
Lampião pra mim é sopa"

Essa, a letra de uma audácia bem humorada, de J. Thomaz, e que parece haver sido o primeiro registro em disco sobre o tema "Lampião", reproduzido em CD, recentemente, em 1994, na série Revivendo, de Leon Barg.

O cangaceiro Volta Seca

Em 1957, a gravadora Toda América, resgata em LP 10 polegadas, oito músicas sobre o cangaço, na voz do ex-cangaceiro Volta Seca e, em 1984, o jornalista e pesquisador Aluísio Falcão reúne 12 composições sobre o cangaço, algumas delas oriundas do cinema, além de um pequeno depoimento da cangaceira Sila sobre o combate  do bando, num LP que se intitula "A Música do Cangaço".

Escritora Marilourdes Ferraz

Em 1988, a pesquisadora Marilourdes Ferraz lança, com o apoio do Governo do Estado de Pernambuco e da Prefeitura de Floresta, o LP "O Canto do Acauã, reunindo na voz do intérprete Edson Rodrigues as músicas cantadas, tanto por cangaceiros quanto por soldados das volantes na época de Lampião.

Em 1989, no ano seguinte, o Instituto Nacional do Folclore, na série em disco A Arte da Cantoria, dedica o de nº 4 ao tema cangaço, nas interpretações dos cantadores-repentistas Miguel Bezerra, Ivanildo Vila Nova, Severino Ferreira, Sinésio Pereira e Antonio Aleluia. Um trabalho importante, não apenas pelo resgate dessa memória oral, como também, pelo texto-pesquisa do encarte que acompanha o disco.

Esse quatro LPs parecem ser o que de mais significativo existe na discografia brasileira sobre cangaço. Vários músicos e compositores, no entanto, debruçam-se sobre o tema e com a colaboração dos pesquisadores Fernando Spencer e José Batista Alves, conseguimos, em apenas um ano, levantar quase 100 composições dos mais diversos ritmos e intérpretes, esperando que essa relação possa vir a ser útil àqueles que buscam sempre novos conhecimentos sobre este tema.

(*) pesquisador Fonográfico da Fundaj.

Fonte:

Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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