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sábado, 9 de julho de 2016

OUTROS DOMINGOS NAS RUAS DE POMBAL

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo


O banho no Rio os saltos dos galhos das ingazeiras, o arrubacão e a cachaça a nos areias do Piancó, era uma instituição que o povo de Pombal não abria mão.

Pela manhã a procissão de meninos e adolescentes e homens-feitos, carregando câmaras de ar de caminhão, panelas para fazer arrubacão, garrafas de cachaça, violões e varas de pescar, passavam de frete a minha casa, viravam a direita na esquina da casa de seu Godô e a esquerda na casa de seu e Joaquim, pegavam o grande corredor que ia dá no rio Piancó, só voltando no final à tarde, em procissão de trôpegos: - era a lazer, o divertimento e a forma de se preparar para a dura semana que começava.


Vida ruim de menino pobre, já com doze anos, viciado nas Matinês de Tarzan do Cine Lux e nos brinquedos da Festa do Rosário que se aproximava, observava aquele movimento de pessoas de vida simples e difícil que dependia, para sobreviver ou para se divertir das águas do velho Piancó.


Eram agricultores, vendedores de areia para construção civil, de água potável e ainda uns poucos que tiravam o seu sustento através da pesca dos parcos peixes que ainda se podia encontrar por ali.


O meu sonho era bem menor: esperar a chegada do mês de outubro que trazia a nós a Festa do Rosário com ela o Parque Maia e seus Carrosséis com suas luzes coloridas, a Montanha Russa e os jogos de azar os Carroseis e Monga: a mulher que vira macaco.


Jogar uma moeda entre as pernas da boneca "Terezão", e ouvi-la cantar "Baile da Gabriela" e "Como tem Zé na Paraíba"; acertar um tiro com a espingarda de chumbinho bem no umbigo do Pelé, para fazê-lo chutar a bola, e assim ganhar um prêmio, era um sonho sonhado durante todo o ano.

Tudo isso era tão perto e ao mesmo tempo tão distante já que, para tanto, tínhamos que ter dinheiro.

Mas, eu nunca me dei por vencido. Pedi ao meu pai que fizesse um carrinho de mão para eu pegar feira. A incumbência de fazer ficou por conta de mestre Lauro, que era carpinteiro e tinha uma marcenaria no prédio que foi do meu avô, vizinho ao Edifício Maringá. A marcenaria também era um lugar dos desocupados jogar conversa fora, enquanto mestre Lauro trabalhava.


Quinha, filho de Zuza Nicácio dono do Imperador das Novidades, local onde se realizavam, nos anos sessenta, bingos de utilidades domésticos, observava o trabalho de mestre Lauro, quando ele percebeu que estava escrito na caixa que o mestre desmanchava para fazer o carrinho, a seguinte frase – Maçã: Made In Argentine – Pergentine, 15 dúzias. Ele enfiou a mão no bolso, pegou uma moeda e falou:

- Caba de Félix, vá ali no Barraco de Zé de Lau e jogue tudo no Jacaré. Se acertar, a metade é seu para você rodar na Roda Gigante até vomitar os bofes.


Olhei para o meu pai, como não houve censura da sua parte, o que não era comum em se tratando de jogo de azar, fiz o mandado.

Naquela mesma tarde meu pai me informou o resultado do bicho.

- Jacaré!

Sai nas carreias, encontrei Quinha no Imperador das Novidades, muito bem sentado. Cobrei a minha parte do prêmio, como ele havia prometido na naquela manhã. Mas ele não cumpriu com a sua palavra e, mais uma vez o meu sonho de brincar nos Parque Maia se transformou em poeira ao vento.

E como na música, “Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei, mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo”.

Eu tive que montar outros cavalos imaginários senão o do carrossel do parque Maia e quando volto a Pombal, já homem-feito, não mais encontro o Parque Maia com seus Carrosséis, Terezão, Muler que Vira Macaco e a Rodas Gigantes, onde eu possa rodar até vomitar os bofes, como disse Quinha de Zuza Nicácio.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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