Por Antonio Correia Sobrinho
Nas minhas
andanças pelas terras sergipanas, meu nascedouro querido, a lazer ou a serviço,
às vezes me pergunto como, num estado territorialmente tão pequeno (menos de
22.000 quilômetros quadrados, o que significa dizer ser 25,76 vezes menor do
que o estado da Bahia), onde tudo é perto, e em todo canto tem gente – Lampião,
neste pequeno torrão, perambulou e delinquiu tanto e com tanta facilidade, não
sofrendo sequer um arranhão? Como pôde isso acontecer? Um estado cuja capital,
Aracaju, fica a um pulo de qualquer dos seus 75 termos, inclusive do seu
semi-árido mais genuíno, por sinal, muito pequeno, quando comparado às adustas
terras baianas, pernambucanas, por exemplo. Sertão nosso onde Lampião fez o que
quis. Coitado de Canindé, de Poço Redondo, de Glória. E pensar que este
bandoleiro não se satisfez por aí, nada disso, com os seus praticou os mais
variados crimes, destratou, feriu a dignidade e a honra de pessoas,
trabalhadoras, gente pacata, ordeira, em povoados, vilas e cidades do agreste
sergipano, região mais próxima ainda de Aracaju, e praticamente vizinha de duas
importantes cidades do interior, Itabaiana e Lagarto; um abuso inexplicável. E
pasme, o grande bandoleiro, de forma mais afrontosa ainda, como se não
existisse nenhuma autoridade neste Estado, atacou a zona da mata, uma região de
floresta, de cana, de engenhos e usinas de açúcar, municípios situados a 60, 65
km de Aracaju, quase às portas do Palácio do Governo, do Comando Militar, num
modo dizer, chegando, nestes tabuleiros, como um verdadeiro príncipe, trepado
em carro, assistindo filme; ali fez e desfez.
E aí começo a pensar que as forças volantes, baianas, pernambucanas, alagoanas
e sergipanas, do São Francisco ao Vaza-Barris, quando da presença de Lampião
por aqui, andavam por aqui, pra cima e pra baixo, não raro batendo-se umas com
as outras; que se excetue a sergipana, em seus efeitos práticos, por razões
óbvias. Dinheirama derramada em vão, porque este conjunto de forças militares
pouco ou nada inibiu o facínora nas suas ações.
Mas, se se podia enxergar e sentir o cheiro de Lampião a partir das belas e rasas praias sergipanas, dada a sua aproximação com o litoral (não acho impossível este cabra medonho ter dado uns mergulhos em Pirambu, tão próximo de Capela), não me parece ter sido, igualmente a Sergipe, tão difícil achá-lo, como muitos tentam nos passar, se realmente aqueles a quem de direito competia capturá-lo tivessem interesse, e digo isto porque todas as demais regiões por onde Lampião permaneceu e agiu, nos seus últimos 9 anos de vida, refiro-me às terras da Bahia, Alagoas e Pernambuco, porque, se bem analisado, todas elas formavam, na verdade, um único território - confluência destes estados na região do rio São Francisco - onde este cangaceiro atuava.
De sorte que, quando estes pensamentos me tomam, termino por concluir que o cangaço de Lampião foi longe demais; vinte anos foi tempo demais. Lampião demorou muito, e só morreu “quando quis”, pelo menos naquele momento.
É muito tempo, apesar de tudo ter conspirado a seu favor, além da sorte, dos coiteiros, dos que lhe protegeram de alguma forma, e o que mais quiserem dizer, para eu não concluir, agora definitivamente, que o Cangaço, notadamente o lampiônico, um banditismo mais epidêmico, inobstante causado e plenamente justificado (porque não podemos achar nem exigir que todos os que sofrem injustiças neste mundo, deva viver resignadamente), terminou por se transformar numa verdadeira indústria do crime, fomentada pelo Estado Brasileiro, utilizando-se do dinheiro do povo brasileiro e do sofrimento e sangue de muitos nordestinos. Cangaço e Coronelismo como meros instrumentos do crime organizado sobretudo de lesa-pátria.
Fonte: facebook
Postado por
Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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