Por Aderaldo Luciano
Em algum ano da década de 80, eu,
menino ainda, pude entrar pela primeira vez em um hotel estrelado e entender o
que era aquela possibilidade de prazeres inacessíveis a mim, mas por breve
modorna, ali sob a mira de meus olhos. O Hotel Bruxaxá, plantado em um minarete
da serra, dando para o vale eterno que nos levaria a João Pessoa, era o símbolo
de nossa pujança, da pujança cultural do que foi a "terra da
cultura", Areia, no brejo paraibano.
Nas paredes de seu saguão,
devidamente enquadrado em metal e vidro, estava um poema de Carlos Pena Filho,
com pranchas desenhadas por Wilton de Souza, dispostas as pranchas uma ao lado
da outra de forma que por toda a parede podíamos ler o poema como em frames
cinematográficos. Nunca esqueci os versos, nem os desenhos. Tentei decorá-los
para cantar na viola. Naqueles tempos, eu não sabia que aquilo era uma
publicação, era um livro cujas páginas se transformaram em quadros.
O Hotel Bruxaxá foi sugado em
toda sua beleza, tudo que produziu foi chupado para o nada. O prédio continua
lá, amarrado numa pendenga judicial, abandonado ao mato, sujo e soterrado.
Quando o amigo Luiz Fernando Prôa postou em seu perfil o resgate dessa obra
Episódio Sinistro de Virgulino Ferreira, prestes a ser jogada no lixo, as
imagens vieram de todo em minha cabeça e revivi toda a emoção do dia em que,
ainda menino, como disse, li nas paredes do Bruxaxá tão bela obra.
Que estrada é essa que nos leva
sempre ao reencontro? Pedi ao meu sobrinho, Lourivaldo Bernardo, digno cidadão areense, ainda residente
na cidade, que conseguisse fotografar o espólio do hotel onde estivessem essas
pranchas, agora com sua história completa para mim. E ele o fez.
Graças ao Luiz
Fernando e a Lourivaldo, fecho a porta de um galpão aberto há 32 anos. Nesse
galpão aconteceu meu primeiro encontro com Carlos Pena Filho e Wilton de Souza.
O nosso desastre cultural nos servirá algum dia para a consciência crítica.
Aderaldo Luciano
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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