Seguidores

sexta-feira, 14 de março de 2014

Orgulho de ser Gaúcho



Por Alfredo Bonessi

Faz um bom tempo que gostaria de escrever  sobre algo intrigante e incompreensível para muitos que não são nascidos nas terras do Rio Grande  do Sul: o orgulho de ser Gaúcho.

Voltando no tempo, das viagens marítimas e descobertas em solo  sul americano, supremacia portuguesa  e espanhola por terras e mares nunca dantes navegados, na visão do poeta Camões, dividiram  suas conquistas pelo tratado  de Tordesilhas:  os portugueses ficaram com o litoral e os espanhóis com as terras  do interior , separados por uma linha imaginária do Oiapoque ao Chuí.

Os índios Guaranis habitavam a região sul a milhares de  anos e também o que seria  a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e a Bolívia,  e aqui no Brasil,  nos Estados do Sul, Mato Grosso,  indo até o sul da  Amazônia. Era uma só terra, uma só família, a Família  Guarani.

Os Jesuítas portugueses estabeleceram-se no litoral em agrupamentos chamados Missões, com o objetivo de catequizar os índios, explorar o Pau Brasil, e na busca de minerais preciosos como o ouro, o diamante e a esmeralda.  Nas Missões os índios viviam sem liberdade, eram escravos, não possuíam vontade própria  e eram obrigados a trabalhar naquilo que não queriam, ou seja,  na lavoura e na mineração. A cultura indígena se extinguiu por completo.

Os Jesuítas espanhóis  se fixaram  depois da linha do Tratado de Tordesilhas, a oeste,  em agrupamentos chamados Reduções, no  interior, com o objetivo de catequizar  os  índios,  manter e sustentar   a sua cultura e  aprender com eles a linguagem e os ensinamentos  que lhes eram transmitidos de gerações  em  gerações pelos seus antepassados. O objetivo não era  a exploração do índio e nem tampouco a madeira e os minerais que a terra produzia.

As Reduções prosperaram a ponto de existirem  29  Reduções na  Amazônia,  Paraguai, Bolívia e  mais de 14 Reduções no Rio Grande do Sul, Paraná e  outros estados, em um total de mais de sessenta e quatro Reduções.

Nas  Reduções Espanholas  os Índios eram livres e administravam  eles mesmos os seus redutos, como se fosse uma Prefeitura, com cargos de chefias e lideranças. O ensino passava  pelo latim transmitido pelos professores jesuítas e as manifestações culturais  iam desde o canto, o teatro,  a musica, a poesia,  chegando ao ponto de terem uma banda de musica com violinos e todos os demais instrumentos.  
  
Com o objetivo de fiscalizar o Rio da Prata, porque por ali passava a prata que vinha do Chile, Portugal funda a colônia de Sacramento.  Essa colônia  ao longo do tempo oscila entre Portugal e Espanha, mas pelo Tratado de Madri (1750) essa colônia passa a ser Espanhola e Portugal  herda  os Sete Povos das Missões em troca. Observe que houve também um período de  sessenta anos em que Portugal pertenceu a Espanha, de 1580 – a 1640 – um período de paz para a Nação Guaranítica.

A Nação Guarani não aceita o jugo Português  e se revolta, pois os tratamentos e os objetivos portugueses eram bem diferentes  dos espanhóis.  Começam as guerras guaraníticas. De um lado os invasores portugueses e espanhóis  de outro  a Nação Guarani. Os índios lutariam pela terra contra esses  invasores. Melhores armados, de armaduras, espadas e bacamartes e com muita munição  os portugueses e espanhóis levaram vantagem contra  flechas-lanças e tacapes e as Reduções foram sendo destruídas uma a uma. Os padres Jesuítas foram mortos ou aprisionados. Os que foram para a Espanha ficaram confinados em conventos, mas os que foram presos para Portugal foram torturados  e trancafiados em masmorras de onde nunca mais saíram vivos, alguns foram até fuzilados.

A enorme Nação Guarani restou  ficou fragmentada e os índios  ficaram espalhados pelo  cone sul.  Os índios guaranis se destacaram também  na defesa da cidade de Buenos Aires contra o invasor  Inglês, (1806-1807) e também  na Guerra  da Tríplice  Aliança  contra  o Paraguai, (1860),   na Revolução Farroupilha (Guerra dos Farrapos), (1835-1845) e em inúmeras outras  revoluções que ensanguentaram o solo Riograndense – tudo isso por amor  e em defesa da terra.

Já em 1815 chegam ao Sul os imigrantes Portugueses e a seguir os Italianos, Alemães, Poloneses, Ucranianos e os Guaranis se misturaram com essa gente, formando uma raça mais forte ainda, pois os imigrantes não vieram para explorar a terra, mas vieram para ficar -  o amor a terra gaúcha  aumentou mais ainda.

O índio Guarani  que era andarilho, Paisano, originou o Aragano e ao  se estabelecer em fazendas deu origem ao Xiru e ao Gaudério.

No Rio Grande do Sul não existem  fronteiras, passamos de um lado para outro como se andássemos no terreiro das nossas casas,  somos gente da mesma gente e  não há limites diplomáticos que nos separe.

Eis aí o motivo porque nos sentimos felizes  e altaneiros por  termos nascidos nessa terra abençoada que se chama Rio Grande do Sul e nos orgulhamos de sermos Gaúchos.


E o que o Papa Francisco tem a ver com tudo isso?

- Ele é Jesuíta Argentino – produto da mistura dessa boa gente.

A única coisa que está sobre as nossas cabeças é um céu azul  profundo,  coberto de estrelas,  e diariamente, com  o olhar  sobre  campos verdes  sem fim,  tentamos  pegar o sol com as mãos no horizonte infinito.   

Alfredo Bonessi é capitão e pesquisador do cangaço.
2014 -  Cruz Alta - RS

Enviado pelo o autor

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo09:49:00

    Mendes amigo, parabéns para o Professor Alfredo Bonessi pela importante aula de História através deste texto.
    Eu não sabia Mendes que o Capitão Bonessi fosse filho das Terras do Rio Grande do Sul. Confesso-lhe que muito tenho aprendido noblogdomendes.
    Abraços,
    Antonio Oliveira

    ResponderExcluir