*Rangel Alves da Costa
As lições estão por todo lugar. Nos mínimos detalhes das coisas, muitas vezes um livro aberto de sabedoria. Uma pedra lançada às águas pode provocar ondas, tsunamis, tragédias. O sopro das asas da borboleta pode provocar uma grande devastação. Um olhar, apenas um olhar, pode abrir uma terrível ferida. A palavra, esta então tem o poder da fúria de uma furação. E mais e mais.
As lições estão por todo lugar, mas ainda assim poucos querem avistar. Ora, basta saber que toda causa possui uma consequência, toda ação possui uma reação, nada acontece ao acaso. O Livro do Eclesiastes é bem claro quanto a isso. O que se tem hoje, amanhã já será de outra forma. Mas há gente, contudo, que insiste no erro de avistar tudo como o agora. A importância de tudo está somente no agora. E o amanhã? Será, por exemplo, que vai esperar o bem amanhã se faz o mal agora?
Não precisa ser sábio para entender o âmago das coisas, para compreender a realidade da vida, para encontrar a certeza naquilo que se tem como incompreensível. Basta querer, repita-se. O que falta, muitas vezes, é se espelhar no espelho na própria existência. Avistando o ontem, certamente compreenderá o hoje. Os erros do passado são meios mais que suficientes para que sejam reparados em ações futuras. Mas para muitos, para uma grande maioria, torna-se até difícil saber que a morte - ainda que destino certo - pode ser muito antecipado pela vida humana.
Há que mirar-se nos exemplos da vida, do mundo, da realidade. Uma janela aberta ensina, uma porta averta ensina, uma estrada é uma grande lição, um desatino na caminhada servirá como página jamais esquecida. Nada é eterno, nada terá sempre a força que mostra ter. Um dia, as aparências vão revelando as fragilidades. Assim acontece com a ferrugem e o ferro, ou o ferro e a ferrugem, que são o próprio homem na sua jornada de tudo e nada ser.
A pedra dura, inflexível e impenetrável, vai se tomando de musgos, vai sendo açoitada pelo tempo, vai, imperceptivelmente, sendo carcomida. O diamante, com sua solidez petrificada, ainda assim vai sendo alquebrado pela ação humana. E o que dizer do ferro, o tão conhecido metal que sempre aparenta força, durabilidade e resistência? O ferro e o ser humano vivem de aparências.
Este, o ser humano, sempre querendo se mostrar inflexível e inatacável, não suporta sequer o sopro do vento. A dureza humana é desfeita com simples ações. Quando sua máscara cai, tudo desmorona. Quando seu segredo é revelado, então todo o seu interior pode ser avistado. Quando desce do pedestal, então sente que tem de suportar os espinhos. Ainda assim muito ser humano se mostra com inexistente altivez.
Quanta ilusão em fingidas fortalezas que não suportam sequer um sopro de verdade. Os cemitérios, as sepulturas e as covas rasas, estão cheios de pedreiras humanas em pó transformadas. Fantasmas vagueiam achando que levam escudo e coroa. Apenas um nada sob a forma humana. Triste ouvir “Eu sou!”. És o que? Nada mais que uma ilusão. Bem assim aconteceu com o ferro. Imponente, inatacável, indestrutível, mas baixou a cabeça quando a maresia soprou.
Começou a sentir nas entranhas a fragilidade. Ainda assim se mostrou mais inflexível e mais arrogante. Então a ferrugem acariciou sua pele, dizendo: “Mostrarei o que és!”. E hoje do ferro nada mais resta. A ferrugem do tempo destruiu o ferro da vida.
Escritor
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