Seguidores

quinta-feira, 1 de junho de 2017

ANTES DA BATALHA NA SERRA GRANDE! Parte I


A batalha da Serra Grande, novembro de 1926, deu-se numa elevação geográfica no município de Calumbi, PE, antes São Serafim, e é considerado o maior entre as Forças Públicas dos sete Estados por onde o “Rei do Cangaço” estendeu seu reinado sangrento. O bando de cangaceiros chefiados por Virgolino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião. A Batalha da Serra Grande qual se torna, na historiografia cangaceira, a maior derrota da Força Pública contra bandos de cangaceiros em toda a História do Fenômeno Social Cangaço, que teve seu princípio nos idos de 1756, com o famigerado Cabeleira, na Zona da Mata pernambucana e seu término no fim da primeira metade de 1940.

Lampião preparou o local para o combate, tendo feito ao mesmo tempo, anteriormente, várias visitas e montado acampamento. Nela, na Serra, ele conhecia onde se encontravam os ‘tanques naturais’, pias para alguns e ‘caldeirões’ para outros (buracos enormes, naturais ou feitos pelo homem, nas grandes rochas, lajes, onde se acumulam água das chuvas e permanecem por vários meses retendo o líquido precioso num ambiente hostil, desabitado e desértico, servindo de fonte para os homens e animais daquele habitat, terminando por escolhê-lo para uma brigada contra as volantes após ter vindo do Juazeiro do Norte, CE, em meados de 1926 com a patente de capitão do Batalhão Patriótico, força Federal criada em vários Estados nordestinos para combater os “Revoltosos”, a Coluna Prestes. Conseguindo formar um grande bando, cerca de 120 homens, mais ou menos, onde, depois, de algum tempo, ao longo de algumas ‘visitas’, ter mando que fossem construídas trincheiras de pedras na íngreme elevação da Serra.

Essas trincheiras foram construídas da seguinte forma: a primeira em um determinado local, mais no alto, e um pouco fora da linha da primeira, a segunda, mais alto ainda a terceira... E assim sucessivamente, formando várias barreiras sucessivas, onde seus homens, ao sair de uma em direção a outra, estavam protegidos pelas pedras da que deixaram. Diferente dos homens da Força, pois teriam sempre um campo aberto em a sua frente, sem proteção para seguir com seu ataque.

Esse “monstro natural” tem uma elevação enorme. Só tendo acesso fácil por determinada posição. É nessa embocadura que ele divide seus homens deixando Luiz Pedro com alguns ‘cabras’ em um determinado local elevado, assim como seu irmão, Antônio Ferreira, o cangaceiro “Esperança”, com outra parte, em outro, estrategicamente escolhido, onde do qual poderia socorrer tanto ele e os seus homens, na sua posição principal, como a “Caititu”, alcunha cangaceira de Luiz Pedro, e os seus, caso um ou outro ficassem em desvantagem no momento do ‘fogo’.

Lampião tendo previsto o combate, e escolhido o local, espera pacientemente por uma oportunidade para realiza-lo. Notamos que a ideia do chefe cangaceiro concretiza-se depois que ele retorna do Ceará, onde fora receber a patente de capitão do Batalhão Patriótico, e, principalmente, fardamento, dinheiro e material bélico, dando aos seus ‘cabras’, maior poder e eficiência de combate.

O “Rei dos Cangaceiros” tinha uma grande ‘rede’ de informantes em todos os setores da sociedade, a qual mantinha a peso de ouro e medo. O ‘medo’ fora uma das armas mais bem usada pelo chefe cangaceiro contra a população civil, e mesmo a militar, para assegurar seus colaboradores ‘colaborando’. Em determinada data do segundo meado de 1926, Virgolino recebe a notícia que na cidade de Triunfo, PE, encontravam-se dois homens que representavam duas companhias importantes dentro do mercado financeiro nacional. Um, Benício Vieira, trabalhava representando a Souza Cruz, fabricante de cigarros e o outro, Pedro Paulo Mineiro Dias, que representava a Standart Oil Company (Distribuidora de Combustíveis ESSO). Pronto, a mosca caiu no mel, aparece à oportunidade que Lampião tanto esperava.

Junto a sua caterva, Lampião segue para o município de Triunfo, PE, e vai alojar-se na propriedade rural “Carro Quebrado”, que pertencia a seu protetor major Luca Donato. Lá chegando, ordena que um de seus homens se ‘desarrei’ por completo, depois vista roupas de paisana, e vá vigiar os dois homens na cidade serrana. Assim fez o enviado, e logo depois retorna com a notícia de que os dois desceram a serra em um automóvel. Já tendo o chefe alertado toda a cabroeira para que estivesse pronta para tudo, mesmo assim, os ‘cabras’ estavam com os nervos a flor da pele, principalmente, por a maioria não saber o que iriam enfrentar.

Lampião tinha levado parte da sua cabroeira para as terras do sítio Baixio da Carnaúba, e, quando já se aproximava o ocaso do dia 24 de novembro de 1926, escuta o ronco do motor de um automóvel. Prepara a emboscada e intercepta o veículo na estrada que ligava Triunfo a Vila Bela, hoje Serra Talhada, PE.

São pegos os dois homens. O representante da Souza Cruz, alguns autores assim citam, que levava consigo uma grande quantia em dinheiro, já o da ESSO, não tinha a mesma quantia em seu poder. Lampião mantém Pedro Paulo Mineiro Dias como preso e ordena a Benício Vieira que siga no carro até Vila Bela, procurasse os comerciantes de lá e arrecadasse a mesma quantia, ou um determinado valor em ‘contos de réis’, que tinha tirado dele para pagar o resgate do amigo, e que iria esperar por o resgate no sítio Varzinha, onde seria liberado o refém após receber o dinheiro. Assim o funcionário da Souza Cruz se dispõe a fazer.

Virgolino Ferreira sabia que assim que Benício vieira chegasse à cidade de Vila Bela e contasse para todos o que aconteceu, haveria uma movimentação por parte das autoridades, devido à importância do prisioneiro, do refém ser representante de uma empresa multinacional. Estudando os acontecimentos políticos do Estado pernambucano, naquele período, notamos que o governador de Pernambuco, Júlio de Melo, havia nomeado o major Theófhanes Ferraz Torres como Comandante Geral das Forças Volantes contra o banditismo no interior do Estado, na região do Pajeú das Flores e, com certeza, através da sua ‘malha’ de informantes, o “Rei dos Cangaceiros” estava ciente dessa nomeação, mesmo antes dela acontecer, tornando-se, segundo o pesquisador/historiador Louro Teles, um forte motivo para a preparação do embate na encosta da Serra Grande, em novembro de 1926.

“(...) o governador Júlio de Melo ( de Pernambuco), iria nomear o major Theófhanes Ferraz Torres como comandante geral de todas as Forças Volantes em operação no interior, com a missão de prender ou matar Lampião, o famoso cangaceiro resolveu se vingar e desmoralizar o comando do major e logo que ele assumiu esse cargo aconteceu o grande combate da Serra (...).”(“A Grande Batalha de Lampião” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. 1ª Edição. Pg 133. Paulo Afonso, 2017).

Notamos, nesse princípio de estudos, a forma modificada de Lampião agir. Primeiro, liberando um dos reféns com a incumbência de arrecadar entre os comerciantes e autoridades de Vila Bela uma soma muito alta e, segundo, dizendo para o mesmo onde estaria a esperar o resgate. Na verdade, Vigorlino Ferreira tinha preparado a vara, amarrado a linha e nessa, o anzol, depois estava, quando começa cedendo essas informações do local, atirando a isca para ver se a Força cairia na armadilha.

O representante da Souza Cruz sai rumo à cidade de Vila Bela, quando, ao mesmo tempo, Lampião, com o prisioneiro, e seus ‘cabras’ partem em direção contrária, procurando situar-se no pé da serra do Livramento, onde tinha deixado o restante do bando acampado e, juntando todos, seguem, deixando vestígios claros da sua passagem, por vários sítios até chegarem as margens do Rio Pajeú, no sitio denominado Carnaúba, onde foram vistos pela patriarca do imóvel rural, a qual conta para seu esposo, Antônio Vitoriano da Silva, e os dois correm e escondem-se no mato, pois não sabiam se era Volante ou cangaceiro que estavam chegando.

“(...) No sítio Carnaúba, as margens do Rio Pajeú, morava o senhor Antônio Vitoriano da Silva, vulgo Antônio Luzia. Sua mulher Ingrassa estava no terreiro quando avistou uma tropa atravessando o rio e lhe disse:

- Antoin vem muita gente armada ali. É melhor nós sair de casa, porque não dá para saber se é força ou cangaceiro.

Antônio e a esposa se esconderam no mato e os cangaceiros entraram em sua casa, roubando um par de alpercatas “Xô boi” que estava no torno e também um chapéu de couro e ainda beberam toda água que tinha nos potes (...).” (“A Grande Batalha de Lampião” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. 1ª Edição. Paulo Afonso, 2017)

Após matarem a sede, o bando segue rumando no sentido determinado pelo chefe, e continuam caminhando mesmo estando o sol se pondo. Terminam por chegarem num local chamado Alto dos Prazeres e acampam. Desmontando o acampamento na madrugada, colocando novamente o pé nas veredas. Aproveitando a escuridão e a frieza da madrugada, os cangaceiros caminham até chegarem à casa de um ex subdelegado de Vila Bela, Silvino Liberalino. Silvino tinha sido vítima do “Rei dos Cangaceiros” no passado, onde tinha tido que pagar uma quantia para escapar.

Dessa vez, devido à falta de claridade, sem saber de quem se tratava, após notar uma grande quantidade de homens em frente a sua casa, Liberalino salta para o terreiro com um rifle nas mãos perguntando quem estava ali. Na pergunta ele diz querer saber se se trata da Força ou se era Lampião. Um dos homens do bando diz tratar-se de uma Força e que a mesma estaria à caça do cangaceiro chefe, que assombrava os rincões do vale do Pajeú das Flores. O infeliz baixou a guarda e, indo pegar água no pote para dar de beber aos homens que tinham lhe pedido, coloca a arma em pé escorada na parede, nesse momento, é pego e descobre que está as voltas com o bando de Virgolino Ferreira.

Na casa, além do dono, encontrava-se um genro chamado Laurindo, os quais, sogro e genro, são insultados e agredidos. O bando encontra um bacamarte, juntando as duas armas as levam, assim como os dois homens são levados prisioneiros. Após terem comido o que estava preparado partem madrugada a dentro. Logo, logo, Lampião solta Laurindo e diz a ele que se a Força chegar perguntando por ele, que ele estaria naquela serra, aponta e mostra a Serra Grande, esperando por ela.

A horda segue caminho afora, rumo a Serra Grande. Passando na casa do roceiro “Sinhozin Estevão”, fazem a primeira refeição matinal e, em seguida rumam para a da viúva de Antônio Estevão onde roubam o que acham ter valor. Ao deixarem a casa da viúva, já pelo caminho, encontram “Zé Toinho”, meninote contando com seus treze anos, o prendem e o obrigam a mostrar o caminho para chegarem à casa de Zé de Esperidião. Ao chegarem bem próximo à casa de Zé, Lampião divide o bando em três, ordenando que cada grupo fosse a residências de determinadas pessoas, enquanto ele mesmo seguiu para a casa de Zé.

“(...) Após localizar a residência o grupo se dividiu, uma parte foi para casa de Braz Estevão (tio de Zé Toinho), a outra foi para a casa de Agostinho Bezerra e o restante seguiu indo para o local que havia sido mostrado (...).” ( Ob. Ct.)

Naquele tempo, muitos daqueles que entraram para o cangaço, fora por questões pessoais e/ou familiares em busca de vingança, o mesmo, por inúmeras vezes, ocorriam o mesmo com aqueles que entravam na Volante para combatê-los. Na ocasião, dentre os cangaceiros de Lampião tinha um de alcunha ‘Jurema’. Esse havia passado a fazer parte do bando com o objetivo de vingar-se, exatamente, de Zé de Esperidião, por, há muitos anos atrás, Zé ter matado um parente do mesmo, ‘o velho João da Serra Negra’.

Na manhã do dia 25 de novembro de 1926, um dia antes da Batalha da Serra Grande, Zé de Esperidião tinha vindo a sua casa, pois trabalha desde bastante tempo, em outras terras de propriedade de Antônio Cazuza, para conhecer seu filho que contava apenas com sete dias de nascido. Pois bem, a esposa de Zé, dona Rosa Januária de Lima, estava a cuidar de alguma coisa fora da residência, quando... de repente, avista alguns homens armados se aproximando da casa. Ela não faz um cálculo perfeito da quantidade de homens e, achando que eram ‘apenas vinte’, relata para seu esposo. Zé, homem duro, valente e de sangue no olho, diz não ter medo nem ‘abrir’ para apenas vinte homens, seu erro fatal.

“(...) Por volta das 8 horas da manhã, Rosa Januário de Lima, esposa de José, se pronunciou:

- José, é melhor tu sair de casa que vem uns 20 homens armados ali!
José respondeu:

- Eu não tenho medo de vinte homens não!

Ligeiro pegou o rifle e um revólver, encostou-se ao pé da porta e ficou esperando a aproximação daqueles homens. Próximos do terreiro alguns ficaram esperando e apenas cinco se aproximaram (...).” (Ob. Ct.)

Lampião, raposa esperta, sabe da valentia a da disposição que Zé de Esperidião possuía. Conhecia um homem valente só em olhar. Aproxima-se com cautela, seguido por quatro ‘cabras’. O restante da cabroeira ficou no aceiro do terreiro. Lampião, de andar maneiro, apesar de manco, faz o cumprimento nordestino, dando bom dia e estirando a mão para o homem que estava a sua frente. Nesse momento, no aperto de mãos, o cangaceiro Jurema saca de uma arma de fogo curta, uma pistola, provavelmente, com a intenção de vingar a morte do velho João da Serra Negra, seu parente. Lampião não só...

CONTINUA...
Fonte Ob. Ct.
Foto Ob. Ct.
Tokdehistória.com
Google.com

https://www.facebook.com/groups/1617000688612436/permalink/1778858215760015/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário