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quinta-feira, 15 de maio de 2014

O Colégio que comeu a Rua do Desterro. Mossoró-RN.

Ginásio Diocesano Santa Luzia, anos 1940

A Rua do Desterro integrava o grupo das ruas antigas de Mossoró as quais remontavam a data de sua fundação, 1772. Esta rua, assim como muitas outras, desapareceu na poeira do tempo, existindo apenas, em páginas amareladas de livros esquecidos por seus donos em estantes desconhecidas. Detentora de uma denominação simples, dada pela maneira prática popular de classificar um local de acordo com os aspectos geofísicos ou sócio-econômico-culturais que o mesmo possuísse. Em síntese, é a denominação espontânea que o espaço sugere à imaginação humana para batizá-lo. Porém, incontáveis vezes, estas denominações  exteriorizam um pluralismo de situações que podem ser: hilárias – o Beco do Rabo da Gata, sofridas – a Rua dos Martírios, políticas – a Rua da Imperatriz, econômicas – a Rua do Comércio, profissionais – a Baixa dos Sapateiros ou a Rua do Ouvidor,religiosas – o Beco do Vigário ou a Ladeira da Misericórdia, emotivas – a Rua da Saudade ou o lazer, porque ninguém é de ferro – a Rua da Praia!. Não importa o nome do logradouro, mas sim, a escolha popular que elegeu o nome deste, pois é exatamente isto que nos dá as pistas do perfil sócio-cultural de uma comunidade. Seria salutar e econômico para a comunidade que os nobres edis não perdessem o seu precioso tempo e nem os nossos preciosos impostos arranjando nomes de pessoas insignificantes para os logradouros públicos. Está mais do que na hora dos nossos legisladores desterrarem para sempre esta servil bajulação.   

Por que a denominação de Desterro para este trecho? O que levou as pessoas a darem esta denominação? As obras consultadas não forneceram explicações, mas, levando-se em conta que no primitivo croqui da cidade, de 1772, (vide mapa abaixo) esta ruela possuía uma passagem em seu centro em direção ao norte, denominada de Estrada das Boiadas e também, de Estrada para Porto de Santo Antonio, e, como a palavra desterrar significa expulsar e/ou expatriar alguém, por castigo, da residência ou da pátria, portanto, devia ser a esta saída oficial da cidade em direção ao mar para levar alguém que iria ser desterrado. Caso, hoje, fosse aplicada esta punição para alguns integrantes do nosso Congresso Nacional, de certo haveria grande engarrafamento nesta via.

Croqui de 1772 - Origem: Raimundo Nonato da Silva.

Esta  pequena ruela correspondia o lado norte do quadrilátero da Praça da Matriz, atual Praça Vigário Antonio Joaquim Rodrigues. Os cronistas e memorialistas locais dão informes da existência desta rua até o início dos anos 1900, inclusive nos registros dos fatos do 30 de Setembro de 1883, o Memorial Daymossoroense, Câmara Cascudo cita a existência do hotel da Dona Generosa, neste local[1]. A Rua do Desterro tinha os seus limites, à leste, com a Rua 30 de Setembro, e a oeste, com à Padre João Urbano, atual Av. Gov. Dix-sept Rosado.

O pequeno trecho desta extinta rua era formado por casas humildes de pessoas simples. Raimundo Nonato, (1907-1993), em Ruas, Caminhos da Saudade, relaciona alguns moradores desta rua, em 1900, em específico àqueles próximos à Rua 30 de Setembro. A primeira casa, na esquina da praça com a Rua 30 de Setembro, era do sapateiro Joaquim Inácio; a segunda em direção à Praça da Redenção, era Júlia Bezerra, irmã do Mestre Canuto Bezerra, dirigente da banda musica, a Charanga Mossoroense; a terceira era de Dona Generosa, e a quarta e a quinta casas eram às do alfaiate Manuel Belém que uma delas mantinha a sua oficina.

Por necessidade urbanística estas casas foram repassadas à Diocese da Paraíba para que neste local pudesse ser instalado o estabelecimento de ensino, em 1902, o Ginásio Diocesano Santa Luzia, e que, tão poeticamente Raimundo Nonato sintetiza o fato:  “aquelas casas humildes, naquele recanto sem estética e fora de alinhamento definitivo, se transformariam em possantes raízes de uma frondosa árvore de cultura nas terras férteis do Rio Grande do Norte.” Durante as festividades dos 25 anos deste estabelecimento o Cônego Estevão Dantas, (1860-1929), em seu discurso fêz estas referências, “sobre aqueles pobres tetos, no recinto daquelas humildes paredes, se guardava a mais perfeita disciplina e se cultivavam as letras”. Ele ficaria bem admirado com o cultivo das letras mostrado, atualmente, nas redações do Enem. 

Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos.

[1] (Cascudo, 2001). Outras fontes consultadas: Brito, Raimundo Soares de Brito, edições 2003 e 1985; Cascudo, Luís da Câmara, edição 2001; Silva, Raimundo Nonato da, edições 1970, 1973 e 1974; Origem da imagem: Azougue.org. Provável autor da imagem, Manuelito Pereira, (1910-1980)

Postado há 24th March 2013 por Télescope

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Enviado pelo pesquisador do cangaço José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo11:00:00

    Eis aí caro Mendes, uma descrição de parte da sua Grande Mossoró, com seus 280.000 habitantes se não estou enganado.
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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