Por Benedito Vasconcelos Mendes
Quando estávamos passando férias escolares na Fazenda Aracati, todos os dias, eu e minhas irmãs íamos tomar leite mugido na porteira do curral. Subíamos nos paus roliços da porteira e escolhíamos a vaca para nos fornecer o leite. A ordenha terminava com o sol já alto, oportunidade em que meu avô, com os demais membros da família, iam tomar o café da manhã. De pé, na cabeceira da grande mesa, meu avô fazia um rápido agradecimento a Deus, pelo alimento que íamos consumir. Coalhada adoçada com raspa de rapadura; cuscuz de milho com leite e carne assada; tapioca de goma de mandioca, com manteiga da terra e queijo de coalho e café com leite faziam parte da farta e saborosa refeição matinal. O café era torrado em casa, em um caco de barro, sobre a trempe do fogão à lenha, com os grãos de café misturados com rapadura. Quando a pasta preta (grãos de café com rapadura) esfriava, a mistura ficava sólida e quebradiça e era pilada no pilão de aroeira. Após o café, minha avó ia para a ampla cozinha, comandar a feitura de queijo de coalho, manteiga da terra, doce de leite feito com rapadura, coalhada e nata. O doce de leite era escuro e muito gostoso.
Concomitante com a ordenha das vacas, as mulheres dos vaqueiros iam, munidas com uma cuité, para o chiqueiro tirar leite das cabras, para ser usado na alimentação de suas famílias. As mulheres dos vaqueiros que tinham poucos filhos faziam queijo de cabra para vender. Na ordenha das cabras, quando a cuité enchia, o leite era despejado e coado em um pano branco em uma panela.
Depois de tirar o leite das vacas, cada vaqueiro levava para casa, pendurados nos dedos, dois litros de vidro, cheios de leite de vaca. Cada vasilhame de vidro tinha um barbante amarrado no gogó, formando uma alça, para facilitar ser transportado.
As vacas
recém-paridas tinham seu leite esgotado, para facilitar o bezerrinho mamar e
evitar mastite, pois os peitos e o úbere ficavam inchados, o que dificultava a
amamentação do recém-nascido. Geralmente, vacas paridas ficam valentes e não
permitem que ninguém se aproxime de seu filho. Para esgotar o úbere era
necessário laçar a vaca e amarrar as patas traseiras. O colostro era dado para
os cachorros da fazenda (cachorros de pegar boi). A ordenha manual de vacas é
um trabalho cansativo, que exige prática, destemor e paciência.
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes.
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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