Por Alfredo Bonessi
Faz um bom
tempo que gostaria de escrever sobre algo intrigante e
incompreensível para muitos que não são nascidos nas terras do Rio Grande do
Sul: o orgulho de ser Gaúcho.
Voltando no
tempo, das viagens marítimas e descobertas em solo sul americano,
supremacia portuguesa e espanhola por terras e mares nunca dantes
navegados, na visão do poeta Camões, dividiram suas
conquistas pelo tratado de Tordesilhas: os
portugueses ficaram com o litoral e os espanhóis com as terras do
interior , separados por uma linha imaginária do Oiapoque ao Chuí.
Os índios
Guaranis habitavam a região sul a milhares de anos e também o que
seria a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e a Bolívia, e
aqui no Brasil, nos Estados do Sul, Mato Grosso, indo até
o sul da Amazônia. Era uma só terra, uma só família, a Família Guarani.
Os Jesuítas
portugueses estabeleceram-se no litoral em agrupamentos chamados Missões, com o
objetivo de catequizar os índios, explorar o Pau Brasil, e na busca de minerais
preciosos como o ouro, o diamante e a esmeralda. Nas Missões os
índios viviam sem liberdade, eram escravos, não possuíam vontade própria e
eram obrigados a trabalhar naquilo que não queriam, ou seja, na
lavoura e na mineração. A cultura indígena se extinguiu por completo.
Os Jesuítas
espanhóis se fixaram depois da linha do Tratado de
Tordesilhas, a oeste, em agrupamentos chamados Reduções, no interior,
com o objetivo de catequizar os índios, manter
e sustentar a sua cultura e aprender com eles
a linguagem e os ensinamentos que lhes eram transmitidos de
gerações em gerações pelos seus antepassados. O
objetivo não era a exploração do índio e nem tampouco a madeira e os
minerais que a terra produzia.
As Reduções
prosperaram a ponto de existirem 29 Reduções na Amazônia, Paraguai,
Bolívia e mais de 14 Reduções no Rio Grande do Sul, Paraná e outros
estados, em um total de mais de sessenta e quatro Reduções.
Nas Reduções
Espanholas os Índios eram livres e administravam eles
mesmos os seus redutos, como se fosse uma Prefeitura, com cargos de chefias e
lideranças. O ensino passava pelo latim transmitido pelos professores
jesuítas e as manifestações culturais iam desde o canto, o teatro, a
musica, a poesia, chegando ao ponto de terem uma banda de musica com
violinos e todos os demais instrumentos.
Com o objetivo
de fiscalizar o Rio da Prata, porque por ali passava a prata que vinha do
Chile, Portugal funda a colônia de Sacramento. Essa colônia ao
longo do tempo oscila entre Portugal e Espanha, mas pelo Tratado de Madri
(1750) essa colônia passa a ser Espanhola e Portugal herda os
Sete Povos das Missões em troca. Observe que houve também um período
de sessenta anos em que Portugal pertenceu a Espanha, de 1580 – a
1640 – um período de paz para a Nação Guaranítica.
A Nação
Guarani não aceita o jugo Português e se revolta, pois os
tratamentos e os objetivos portugueses eram bem diferentes dos
espanhóis. Começam as guerras guaraníticas. De um lado os invasores
portugueses e espanhóis de outro a Nação Guarani. Os
índios lutariam pela terra contra esses invasores. Melhores armados,
de armaduras, espadas e bacamartes e com muita munição os
portugueses e espanhóis levaram vantagem contra flechas-lanças e
tacapes e as Reduções foram sendo destruídas uma a uma. Os padres Jesuítas
foram mortos ou aprisionados. Os que foram para a Espanha ficaram confinados em
conventos, mas os que foram presos para Portugal foram torturados e
trancafiados em masmorras de onde nunca mais saíram vivos, alguns foram até
fuzilados.
A enorme Nação
Guarani restou ficou fragmentada e os índios ficaram espalhados
pelo cone sul. Os índios guaranis se destacaram também na
defesa da cidade de Buenos Aires contra o invasor Inglês,
(1806-1807) e também na Guerra da Tríplice Aliança contra o
Paraguai, (1860), na Revolução Farroupilha (Guerra dos
Farrapos), (1835-1845) e em inúmeras outras revoluções que ensanguentaram
o solo Riograndense – tudo isso por amor e em defesa da terra.
Já em 1815
chegam ao Sul os imigrantes Portugueses e a seguir os Italianos, Alemães,
Poloneses, Ucranianos e os Guaranis se misturaram com essa gente, formando uma
raça mais forte ainda, pois os imigrantes não vieram para explorar a terra, mas
vieram para ficar - o amor a terra gaúcha aumentou mais
ainda.
O índio
Guarani que era andarilho, Paisano, originou o Aragano e ao se
estabelecer em fazendas deu origem ao Xiru e ao Gaudério.
No Rio Grande
do Sul não existem fronteiras, passamos de um lado para outro como
se andássemos no terreiro das nossas casas, somos gente da mesma
gente e não há limites diplomáticos que nos separe.
Eis aí o
motivo porque nos sentimos felizes e altaneiros por termos
nascidos nessa terra abençoada que se chama Rio Grande do Sul e nos orgulhamos
de sermos Gaúchos.
E o que o Papa
Francisco tem a ver com tudo isso?
- Ele é
Jesuíta Argentino – produto da mistura dessa boa gente.
A única coisa
que está sobre as nossas cabeças é um céu azul profundo, coberto
de estrelas, e diariamente, com o olhar sobre campos
verdes sem fim, tentamos pegar o sol com as
mãos no horizonte infinito.
Alfredo
Bonessi é capitão e pesquisador do cangaço.
2014 - Cruz Alta - RS
Enviado pelo o autor
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Mendes amigo, parabéns para o Professor Alfredo Bonessi pela importante aula de História através deste texto.
ResponderExcluirEu não sabia Mendes que o Capitão Bonessi fosse filho das Terras do Rio Grande do Sul. Confesso-lhe que muito tenho aprendido noblogdomendes.
Abraços,
Antonio Oliveira