Por Francisco de Paula Melo Aguiar
O tempo somado
a falta de cuidado, compromisso e zelo pela coisa pública e/ou coisa do povo,
comprada e paga com dinheiro do povo, levou a extinção da Filarmônica São José,
que apresentava seus concertos para as gerações envolvidas e naturais e/ou
residentes em nosso torrão municipal e o mesmo destino está acontecendo por
vontade humana da gestão passante o uso público do “coreto” e/ou “pires” da
atual Praça João Pessoa... sic, alugado e/ou cedido a uma empresa privada ali
instalada e comercializando seus produtos... por incrível que pareça o “coreto”
ali existente é o único lugar de nossa Terra que o povo não precisava marcar
audiência para ser recebido e nem para
ser expulso...e que se encontrava de portas abertas os 365 (trezentos e
sessenta e cinco) dias do ano, que chovesse e/ou fizesse sol, não importava se
fosse de dia, de noite e/ou de madrugada... dia santo e/ou de carnaval... que
tivesse morrido um rico e/ou um pobre...branco e/ou negro... doutor e/ou
analfabeto... era a única casa cheia de gente com perfume para todos os
gostos...
(Francisco de Paula Melo Aguiar – 17/12/2017)
Para inicio de conversa passamos a
tentar definir o termo epistemologia como sendo substantivo feminino à luz do
saber culto da língua portuguesa falada no Brasil. Podemos também dizer que
filo é a reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do saber ou
conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o
sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do
processo cognitivo e/ou da teoria do conhecimento. E também podemos dizer que é
o estudo freqüente dos postulados, das conclusões e dos métodos que envolvem os
diferentes ramos do saber cientifico e/ou das teorias e práticas em geral,
desde que avaliadas em sua validade cognitiva e/ou descritas em suas
trajetórias e/ou caminhos evolutivos, seus paradigmas, caminhos, maneiras,
métodos e/ou desenhos estruturais e/ou suas relações com a sociedade e a
história e/ou teoria da ciência. E até
porque não existe apenas uma definição sobre o referido termo, tudo vai
depender das circunstâncias históricas, filosóficas e ideológicas. É até porque
é demais movediço se querer dar apenas um sentido ou definição aquilo que
costumamos chamar de coreto de uma cidade grande, pequena, vila, povoado,
lugarejo... Não importa ser uma megalópole e/ou macrometrópole, como por
exemplo, o espaço urbano de grandes dimensões em torno de São Paulo, do Rio de
Janeiro, do Recife, da grande João Pessoa, assim como também em torno de Paris,
de Nova York, etc.
Portanto, fazer tal investigação
etimológica envolvendo o termo “coreto” de uma grande e/ou pequena cidade,
requer um complexo conhecimento de teorias de cunho e espírito científico, além
de ter a mente aberta, livre de preconceitos e/ou teorias escolásticas ¹.
O termo “coreto” quer dizer que é
uma cobertura edificada ao ar livre, em jardins e praças, com a finalidade de
abrigar apresentação de bandas musicais quando da exibição pública em concertos
para a população de um certo e determinado lugar. De cantorias e de cantores,
porque quem canta seus males espantam... Faz parte da vida e do cotidiano do
povo e de sua cultura. O que não deixa de ser um lugar sempre envolvido por
festas profanas e romarias, que representam alegrias e tristezas nacionais,
estaduais e municipais. É um lugar público destinado ao povo de todas as
classes socais para manter a dialética cognitiva das noticias nacionais,
estaduais e locais. O que por si só o “coreto” é o lugar de tudo e de todos,
independentemente da classe social, da religiosidade, da ideologia política,
filosófica, sociológica, antropológica, literária, etc. Serve também de local
de amparo para todos os transeuntes da nação, do estado e da cidade, contra
chuva, sol e sereno. Serve até de abrigo diurno e noturno para quem não tem
onde por a cabeça e muito menos descansar o corpo limpo e/ou sujo das
intempéries do tempo e da vida ganha e/ou perdida diante da corrupção do corpo
e da alma de cada vivente e de seus grandes e pequenos e/ou minúsculos
governantes federais, estaduais e municipais...
O povo vive feliz ao mesmo tempo em
que vive infeliz, tudo é muito relativo, daí porque não se deve tirar do povo o
circo, pão e vinho, por analogia ao Império Romano, o Brasil mantém os
programas sociais: bolsa escola, bolsa família, vale gás, minha casa minha
vida, etc., tudo isso é filme que já foi passado no cinema, na televisão e na
internet, antes de tais redes sociais e de comunicações existirem na fase da
terra, nem por isso tais informações não deixaram de ser transmitidas de
geração em geração via o boca a boca do povo.
O Brasil foi “achado” e/ou
“descoberto” pelo Império Português, não importa qual a teoria da fundação de
nosso país, importa que ele existe de fato e de direito. O “coreto” é uma
instituição pública encontrada praticamente em todas as povoações e cidades de
Portugal, principalmente perto de igrejas e/ou capelas nos centros urbanos. É
um ambiente usado para festas políticas partidárias, religiosas, culturais,
etc. Isso é inegável. Talvez tenha sido esse o costume de nossa gente ter
herdado culturalmente de Portugal em ter um “coreto” em quase todas as cidades
do Brasil afora. E até porque é o local de se botar o papo político, social, familiar,
religioso e da própria vida alheia em dia...
O Rio de Janeiro continua lindo,
assim como é lindo o seu primeiro “coreto” inaugurado em 21 de junho de 1903,
na famosa Praça XV de Novembro, em pleno centro da cidade maravilhosa, local de
grandes concertos musicais desde sua instalação, a exemplo da apresentação da
Banda de Música da Marinha do Brasil.
Outros afirmam de que o termo
“coreto”, vem da Itália que o escreve assim “coretto”, dando inclusive sentido
ao surgimento significativo de que também pode ser chamado de “tribuna”, algo
também parecido com o “coro da igreja”. É por esse motivo que tem muita gente
que defende a ideia de que o termo “coreto”, tem origem no termo “coro”,
adicionado o sufixo diminutivo “eto”, o que quer dizer pequeno coro.
Desde criança que aprendemos com
nossos pais, avós, parentes e professores de que o “coro” de uma igreja é
formado por um estrado e/ou seja uma parte alta, simbolizando uma espécie de
“palanque”, em cujo local, os padres, os membros das congregações religiosas,
os seminaristas futuros padres, faziam suas rezas e/ou orações diurnas e
noturnas. É também o local reservado, mais alto e/ou de destaque nas igrejas
grandes e/ou pequenas pelo mundo afora para tocar e cantar, por isso o “coro” é
o local mais alto da igreja é também assim chamado o conjunto de pessoas que
tocam e cantam nas celebrações litúrgicas.
Portanto, temos o “coro” local de destaque para cantar e tocar, e o
“coro” de pessoas que cantam e tocam... A música é a única língua que tem
linguagem universal porque é compreendida por todos de qualquer idioma, música
é música em qualquer parte do mundo
Por outro lado, ressaltamos de que
o termo “coro” é também a zona e/ou local da igreja que tem fileiras de
cadeiras fixas no pavimento da chamada capela-mor, onde os padres se sentam
para suas orações diárias e/ou noturnas. E isso é concebível porque o termo
“khoros” é de origem grega, que passou a ser chamado de “choru” e/ou dança na
língua latina, idioma oficial da Igreja Católica Apostólica Romana.
Ao nosso modo de absolver as
coisas, apareceu e/ou teve origem ai uma espécie de luta envolvendo as
influências francesas, o liberalismo e suas ligações com a romanização
cultural.
Na língua francesa o termo “coreto”
é chamado de “Pavillon de musique”, e/ou “Tribune de musiciens”, tempos depois,
bem como a partir da literatura textual dos séculos XIX e bem assim no início do século XX, surge
também com o significado de “Kiosque à Musique”, já estivesse sendo assim usado
naquela época.
É possível de que o “coreto” tenha
surgido na Inglaterra nos meados do século XVIII, muito antes mesmo da
Revolução Francesa, onde era chamado de “bandstand” e/ou simplesmente de
“band”, significando banda e/ou orquestra de música e “stand”, como sendo tribuna
e/ou estrado público, dentre outras denominações.
Na Espanha, o termo “coreto” é
chamado de “tablado para tocar bandas de música” e/ou de “pequeno coro” e/ou de
“templete” e/ou seja diminutivo da palavra “templo”, assim como “pavilhão” e/ou
o popular “quiosque”, até então já conhecido.
Ressaltamos também de que “coreto”, enquanto o termo em língua alemã é
“musikpavillon”, no sentido de “pavilhão da música”.
E Santa Rita, a nossa querida
“Terra dos Canaviais”, das “Águas Minerais”, e “Da Cerâmica”, dentre tantos
outros títulos honoríficos de exaltação e de humilhação também, já teve sua
Filarmônica São José, que se apresentava no “Coreto” e/ou “Pires” da Praça João
Pessoa, que antes de 1932 chamava-se Praça Padre Ferreira, aquele que foi
sacerdote de Santa Rita de 1874 até seu falecimento em 1916, que exerceu o
cargo de Vice Governador do Estado da Paraíba no período de 1900 a 1904, além
de ter sido Presidente do Conselho Municipal de Intendência por diversos
mandatos. E a quebra resguardo da Prefeitura Municipal de Santa Rita e/ou
Filarmônica São José, através de décadas formou geração em seus quadros de
músicos quando a própria UFPB – Universidade Federal da Paraíba, ainda não
existia e muito menos existia curso de graduação em música na Paraíba. E o
grande palco era o “Coreto” e/ou “Pires” da praça já referida, que inclusive
com o passar dos tempos, substituiu o “coreto”, inspirado na arquitetura
européia, pela atual construção modernista de cimento armado, que ainda vem
sendo mantido pelas administrações que por aqui tem passado ao longo dos
tempos...
O tempo somado a falta de
cuidado, compromisso e zelo pela coisa pública e/ou coisa do povo, comprada e
paga com dinheiro do povo, levou a extinção da Filarmônica São José, que
apresentava seus concertos para as gerações envolvidas e naturais e/ou residentes
em nosso torrão municipal e o mesmo destino está acontecendo por vontade humana
da gestão passante o uso público do “coreto” e/ou “pires” da atual Praça João
Pessoa... sic, alugado e/ou cedido a uma empresa privada ali instalada e
comercializando seus produtos... por incrível que pareça o “coreto” ali
existente é o único lugar de nossa Terra que o povo não precisava marcar
audiência para ser recebido e nem para
ser expulso...e que se encontrava de portas abertas os 365 (trezentos e
sessenta e cinco) dias do ano, que chovesse e/ou fizesse sol, não importava se
fosse de dia, de noite e/ou de madrugada... dia santo e/ou de carnaval... que
tivesse morrido um rico e/ou um pobre...branco e/ou negro... doutor e/ou
analfabeto... era a única casa cheia de gente com perfume para todos os
gostos...
Os tempos ideológicos, educacionais,
políticos e culturais de nossa terra nas duas primeiras décadas do século XXI,
esqueceram e/ou não sabem que o “coreto” e/ou “pires”, carinhosamente chamado
por todos os santaritenses, de todos os naipes ideológicos, classes sociais e
religiosidades é “uma espécie de coro, construído ao ar livre, para concertos
musicais” ², é o cartão postal número um da cidade dormitório que estufava o
peito para aplaudir as apresentações da Filarmônica São José, durante sua
existência. É o local público e livre onde eram recepcionadas as lideranças
“perrepistas” e “liberais” nas suas idas e vindas do sertão para a capital da
Paraíba e vice versa, na década de 30 do século XX, além de ter recepcionado
dentre outras autoridades nacionais: o Presidente JK – Juscelino Kubitschek, os
governadores: Flávio Ribeiro Coutinho, Ruy Carneiro, Argemiro de Figueiredo
e por último o Senador Humberto Lucena,
então Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, dentre outras
autoridades igualmente importantes. Claro! Sem deixar de lado a disputa pelo
“coreto” pelas lideranças locais de Heraldo Gadelha, Antônio Teixeira, Egidio
Madruga, Marcus Odilon e seus
correligionários durante décadas.
O “Coreto” e/ou “Pires” da Praça
João Pessoa, no centro de Santa Rita, Estado da Paraíba, continua vivo na
memória de nossa gente assim como continua viva a Filarmônica São José, tudo
porque:
É a paixão que
garante a continuidade. É pior que futebol, porque chega ser hereditária, passa de pai para filho. Às
vezes, o filho pródigo que, se tornando profissional de uma orquestra sinfônica
ou de uma banda militar na capital, sempre volta à sua cidade natal para
participar da festa da padroeira ou de uma retreta; no coreto da praça
principal.(GRANJA; TACUCHIAN, 1984/85 apud CAZAES, 2014, p. 126)3/4
Assim sendo, corroboramos com tal
ideal de que na realidade éramos felizes e não sabíamos diante das perdas
verificadas pela extinção da Filarmônica São José e por último do fechamento para
o povo do espaço público conhecido por “coreto” e/ou “pires” da Praça João
Pessoa, no centro de nossa cidade, levando-se em consideração de que os ideais democráticos
de “igualdade, liberdade e fraternidade”, advindo da Revolução Francesa,
combinado com o principio cantado em verso e prosa de que “a praça, a praça é
do povo, como céu é do condor”, do poeta baiano Castro Alves, no bojo do poema:
“O POVO AO PODER”, declamado de improviso no dia 30 de setembro de 1866, em um
comício que defendia o ideal republicano realizado na cidade de Recife, quando
tinha apenas 19 (dezenove) anos de idade, uma verdadeira afronta ao regime
adotado pelo Segundo Império Brasileiro, motivo pelo qual o referido comício
foi dissolvido na marra e/ou força pela Polícia da Província de Pernambuco,
sendo preso o jornalista paraibano Antônio Borges da Fonseca.5/6
O coreto da Praça João Pessoa é o
principal arauto público, palanque democrático e popular da cultura do povo de
nossa Terra, ex-vi seus encontros culturais, musicais e poéticos ali realizados
em praça pública, onde o povo tem e/ou tinha acesso garantido. A mistura da massa com o erudito ali sempre
foi sempre o ponto de congruência e de convivência de nossa gente. E agora por
que não é mais? Por que o espaço físico do “coreto” e/ou “pires” está fechado
para o povo desde 01 de janeiro de 2017? Por que é mais importante o “coreto”
e/ou “pires” alugado e/ou cedido a uma empresa terceirizada do que ocupado pelo
povo? O valor do aluguel vale mais do que povo? E se vale, o povo já não o
financiou desde sua construção? Nossa gente sabe que o “coreto” e/ou “pires” da
Praça João Pessoa serviu de palco das grandes e inesquecíveis manifestações
políticas partidárias de todos os naipes ideológicos de nossa Terra, da Paraíba
e do Brasil, quando seus grandes líderes por aqui passaram em visita ao solo
que nos é comum. Ele é a testemunha viva de nossas transformações sociais, a
começar por si mesmo que deixou de ser um ambiente público e acolhedor a tudo e
a todos para se transformar em uma mera casa comercial, não importa se de
grande e/ou pequena expressão e/ou capital. Não que sejamos contra o surgimento
de casas comerciais e muito menos de sua popularização em grande escala para
oferecer empregos com abundancia para nossa gente. E até porque o município de
Santa Rita desde a conquista da Paraíba que vem ensinando o Brasil a trabalhar
em seus engenhos, usinas, fábricas e fabriquetas de fundos de quintal. O povo é
maior do que empresa de muro alto e/ou de muro baixo. Não importa o capital
para ser maior e/ou menor do que a vontade do povo livre desta terra. É que o
espaço é impróprio para a realização de qualquer tipo de atividade lucrativa
comercial, empresarial e/ou industrial, apesar de ser a vitrine da cidade amada
por todos santaritenses, inclusive daqueles que ficam em silêncio para não serem
vistos, notados e/ou perseguidos pelo Poder Público Municipal de plantão em
suas contratações de prestação de serviços diretos e/ou indiretos. O pior
pecado que pode existir para uma liderança política é fechar os olhos para
aquilo que óbvio e prejudicial a vontade popular. Mas, o “coreto” é a menina
dos olhos de nossa cidade, é o local certo e apropriado para acolher o povo no
centro da cidade para fazer suas reflexões, pensamentos, expor seus sonhos
realizados e a serem realizados. Elogiar e criticar o momento político
nacional, estadual e municipal. A esperança é a última que morre... e o povo
vive de esperança por dias melhores e
sempre.
Viva o povo santaritense!
¹ Cf.: MARONE,
Steven P. "Medieval philosophy in context" in.: A. S. McGrade, ed., The
Cambridge Companion to Medieval Philosophy (Cambridge: Cambridge University
Press, 2003); Jean Leclerq, The Love of Learning and the Desire for God (New
York: Fordham University Press, 1970) esp. 89; 238ff.
² Cf.: SÉGUIER, Jaime de. Dicionário Prático
Ilustrado. Porto/Portugal: Editora Lello & Irmão-Editores (s.d.).
3 Cf.: GRANJA,
M; TACUCHIAN, R. Organização; significado e funções da banda de música civil.
In: Pesquisa de música. Revista do Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e
Especialização do Conservatório Brasileiro de Música. Rio de Janeiro, n.1, p.
27-40, dez.1984-jan/fev, 1985, p29.
4 Cf.: CAZAES,
Melira Elen Mascarenhas No ritmo do
compasso, a melodia das filarmônicas em harmonia com o tempo : um estudo sobre
a Lyra Ceciliana e a Minerva Cachoeirana (1960-1980) / Melira Elen Mascarenhas
Cazaes. – Feira de Santana, 2014. 184 f.
5 Cf.: MELO,
Jerônimo Martiniano Figueira de, Autos do inquérito da Revolução Praieira,
1979, 465 pp.
6 Cf.: SANTOS,
Mário Márcio de Almeida, Um homem contra o Império: vita e lutas de Antônio
Borges da Fonseca, 1995, 235 pp.
(Francisco
de Paula Melo Aguiar – 17/12/2017)
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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