Publicado
em 29/05/2014 por Rostand Medeiros
Rostand
Medeiros
Mês passado
viajei para a Região Central do Rio Grande do Norte, por onde não circulava já
fazia um tempo. Este setor do meu estado eu conheço desde década de 80 do
século passado, quando para ali seguia com a intenção de prestigiar ótimas
festas de vaquejada. Nestes caminhos em busca do esporte dos vaqueiros
nordestinos, muitas vezes passei pelo município de Pedro Avelino.
Atual estado da antiga estação ferroviária de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte – Foto – Rostand Medeiros
Quando
transitava por esta localidade sertaneja sempre me chamou atenção sua antiga
estação ferroviária, localizada as margens da estrada que segue para a cidade
de Afonso Bezerra. Algumas vezes parei para comtemplar aquela estação simples,
mas interessante na sua estrutura. Infelizmente nestas ocasiões não estava com
uma antiga máquina fotográfica de rolo para registrar a beleza típica e simples
daquele local.
Foto – Rostand
Medeiros
Hoje Pedro
Avelino é uma cidade com pouco mais de 7.000 habitantes, foi emancipada do
município de Angicos pelo Decreto Estadual nº 146, em 23 de dezembro de 1948,
na época do governador José Varela. Mas na segunda década do século passado o
esta cidade se chamava Gaspar Lopes e assim permaneceu até o ano de
1921. Com a chegada da ferrovia seus habitantes decidiram alterar o nome
da localidade para Epitácio Pessoa, em homenagem ao então Presidente da
República, paraibano da cidade de Umbuzeiro, Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa.
Ele foi o homem que liberou a verba para o ramal da Estrada de Ferro Central do
Rio Grande do Norte – EFCRN, ligando a pequena localidade a outras regiões do
Estado.
E não seria só
a alteração do nome original do lugar que ocorreria em decorrência da chegada
dos caminhos de ferro. Basicamente o desenvolvimento de Pedro Avelino se deve a
passagem da ferrovia por seu território e a velha estação é o símbolo maior
desta história.
Os Trilhos de
Ouro
A Estrada de
Ferro Central do Rio Grande do Norte era conhecida como “trilhos de ouro”, pois
grande parte da riqueza econômica potiguar era por ela transportada e a
inauguração da estação de Epitácio Pessoa não foi um fato qualquer. Na edição
do jornal natalense “A República”, do dia 10 de janeiro daquele ano, temos com
grande destaque a informação que a estação começou a funcionar em um domingo,
dia 8 de janeiro de 1922. Mas o evento começou ainda na Gare da EFCRN em Natal,
às oito horas de uma manhã ensolarada, com a partida de um trem expresso
especial em direção a nova estação. Na composição seguiram o então governador
potiguar Antônio de Souza, o vice-governador Henrique Castriciano, o chefe de
polícia Sebastião Fernandes, o desembargador Hemetério Fernandes, o juiz
seccional Teotônio Freire, muitas outras autoridades e a banda de música do
Batalhão de Segurança, que ao longo do trajeto foi tocando para animar os
presentes. Tudo foi organizado por João Benevides, o diretor da Estrada de
Ferro Central do Rio Grande do Norte.
O trem
especial seguiu por Pureza e Taipu, realizando uma parada as 10:45 na pequena
povoação de Baixa Verde, atual município de João Câmara. Ali, na pousada de
Getúlio Costa, ocorreu o almoço dos viajantes. Depois a comitiva saiu pelas
poucas ruas do lugarejo, indo visitar a feira da cidade, que na época ocorria
em um grande barracão.
Na sequência
da viagem o trem passou por Jardim, atual Jardim de Angicos, onde embarcou o
coronel Miguel Teixeira, sua esposa e filhos. Vale ressaltar que a mulher do
coronel era Luiza Alzira Soriano Teixeira, que em 1928 seria eleita a primeira
prefeita no Brasil, justamente na cidade de Lajes, onde o trem especial
realizou a última parada antes do seu destino.
Estação
ferroviária de Lajes – Fonte – http://lajesnewsrn.blogspot.com.br/
Na sequência
do trajeto as amareladas páginas do jornal “A República” informam que, mesmo
visto a distância, deslumbrou a todos a majestade e imponência do Pico do
Cabugi, certamente o mais representativo acidente geográfico do Rio Grande do
Norte.
Ao redor da
nova estação de Epitácio Pessoa estava uma grande multidão. Veio gente montado
em alimárias desde Angicos, Carapebas (atual Afonso Bezerra) e até de Macau.
Ricos, pobres, fazendeiros, trabalhadores rurais, vaqueiros com chapéus, toda
gente da região estava presente para ver a chegada da máquina de ferro. Eram
três e meia da tarde quando o trem chegou apitando ruidosamente. Girandolas
com potentes fogos de artificio estouravam no céu, vivas foram erguidos
aos visitantes que partiram da capital. Primeiro desceu a banda para tocar
hinos, marchas e dobrados, depois a comitiva.
Postal antigo
que mostra uma locomotiva alemã que foi importada para o Rio Grande do Norte e
utilizada pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte – EFCRN a partir
de 1915. Certamente esta antiga máquina passou pela estação de Epitácio
Pessoal, atual Pedro Avelino
Na estação,
pelos informes do velho jornal, durante a cerimônia ocorrida há 93 anos, o que
não faltou foram discursos e homenagens, principalmente para o então Presidente
da Republica. Pela comunidade falou Luiz Tassino de Menezes, enaltecendo a
importância da chegada dos trilhos, do trem e da estação para a economia e
desenvolvimento local. Fotos foram batidas pelo tenente João Galvão.
Simbolicamente a chave da nova estação foi entregue ao encarregado do local,
Antenor Brandão. Após os discursos, a comitiva, a banda de música e o povão
foram caminhando até o povoado, que na época ficava a 300 metros de distancia
da estação (hoje a área urbana cerca o prédio semidestruído).
Eram cinco da
tarde quando o trem partiu com a comitiva para Baixa Verde, onde todos
pernoitaram. Só chegaram a Natal às nove da manhã da segunda feira.
O povoado de
Epitácio Pessoa passou a presenciar um forte desenvolvimento, tanto na
agricultura, quanto no comércio. Com o crescimento, no ano de 1938, o
lugarejo foi elevado a distrito e dez anos depois se desmembrou de Angicos.
Pela terceira vez a pequena urbe teve seu nome alterado, passando a chamar-se
Pedro Avelino, numa homenagem prestada ao jornalista Pedro Celestino Costa
Avelino.
Descaso
Infelizmente
eu soube a poucos anos que a velha estação estava abandonada e se deteriorando.
Mas em 2013 foi anunciada por parte do Governo Federal a liberação do prédio
para a prefeitura de Pedro Avelino. Inclusive havia sido empenhado, desde o dia
25 de outubro de 2013, recursos da ordem de R$ 341.250,00, oriundos de uma
emenda parlamentar do deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), junto
ao Ministério do Turismo, para transformar o velho prédio em um Centro de
Cultural (Ver –http://www.aguasdemare.com.br/pedro-avelino-municipio-consegue-predio-da-estacao-ferroviaria-e-transformara-em-centro-de-cultura/ ).
Detalhe da
antiga estação – Foto – Rostand Medeiros
Maravilha!
Fantástico! Pois a recuperação das antigas estações ferroviárias potiguares é
de fundamental importância para a ampliação da memória histórica das
comunidades que se desenvolveram ao redor destes locais. Fruto da movimentação
proporcionada pelo transporte de pessoas e mercadorias ao longo dos trilhos e
por várias décadas.
Esperava que
ao passar pelo local encontrasse a tradicional estação renovada no seu
esplendor. Mês passado refiz este caminho. Mas aí o que ocorreu foi uma triste
surpresa!
A estação está
em situação deplorável, uma chuva mais forte e ela pode vir ao chão! Uma parte
do teto já veio abaixo, no entorno o mato vai crescendo, existe algum lixo
doméstico e o descaso é nítido. Tudo contrasta com a beleza simples da
edificação que já tinha visto anteriormente. Uma lástima!
Por uma
questão de justiça posso comentar que esta situação ocorre na antiga estação de
Pedro Avelino não é exclusiva desta cidade. Mesmo com muitas cidades potiguares
devendo sua criação, ou seu crescimento, as ferrovias. Onde as suas antigas
estações são importantes marcos de memoria local, algumas só não desabaram por
milagre.
É bem verdade
que em algumas cidades potiguares as suas antigas estações sofreram reformas e
muitos destes locais passaram a ser utilizados como centros de cultura e
memória pela população local.
Foto – Rostand
Medeiros
O que mais me
assusta – e isso sim gostaria que servisse de reflexão por parte do poder
público e da sociedade civil potiguar em geral – é o descaso com o nosso
patrimônio histórico. Sei que o assunto não é novidade, que atualmente existem
muitos outros problemas em terras potiguares, mas algumas situações de abandono
clamam por mudanças.
As nossas
antigas estações das estradas de ferro eram locais de destaque em várias
localidades. Diante do quadro atual, se nada acontecer em breve muitas vão
desaparecer. E com o fim destes locais, desaparece uma parte da memória e
história de muitas comunidades potiguares por onde passavam os trens…
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do Nordeste do Brasil, História
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Segurança, Caminhos
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Estadual nº 146, em 23 de
dezembro de 1948, Epitácio
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CASTRICIANO, Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN), João Câmara, Macau, mbuzeiro, Pedro Avelino, Pedro
Celestino Costa Avelino, Pico do Cabugi, RIO GRANDE DO NORTE, Sebastião Fernandes, strada
de Ferro Central do Rio Grande do Norte - EFCRN, Teotônio Freire, Trem, Trilhos
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2014/05/29/exemplo-de-descaso-com-o-patrimonio-historico-ferroviario-potiguar/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Historiador Medeiros: O meu bom-dia
ResponderExcluirO descaso com o patrimônio público neste nosso Brasil é geral. Quando passo em frente a velha estação ferroviária da nossa Serrinha da Bahia, fico muito triste. Aqui está sem nenhuma utilidade. Poderia ser feito o que fizeram na Estação da Grande Mossoró do meu amigo José Mendes Pereira: uma restauração para o aproveitamento na área da cultura. Como ficou bonito o prédio da Estação de Mossoró!
E não é só isto Professor Rostand. Aqui, o prédio centenário da Prefeitura está caindo aos pedaços, e quem abriga o Gabinete do senhor Prefeito e algumas secretarias, é um prédio alugado. TAMANHO DESCASO NESTE GRANDE BRASIL!
Gosto do meu País; amo a minha Terra, mas tenho muitas vezes, vergonha quando vejo a diferença para outros países e até mesmo de Estado para Estado e de Município para Município. ATÉ QUANDO PROFESSOR MEDEIROS?
Abraços,
Antonio Oliveira - E-mail: antonioj.oliveira@yahoo.com.br
Amigo Oliveira, realmente esta pergunta também me faço todos os dias. Sei que existem muitos problemas na nossa nação, mais urgentes até do que a situação desta estação. Mas acredito que a ideia de muitos políticos em deixarem o patrimônio histórico vir ao chão, tem haver com a intenção de destruir a cidadania dos seus eleitores, evitando assim a existência de cidadãos mais conscientes de suas origens, da história de suas comunidades e que cobram mais pelo bem estar do lugar onde vivem. Ao destruir a cidadania de seus eleitores, fica mais fácil para o político tocar seu "gado" para seu "curral eleitoral". Agradeço a sua mensagem e, apesar de ter um enorme respeito pela categoria, informo que não sou professor. Sou pesquisador da área de história, escritor, blogueiro e Guia de Turismo credenciado pela EMBRATUR, onde atuo com foco na área histórica da minha região, além de trabalahra como secretário geral do SINGTUR-RN. Mais uma vez obrigado pela sua mensagem.
ResponderExcluirPois é nobre historiador das Terras do Rio Grande do Norte, necessário se faz a manifestação do nosso pensamento, seja por palavras ou ações. Se muitos fizessem como faz o senhor, talvez os governantes ouvissem melhor, até mesmo por sentirem-se envergonhados.
ResponderExcluirMuito grato pelo texto a mim respondido caro pesquisador Rostand Medeiros.
Antonio Oliveira - Serrinha
Mendes amigo, é como lhe falei ontem, embora seja por poucos dias seu afastamento "compulsório" do blogdomendes, vejo a força que tem o mesmo. O nobre historiador Rostand Medeiros certamente é um cidadão ocupado, mas teve o cuidado de observar o que escrevi hoje, e hoje mesmo, atenciosamente expressou a sua opinião. Sei que nem todos são cuidadosos como ele, mas muitos o são. Assim, agradeço pela atualização do blog e desejo um rápido retorno após o restabelecimento do procedimento pelo qual você irá submeter-se.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Antonio Oliveira - Serrinha