por Geraldo Maia |
23/02/2018
Em 1919
Mossoró era uma cidade pacata, habitada por um povo laborioso. As ruas já eram
iluminadas por luz elétrica, existia uma agência do Banco do Brasil, que desde
o ano anterior havia se instalado, já existiam três automóveis de luxo
circulando pela cidade que pertenciam, respectivamente, ao médico Almeida
Castro, Miguel Faustino do Monte e Camilo Figueiredo e a cidade contava com uma
estrada de ferro que ligava Mossoró a Porto Franco, em Areia Branca.
Circulava
o jornal “O Mossoroense”, já em sua terceira fase, que desde 1917 estava sendo
dirigido por Almeida Castro. Pelo que podemos ver era uma cidade desenvolvida,
e aparentemente tudo corria tranquilo, exceto por uma epidemia de gripe
espanhola que desde 1918 vinha vitimando várias pessoas, obrigando o Prefeito a
criar um hospital de emergência, o “São Sebastião”, que prestou grandes
serviços e também pela seca que mais uma vez assolava o Nordeste brasileiro,
enchendo as ruas de Mossoró de retirantes. Não havia, no entanto, divertimentos
na cidade. À noite, por falta de opção de lazer, as pessoas botavam as cadeiras
na calçada para um dedo de proza com os vizinhos ou com outros conhecidos, não
faltando, é claro, uma rodada de café, vez por outra, como mandava a boa
tradição sertaneja. E nessa tranquilidade, passavam-se os dias. Uma notícia, no
entanto, veio abalar a cidade, enchendo-a de alegria. É que o Circo de
Stringuini acabava de chegar no trem que vinha de Areia Branca, em cujos vagões
se vinham as armações, os mastros, rodas de arame, bichos e artistas. O
proprietário, ao que se dizia, devia ser homem importante, pois era amigo de
Seu Rosado, que na época era o Prefeito da Cidade, e que arranjou as casas para
a Companhia. Diziam que Stringuini era maçom, vindo daí a amizade com o
Prefeito, que pertencia a Loja Maçônica “24 de Junho”. O local escolhido para
armar o circo foi a Praça do Mercado. O terreno foi marcado, os arames
estirados, subiu os mastros, estendeu as lonas e dentro de três dias anunciou a
primeira função. Os números apresentados eram sensacionais, como tiro do
canhão, o salto do trapézio cego, o homem que parava o automóvel, os barristas
belgas, o voo da morte, os cavalos, os bichos, a moça do arame, enfim, uma
coisa de fazer perder o juízo. Para o primeiro espetáculo, foram selecionadas
algumas crianças para gritar o palhaço pelas ruas que em contrapartida tinham
entrada grátis para o circo, depois de ter a manga da camisa marcada com um
número. Mas a maioria das crianças davam sempre um jeitinho de pular o arame,
apesar do risco de ser agarrado pela polícia, ou pelo grupo de fiscalização,
dirigido por Joaquim Barriqueiro, figura temida por todas as crianças. O circo
era um mundo mágico. E essa magia nos remetia a algo incrível, nos fazendo
viajar na alegria dos palhaços, nas acrobacias dos malabares e na beleza das
cores. Esta arte que encanta crianças e adultos, surgiu no Brasil no século
XIX, com famílias vindas da Europa. Estas famílias se manifestavam em
apresentações teatrais. Os ciganos, vindos também da Europa, apresentavam-se ao
público, demostrando habilidades como doma de urso e cavalos e ilusionismo. As
manifestações artísticas eram de acordo com a aceitação do público. O que não
agradava, não era mais mostrado naquela cidade. Algumas atrações foram
adaptadas ao estilo brasileiro. O palhaço europeu, por exemplo, era menos
falante, usando a mímica como base. Já no Brasil, o palhaço fala muito,
utilizando de comédia sorrateira, e também de instrumentos musicais. Era comum
apresentarem atrações locais, como apresentadores de cantores e
instrumentistas, manobra essa para atrair mais gente, e para o espetáculo. A
chegada do circo de Stringuini, pelo tempo que permaneceu na Cidade, mudou a
rotina da mesma, trazendo um pouco de alegria para uma época tão difícil para
essa região.
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