Por Antonio Corrêa Sobrinho
A glorificação
de Lampião. Eis um dos fatos mais estranhos que ainda de se tem visto, na
imprensa carioca.
Esse bandido devasta, há anos, vastas regiões do Brasil. A soma dos seus crimes
é considerável. Ele vive pondo em sobressalto populações pacíficas. Pois bem:
depois de tudo isso estamos a ver a figura sinistra desse celerado a receber
loas e cânticos todos os dias.
Há dias Lampião teve a ventura de uma reprodução de sua fotografia em dois
jornais do Rio. E ambos, esses jornais contavam, romanceando-a quanto podia, a
história desse miserável, irmão de Antonio Silvino, pelo truanesco pavor que
semeia por onde anda.
É de recear o que já tem sido prognosticado que a lenda da bondade, da ternura
e da infelicidade se aposse definitivamente desse bandido, cercando a sua
fronte de um esplendor augusto.
Então teremos em Lampião a imagem bela e superior de um homem obrigado a ser
mau pela iniquidade da vida.
Eis o que se arriscam a fazer os nossos confrades, que tanto excitam esse
cangaceiro.
No fundo de um sertão esse assassino, esse miserável não pode imaginar que vai
crescendo a sua fama aqui no Rio, como se ele fosse um desses belos e altos
heróis das canções de gesta.
(do Jornal do
Brasil)
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Págs.: Antonio Corrêa Sobrinho
Lampião, Cangaço e Nordest
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