Por Antonio Neto
Este é mais um artigo escrito sobre o cangaço, cujo texto está fundamentado nos
autos do processo-crime instaurado pela justiça de Pernambuco contra Virgolino
Ferreira, vulgo Lampião, e seu grupo, pela acusação de assassinato no lugarejo
de Sitio dos Nunes no município de Flores, sertão de Pernambuco.
Consta dos
autos que, no dia 25 de janeiro de 1928, por volta das 18 horas, no lugar Sitio
dos Nunes no município de Flores, um grupo de bandoleiros chefiados por
Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião e Sabino Gomes tomaram a casa do senhor
Simplício Oleiro, onde se encontrava hospedado de passagem o cidadão Antônio
Marinho, juntamente com dois filhos menores de idade.
O inditoso
cidadão em conversa com os bandidos, revelou que vinha de Buique, onde morava e
seguia com destino à cidade de Triunfo e, inocentemente, supondo tratar-se de
policiais da Força Pública do Estado, disse que tinha o desejo de sentar praça
para combater os cangaceiros e dar surra em ladrão. Nesse instante, o bandido
Sabino Gomes sacou de sua pistola mauser e, a queima roupa detonou um tiro
certeiro na boca do infeliz que tombou ferido no chão. Os foras de lei achando
pouco o que fizeram com aquele pobre homem indefeso, dispararam mais dois tiros
sobre o seu corpo: um de rifle e outro de fuzil mauser, tudo diante dos olhos
dos dois filhos menores da vítima. Uma atrocidade sem tamanho para aquelas
crianças. Um ato abominável e desumano que confirma o que escreveu Optato
Gueiros, em seu livro “Lampião. Memórias de um Oficial Ex-comandante de Forças
Volantes“, onde afirma que “Lampião era um homem de índole cruel,
verdadeiramente tigrina”.
Em depoimento
à justiça, a testemunha Joaquim Nunes de Lima, afirmou que o grupo de Lampião,
composto por 14 cangaceiros, matou friamente Antônio Marinho no lugar Sitio dos
Nunes, entretanto nem todos tiveram os seus nomes identificados.
Embora, no
inquérito policial, tenham sido indiciados Virgolino Ferreira da Silva, vulgo
Lampião, Sabino Gomes e todos do seu grupo, o Promotor Público da Comarca de
Flores, Severino Correio dos Anjos, denunciou apenas Virgolino Ferreira da
Silva, vulgo Lampião, Sabino Gomes, José Pretinho, Félix Caboge e os indivíduos
conhecidos por Mariano e Moreno.
O corpo da
vítima foi sepultado no dia seguinte, 25/01/1928, no cemitério daquela povoação
e seus filhos tristonhos e inconsoláveis retornaram para a cidade de Buique,
chorando a perda de seu pai.
Após a
consumação do trágico assassinato, o bando de cangaceiros saiu dali como se
nada tivesse de acontecido, uma vez que esse crime foi apenas mais um no
currículo sangrento do Rei do Cangaço.
As testemunhas
arroladas no processo, ainda disseram que o grupo de Virgolino Ferreira, o
Lampião, logo que saiu do povoado de Sitio dos Nunes, ali perto, na Fazenda
Mulungu tomou sete burros de uns almocreves e uma sela pertencente a Juvenal
Duarte.
Esse crime,
como tantos outros praticados por Lampião e seu bando, além de ser uma página
triste do processo em questão, manchou de sangue, mais uma lauda da biografia
do Virgolino Ferreira da Silva e marcou para sempre a história de Sitio dos
Nunes.
Fonte:
Memorial da Justiça de Pernambuco. Pasta. Flores, 1928- Andar 1º/estante
17/face 01/prateleira 03/Cx. 369.
Do blog: Redação Caderno 1
Por: Antônio Neto
Antônio Neto é
escritor, pesquisador, biógrafo e poeta.
Adquiri no acervo do pesquisador José
João Souza - OFÍCIO
DAS ESPINGARDAS
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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