Por João de Sousa Lima
PAULO AFONSO E
A SÉTIMA ARTE.
“ZÉ DO CINEMA
E O CINE VOLANTE”.
Zé do Cinema- acervo de João de Sousa Lima
Paulo
Afonso já serviu várias vezes para locações e roteiros para filmes, a cidade
respirou a sétima arte. Desde as primeiras filmagens do engenheiro da CHESF
Bret Cerqueira Lima com uma filmadora de 16 mm, hoje exposta no memorial da
empresa, passando por Osvaldo Maciel que na década de 1970 dentre várias
imagens importantes e históricas, gravando os shows dos Supermercados
Pesqueira, realizou o filme “BUSCA”, em super 8 mm, até chegar as grandes
produções como foi “ TRÊS CABRAS DE LAMPIÃO”, realizado em 1960, tendo o famoso
Milton Ribeiro como estrela principal. O filme contou com a participação de
vários Pauloafonsinos, como exemplo a atuação de Horácio Campelo. Também
o Lampião e Maria Bonita, realizado pela Rede Globo, um seriado que fez muito
sucesso no início dos anos 80.
A
cidade teve seu auge cinematográfico com a chegada de vários cinemas. No início
as projeções foram realizadas por Zé Aprígio (pai de Nelson da Eletrolux). Zé
Aprígio passava filmes nas cidades e nos povoados circunvizinhos e depois
passou a exibir filmes na Casa de Hóspedes da CHESF, sendo que cada pessoa
levava seu próprio banco ou então teria que assistir sentado no chão.
Dentro
do acampamento da CHESF surgiram as salas de projeções nos clubes CPA - Clube
Paulo Afonso e o COPA- Clube Operário de Paulo Afonso. No COPA o encarregado de
passar os filmes era Mário Santos, Enaldo Rocha e Paulo Litó. No CPA o
encarregado era Timóteo “Gato” e o rebobinador dos filmes era Violão.
Na
Vila Poty, situado na “Rua da Frente” surgiu o Cine Paulo Afonso, construído
por Noé Pires de Carvalho. O operador era o Ramos “Sete Espigas”. Depois Noé
Pires vendeu o cinema a Fernando “Ratinho” que mudou o nome pra Cine Tupy e
quem realizava a manutenção nas máquinas e passava os filmes era seu filho
Osvaldo Santos “Ratinho”. Tempos depois Fernando Ratinho vendeu o cinema pra
Dona Sílvia e ela se associou a José Rudival, mudando o nome para Cine Palace.
O
segundo cinema foi o Cine São Francisco, situado na Rua Monsenhor Magalhães e
pertencia aos irmãos Ivinho e Ivan. O cinema funcionava em um prédio alugado a
Zuca do Moinho. Depois esse cinema mudou de endereço, indo pra Rua da Frente
(Rua Getúlio Vargas).
O
terceiro cinema foi o Cine Coliseu, um projeto grandioso construído por Cícero Lins
de Albuquerque. Um prédio com um desenho arquitetônico portentoso e que
permanece atual até hoje. O nome Cine Coliseu foi dado pelo querido e saudoso
D. Mário Zanetta. Cícero Lins comprou várias casas para poder ter o terreno no
tamanho desejado para a construção do cinema. Vários artistas de renome
nacional se apresentaram no Cine Coliseu. Lá também foi palco de grandes
descobertas musicais, novos talentos surgiram no famoso programa “Coliseu
Show”.
Luiz
Gonzaga foi um mais famosos artistas a se apresentar no Cine Coliseu, porém
passou pouco tempo como proprietário vendendo-o a Zé Rudival. O encarregado da
manutenção das máquinas era Osvaldo Ratinho e um dos “Maquinistas” era Manuel
da Locadora. Tempos depois Zé Rudival construiu no BTN o “Cine Regina”.
A
cidade respirou cinema por muito tempo. Rudival inovou com os anúncios dos
filmes. Quando foi ser projetado o filme “Django”, ele colocou uma pessoa
vestido à caráter, portando cartucheiras com revolveres, chapéu e
desfilando com um caixão de defunto pelas ruas. Quando exibiu “Se Meu Fusca
Falasse” ele transformou um fusquinha em uma réplica do fusca usado no filme.
Pra representar Sansão, Macistes, Ursos e Hércules, ele colocava um homem
forte, amarrado com pesadas correntes, desfilando em um carro e distribuindo
alguns ingressos. Era uma farra pra meninada que ia formando verdadeiro cortejo
atrás do veículo que cruzava as diversas ruas.
Muitos
homens simples também viveram da arte da projeção de filmes na região. Com os
projetores de 16 mm, que era fácil de transportar, alguns percorriam os
povoados exibindo filmes. Uma das equipes que mais viajou passando filme na
região era formada por Geraldo “Relojoeiro” e o cantor evangélico Rosenberg
Wanderley. Porém quem mais se destacou com esse tipo de projeção foi o senhor
José Bezerra da Silva, conhecido por Zé do Cinema. Durante muito tempo ele
percorreu os lugares mais
Zé
colocava um equipamento de difusora no carro e saía anunciando os filmes.
Fiquei
fascinado quando soube através de Geraldo Relojoeiro sobre a façanha de Zé do
Cinema e topei o desafio de procurá-lo pra entrevistá-lo. Depois de várias
tentativas encontrei uma filha de Zé, a senhora Ruth Bezerra Santos e depois de
ouvi-la fiquei sabendo que seu pai já era falecido mais que ainda restavam
alguns filmes que tinha sido do seu acervo e que se encontrava em posse de sua
esposa Eulina Bezerra, que residia no bairro Tancredo Neves. Com o endereço em
mãos segui ao BTN e lá pude conversar com dona Eulina. Ela acabou me vendendo o
acervo de filmes em 16 mm. Lá estavam: A PAIXÃO DE CRISTO, TARZAN “O REI DAS
SELVAS”, A MORTE COMANDA O CANGAÇO e mais algumas relíquias.
O
que mais me chamou a atenção do material de dona Eulina foi o acervo
fotográfico onde mostrava vários momentos do “Cine Volante”. Em uma das fotos
vemos uma Belina branca com três cornetas difusoras e um letreiro colocado em
uma base no bagageiro que dizia: CINE VOLANTE APRESENTA TARZAN. Logo abaixo, na
lateral do carro, outra propaganda escrita dizia: CINEMA AINDA É A MELHOR
DIVERSÃO.
O
mesmo sistema foi montado por Zé do Cinema também em uma Rural e depois em uma
caminhonete Toyota.
Esses
homens escreveram uma página na história do cinema de Paulo Afonso, aqueles
tempos áureos quando a Sétima Arte era uma diversão encantadora, Paulo Afonso
foi agraciada por diversas películas que emocionavam e alegravam, hoje, quando
os tempos mudaram, a cidade fechou suas salas de projeções, transformando em
prédios comerciais e igrejas. Em outros lugares, o cinema continua emocionando,
trazendo lágrimas e alegrias. Aqui nos contentamos com os depoimentos saudosos
dos homens que operaram as máquinas e causaram a alegria de multidões...
João de Sousa
Lima
Historiador e
Escritor
Paulo Afonso,
25 de março de 2014.
Reportagem
para o Jornal Folha Nordestina - Antonio Galdino.
Cine
Coliseu- Acervo de João de Sousa Lima
Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima
Postado por: Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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