Por Raul Meneleu
No meu
entendimento a importância do cangaço se deu no confronto de uma classe
desprestigiada e humilhada em busca de justiça com aqueles que os injustiçavam.
Eram em sua grande maioria, pobres que foram injustiçados de alguma forma e por
não terem amparo da justiça pois esta, estava invariavelmente nas mãos do coronéis e políticos. Na questão de lampião, eles não eram pobres assim como os
pobres que aderiram a Antônio Conselheiro, que em sua maioria, eram pessoas de
religiosidade fanática.
No caso de
Lampião, sabemos que a índole belicosa da mãe, teve uma influência desastrosa
nos filhos e estes por serem rapazes de boa aparência, despertava a inveja de
seus vizinhos, ao ponto de virar rixas.
Quando essas
rixas foram parar na Justiça o outro lado foi mais contemplado por questões de
parentescos com as autoridades e como eram mais bem situados financeiramente,
foram contemplados com as decisões. Conto mais abaixo em comentários de dois
livros.
Nestas
decisões de autoridades os irmãos Ferreira foram tomando ódio e começaram a
pender para tomarem o lado da vingança que geralmente posso dizer, quase
sempre, quem se vinga de forma violenta ou não, transgride as leis. Não foi
diferente. Os irmãos Ferreira, principalmente Virgulino Ferreira, deixou de
trabalhar tanto na propriedade do pai quanto na pequena empresa de almocrevia
que o pai tinha, com um plantel de mulas onde carregava itens dos vários
negócios de sua clientela.
Largou tudo
isso, pois a família empobrecida pelos conflitos, teve que mudar-se algumas
vezes por conta destas violentas perseguições de seus inimigos. Então chego à
conclusão que, realmente os irmãos foram injustiçados, juntamente com os
familiares. Por conta disso mesmo antes dos pais morrerem, já estavam no
cangaço.
Mas analisemos
mais um pouco, indo ao início da República.
Lampião
cresceu na crise da República Velha. A negação da justiça e a persistência dela
traz a revolta para os oprimidos. Isso se deu no passado e se dá hoje no
presente. Lá naqueles anos, o país saindo de uma Monarquia e entrando na
República surgiram as autoridades dos coronéis.
Na proclamação
da República em 1889 em diante foi implantado no Brasil o regime federalista, e
este veio a favorecer a uma grande autonomia às províncias, fortalecendo as
oligarquias regionais.
O poder dessas
oligarquias regionais de coronéis veio a ser mais fortalecida com a política
dos governadores iniciada pelo Presidente Campos Sales, o quarto presidente da
República. Através da Política dos Estados, obteve o apoio do Congresso através
de relações de apoio mútuo e favorecimento político entre o governo central,
representado pelos presidentes da república e os estados, representados pelos
respectivos governadores, e municípios, representados pelos coronéis.
O poder de
cada coronel era medido pelo número de aliados que tinha e pelo tamanho de seu
exército particular de jagunços.
Nos estados
mais pobres, como Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas os
coronéis não eram suficientemente ricos e poderosos para impedir a formação de
bandos armados independentes. Foi nesse ambiente que nasceu e prosperou o bando
de Lampião, nos anos 1920, coincidindo o seu surgimento com a crise da
República Velha.
Todos conhecem
a história de Lampião. Mas nem todos entendem a política daquela época e o que
levou tanto a ele quanto a muitos outros, enveredarem pelo caminho fora da lei.
Houvesse
"Justiça" não haveria Lampião...
Leiam esse artigo que fiz em 2014, onde analiso dois livros e comento as historias, onde vemos que os mais abastardos perseguiram Virgulino Ferreira para ele se transformar em Lampião.
Depois que
você ler o artigo do link, veja se não concorda comigo, pois finalizando, digo
aos leitores deste apanhado de palavras em dois livros, sendo que os floreios
entre ela são minhas. Lampião e seus irmãos, juntamente com seus familiares,
foram vítimas sim. Se tivesse havido justiça não teria havido Lampião. Claro
que Lampião não foi bom para o sertão nordestino. Tornou-se desalmado pelas
perseguições sofridas e teria sido talvez um cidadão íntegro, um padre, um
oficial do exército, um bispo, prefeito ou até mesmo governador. Um poeta, um artista,
sei lá!
Foi mal ter
existido? Afirmo com toda veemência: SIM!
Raul Meneleu.
28 de setembro
de 2019
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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