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sexta-feira, 29 de maio de 2020

PATATIVA DO ASSARÉ – GÊNIO NORDESTINO

Por: Rostand Medeiros
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Ele mesmo situava. “Sou um caboco rocêro”, versou, lembrando sua falta de instrução escolar.
Patativa do Assaré declamando suas geniais poesias - Fonte - http://www.atarde.com.br/noticia.jsf?id=1088971
“Caboclo Roceiro, das plaga do Norte
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,
A tua desdita é tristonho que canto,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar…..
Tu és meu amigo, tu és meu irmão.”
E, categórico, resumia: “Tudo meu é naturá”. Ele era assim, acreditava nos desígnios e, de sua pequena Cariri (CE), enxergava com sabedoria os horizontes de um mundo que pouco percorreu como Antônio Gonçalves da Silva – mas que muito labutou como Patativa do Assaré (1909 – 2002).
Uma das principais figuras da música nordestina do século XX. Segundo filho de uma família pobre que vivia da agricultura de subsistência, cedo ficou cego de um olho por causa de uma doença. Com a morte de seu pai, quando tinha oito anos de idade, passou a ajudar sua família no cultivo das terras. Aos doze anos, frequentava a escola local, em qual foi alfabetizado, por apenas alguns meses. A partir dessa época, começou a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Por volta dos vinte anos recebeu o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave.
Fonte - http://www.ibamendes.com/
Indo constantemente à Feira do Crato onde participava do programa da rádio Araripe, declamando seus poemas. Numa destas ocasiões é ouvido por José Arraes de Alencar que, convencido de seu potencial, lhe dá o apoio e o incentivo para a publicação de seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, de 1956.
O poeta, compositor, cantor, improvisador, violeiro, cordelista e agricultor morreu com 92 anos, mas sua figura permanece como um dos maiores nomes da literatura popular do País, com contornos míticos de um gênio nos confins do sertão, numa produção calcada na oralidade, na qual não se dispensa a entonação, as expressões faciais e a performance.
Seu trabalho se distingue pela marcante característica da oralidade. Patativa criava versos de memória, como reza a tradição oral, para depois serem recitados. E na memória  permaneceram até o fim da sua vida. Lembrava de todos, que ao longo da vida foram lançados em livros e folhetos (mas ele não se considerava cordelista). Tem os que ele denominava de “matutos” (com um falar mais cotidiano) e os de linguagem culta, como sonetos.
Interior da casa do poeta - Foto - Wilson Bernardo - Fonte - http://www.instrumentalbrasil.com/chapadadoararipe/page/19/?cat=1
A transcrição de sua obra para os meios gráficos perde boa parte da significação expressa por meios não-verbais (voz, entonação, pausas, ritmo, pigarro e a linguagem corporal através de expressões faciais, gestos) que realçam características expressas somente no ato performático (como ironia, veemência, hesitação, etc.).
Daí a genialidade do trovador nordestino, cuja amplitude dos versos – seja temática, seja de gênero – sempre encantou e intrigou seus ouvintes e leitores, inclusive os acadêmicos. O jovem que frequentou a escola apenas poucos meses, onde aprendeu a ler sem pontuação, como ele disse, acabou ganhando nada menos do que cinco títulos Doutor Honoris Causa. Homenagens, prêmios e reconhecimentos não lha faltaram. No entanto, afirmava nunca ter buscado a fama, bem como nunca ter tido a intenção de fazer profissão de seus versos. Patativa nunca deixou de ser agricultor e de morar na mesma região onde se criou.
Casa de Patativa restaurada por ocasião do seu centenário - Foto - Wilson Bernardo - Fonte - http://www.instrumentalbrasil.com/chapadadoararipe/page/19/?cat=1
Marido de uma rapadeira de mandioca, com quem teve cinco filhos, Patativa fez da pequena Serra de Santana seu mundo, da terra tirou seu sustento, sua luta política e seus versos sobre o povo nordestino. “Deste jeito Deus me quis/ E assim eu me sinto bem;/ Me considero feliz/ Sem nunca invejá quem tem/ Profundo conhecimento”, mandou seu recado em Aos Poetas Clássicos.
Extraído do blog "Tok de História" do historiógrafo e pesquisador do cangaço: Rostand Medeiros

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