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quinta-feira, 8 de junho de 2017

HOTEL ESTRELADO

Por Aderaldo Luciano

Em algum ano da década de 80, eu, menino ainda, pude entrar pela primeira vez em um hotel estrelado e entender o que era aquela possibilidade de prazeres inacessíveis a mim, mas por breve modorna, ali sob a mira de meus olhos. O Hotel Bruxaxá, plantado em um minarete da serra, dando para o vale eterno que nos levaria a João Pessoa, era o símbolo de nossa pujança, da pujança cultural do que foi a "terra da cultura", Areia, no brejo paraibano.



Nas paredes de seu saguão, devidamente enquadrado em metal e vidro, estava um poema de Carlos Pena Filho, com pranchas desenhadas por Wilton de Souza, dispostas as pranchas uma ao lado da outra de forma que por toda a parede podíamos ler o poema como em frames cinematográficos. Nunca esqueci os versos, nem os desenhos. Tentei decorá-los para cantar na viola. Naqueles tempos, eu não sabia que aquilo era uma publicação, era um livro cujas páginas se transformaram em quadros.



O Hotel Bruxaxá foi sugado em toda sua beleza, tudo que produziu foi chupado para o nada. O prédio continua lá, amarrado numa pendenga judicial, abandonado ao mato, sujo e soterrado. 



Quando o amigo Luiz Fernando Prôa postou em seu perfil o resgate dessa obra Episódio Sinistro de Virgulino Ferreira, prestes a ser jogada no lixo, as imagens vieram de todo em minha cabeça e revivi toda a emoção do dia em que, ainda menino, como disse, li nas paredes do Bruxaxá tão bela obra.



Que estrada é essa que nos leva sempre ao reencontro? Pedi ao meu sobrinho, Lourivaldo Bernardo, digno cidadão areense, ainda residente na cidade, que conseguisse fotografar o espólio do hotel onde estivessem essas pranchas, agora com sua história completa para mim. E ele o fez. 



Graças ao Luiz Fernando e a Lourivaldo, fecho a porta de um galpão aberto há 32 anos. Nesse galpão aconteceu meu primeiro encontro com Carlos Pena Filho e Wilton de Souza. O nosso desastre cultural nos servirá algum dia para a consciência crítica.


Aderaldo Luciano

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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