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sexta-feira, 8 de junho de 2018

VISÃO GEOGRÁFICA DE HENRY KOSTER SOBRE MOSSORÓ EM 1810.

Por José Romero de Araújo Cardoso

Henry Koster era filho de um comerciante inglês radicado em Lisboa (PT), tendo nascido na capital lusitana. Devido à saúde frágil, estabeleceu-se no ano de 1809 em Pernambuco, onde se tornou senhor de engenho em Itamaracá. Falava fluentemente o português, motivo pelo qual ficou conhecido entre os nativos por Henrique da Costa. Faleceu por volta de 1820 em Recife (PE).
          
Em 1810 empreendeu viagem a cavalo, saindo de Recife em direção ao Ceará. A sete de dezembro, às dez horas da manhã, chegou ao pequeno arraial de Santa Luzia, o qual não passou despercebido à apurada visão do viajante inglês.
          
Em 1816 Koster publicou em Londres livro que compila as observações feitas durante a fantástica viagem, com título de Travels in Brazil, em dois volumes. Em 1942 Câmara Cascudo traduziu, prefaciou e comentou a obra do viajante inglês, sendo publicada pela Editora Brasiliana, de São Paulo, dando-lhe o título de Viagens ao Nordeste do Brasil.
          
Com relação a Mossoró, cujos registros Câmara Cascudo considerou o primeiro e melhor depoimento sociológico e etnográfico da região, Koster assinalou que na época constava duzentos ou trezentos habitantes, estando edificado em quadrângulo tendo uma igreja e pequenas casas baixas. O viajante inglês enfatizou ainda a dura labuta cotidiana dos sertanejos radicados no arraial de Santa Luzia do Mossoró, tendo que conviver com a ameaça de animais ferozes e com as secas.
          
No arraial de Santa Luzia, Koster reencheu garrafas de bebidas e supriu-se de tijolos de rapaduras, demonstrando que o viajante inglês estava bem adaptado à cultura local. A rapadura, obtida com o beneficiamento da cana-de-açúcar em engenhos e moagens, tornou-se um dos símbolos do Nordeste Brasileiro.
          
A igreja a qual Koster fez referência é a atual matriz de Santa Luzia, em cuja imediação é considerada por muitos como o marco zero do povoamento mossoroense. Com relação ao citado templo católico, encontramos na Wikipédia que: A primeira edificação no local foi uma capela fundada oficialmente no dia 5 de agosto de 1772. Na ocasião, o sargento-mor da ribeira do Mossoró, Antônio de Souza Machado, e sua mulher, Rosa Fernandes, receberam autorização para construir uma capela na fazenda Santa Luzia, de sua propriedade. Em 13 de julho de 1801, Rosa Fernandes, já viúva, doou o patrimônio da Capela de Santa Luzia, onde já eram enterrados os mortos da cidade desde 1773. Em 1830  foi feita uma reforma na capela, que recebeu uma imagem de Santa Luzia de Mossoró, em madeira, esculpida em Portugal.
          
Motivos históricos, como a fixação efetiva da população e a continuidade do povoamento, foram levados em conta para a fixação do marco zero ao lado da igreja matriz de Santa Luzia, pois há consenso entre àqueles que escreveram sobre Mossoró que a povoação tomou impulso histórico e geográfico a partir da construção do templo em devoção à santa italiana.
          
Polêmicas, no entanto, são enfatizadas com relação ao início da colonização e do povoamento de Mossoró, pois há registros bem antes de 1772, com a presença dos Carmelitas no Rio do Carmo.
          
Em Viagens ao Nordeste do Brasil, Koster não faz menção à existência da Missão Carmelita no rio do Carmo, talvez em razão de sua viagem não ter sido realizada contemplando efetivamente a área de fixação dos religiosos oriundos de Pernambuco, não obstante haver citação em Viagens ao Nordeste do Brasil que houve travessia do leito seco do Panema, em cujo curso encontrava-se a redução Carmelita de catequese.
          
Em todo relato enfatizado por Koster, constata-se inexpressiva espacialização geográfica no arraial de Santa Luzi e em áreas adjacentes, pois avançando em direção ao Ceará, na localidade Tibau, destacou existir esparsas choupanas de pescadores e cinco ou seis casinhas de palha no povoado de Areias.
          
A fim de dar sustentação à tese que defende o surgimento de Mossoró a partir da igreja de Santa Luzia, o escritor e historiador Geraldo Maia afirma que: O fato dos Carmelitas terem sido os primeiros habitantes da região não quer dizer que os mesmos foram os fundadores, nem tampouco que a mesma nasceu no Carmo. (...) Mossoró surgiu ao redor da Capela de Santa Luzia em 1772, erguida no pátio da fazenda do mesmo nome, nas margens do rio Mossoró, por isso ficou sendo arraial de Santa Luzia, sendo emancipada como Vila do Mossoró, em 15 de março de 1852 , através da lei número 246, e elevada ao predicamento de cidade em nove de novembro de 1870, através da Lei número 620 da mesma data, passando a ser Cidade de Mossoró como permanece até os dias atuais.
          
O escritor e historiador Geraldo Maia defende que se os Carmelitas realmente tivessem tido a primazia de ter fomentado a efetiva colonização e povoamento de Mossoró, a Cidade teria tomado a denominação toponímica de Nossa Senhora do Carmo, Carmópolis ou denominações parecidas.
          
Os escombros da antiga morada dos Carmelitas existem, visitei-os diversas vezes, motivado pelos relatos fabulosos de David Medeiros Leite, Gildosn Sousa Barreto e José Lima Dias Júnior em Os Carmelitas em Mossoró, opúsculo importantíssimo para a história local em razão que defende com plausíveis argumentos a instalação do verdadeiro marco zero do início da povoação na região do rio do Carmo.
          
A presença Carmelita no Rio do Carmo é fato histórico inegável, datando do início do século XVIII, setenta anos antes da construção da igreja de Santa Luzia, motivo pelo qual não se pode desprezar a contribuição inequívoca que a ordem religiosa prestou para a História mossoroense, havendo necessidade de se repensar a importância de se colocar placa alusiva ao fato histórico referente ao início do povoamento também na área em que se fixou a missão religiosa na terra dos Monxorós, pois a existência de dois marcos zeros não é algo possível para a localização histórica referente ao início da colonização e povoamento de um lugar.

FONTES CONSULTADAS:

Catedral de Santa Luzia de Mossoró. Disponível em .< https://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Santa_Luzia_de_Mossor%C3%B3>. Acesso em: 03 de junho de 2016.

DAVID MEDEIROS LEITE. Disponível em .< http://www2.uol.com.br/omossoroense/120504/entrevista.htm>. Acesso em: 09 de junho de 2016.

GASPAR, Lúcia. Henry Koster. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em .< http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar_en/index.php?option=com_content&id=1115>. Acesso em: 20 de julho de 2016.

LEITE, David Medeiros; BARRETO, Gildson Sousa; DIAS JÚNIOR, José Lima. Os Carmelitas em Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2002.

MAIA, Geraldo. Assim Nasceu Mossoró. Disponível em: .< http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/11/assim-nasceu-mossoro.html >. Acesso em: 05 de junho de 2016.

_______________.  Henry Koster e Mossoró em 1810. Disponível em: .< http://www.caldeiraodochico.com.br/henry-koster-e-mossoro-em-1810/>. Acesso em: 08 de julho de 2016.

_______________. Seriam os Carmelitas os fundadores de Mossoró? Disponível em: .< http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=167>. Acesso em: 09 de julho de 2016.

KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 01.

___________. Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 02.
ROSADO, Vingt-un. Koster volta a Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 1998 (Série C, Coleção Mossoroense, V. 990).

______________. Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2006 (Série C, Coleção Mossoroense, V. 1521).
                                
José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia (DGE) da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Membro do ICOP (Instituto Cultural do Oeste Potiguar), SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) e da ASCRIM (Associação dos Escritores Mossoroenses). Diretor de Acervos da ASCRIM (Associação dos Escritores Mossoroenses) (Biênio 2017-2018).

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