Por Herton Cabral
A emblemática
pose fotográfica do grupo de Lampião em Limoeiro do Norte, do dia 15 de
junho de 1927, revela que o intimorato capitão tinha certeza de que não seria
incomodado, pelas autoridades cearenses, no retorno do ataque àquela próspera
cidade (Mossoró). Alguns estudiosos, talvez como força de expressão, mencionam
que Lampião teria ‘invadido’ o Ceará. Ledo engano. As circunstâncias indicam,
pelo contrário, que sua entrada pelo município de Limoeiro do Norte fez parte
de uma rota de fuga adrede planejada, que derivou para um ousado passeio pelo
aludido centro urbano. Perigosamente situada próximo a capital do Estado, cerca
de 200 km, Limoeiro do Norte podia ser alcançada, em questão de horas, mesmo
por estradas ruins, se uma força policial motorizada, bem armada e municiada
tivesse sido deslocada de Fortaleza, nos dias 13 e 14 daquele mês e ano,
para aguardar e dar combate ao grupo, na eventualidade do retorno.
Afora a
superioridade numérica, a possibilidade de vitória se mostraria ainda mais
plausível com a corja já esfacelada e desmoralizada pela fragorosa derrota
imposta por Rodolfo Fernandes e seus patriotas. O que acontece então? Lampião
entra lépido em Limoeiro, passeia, visita igreja, é bem fotografado, toma café
e janta, vai ao telégrafo onde conversa e telegrafa. Apresenta-se despreocupado.
Tudo isso ocorrendo só dois dias depois de ter tentado matar, violar e roubar e
depredar uma cidade inteira. Em singular depoimento, conta o sr. Custódio
Saraiva, então Secretário da Prefeitura e juiz municipal limoeirense, que
Lampião parecia tranquilo a ponto de até pretender se demorar na cidade, para
aguardar a chegada do resgate exigido pela vida do coronel Antônio Gurgel e
esposa. Só desistiu do intento ao tomar conhecimento da aproximação, célere, de
volantes da Polícia do Rio Grande do Norte e da Paraíba já seguindo em seu
encalço.
Destaque-se
que policiais riograndenses e paraibanos chegaram a vizinha Russas, antes das
forças cearenses. O fato é que governo cearense sequer podia alegar surpresa
com a presença de Lampião em Limoeiro, pois tivera conhecimento antecipado,
através do correto prefeito Rodolfo Fernandes, que os cangaçeiros se
aproximavam para atacar Mossoró, o que colocava em grande perigo direto todo o
médio Jaguaribe. Um governante precavido certamente teria se antecipado ao
provável movimento de fuga lampeonica, deslocando de tropas volantes para
fechamento das vias de acesso e combate ao grupo de bandoleiros, agindo em
coordenação com as demais polícias. Sem esquecer de reforçar as defesas das
principais cidades da região. Mas, para quem havia se negado a prestar a ajuda
solicitada pelo destacado cel. Rodolfo Fernandes, nada de bom se podia esperar,
mesmo que tivesse de renegar a validade das cláusulas de ajuda recíproca
assumidas no vigente convênio interestadual de combate ao cangaceirismo.
Portanto,
quando se examina a sequência de fatos, antecedentes e consequentes, percebe-se
que um enredo havia sido traçado para facilitar a escapulida do capitão
facinoroso. E nessa trama diabólica envolveram-se insignes chefes políticos,
destacados oficiais da briosa polícia e, pasme-se, o próprio presidente do
estado, alcunhado ‘Moreirinha’, se enredou, ou foi enredado, no imbróglio
montado pelos seus apaniguados, de que resultou na fuga sensacional de Lampião
do Ceará. Faltou a esse dirigente vontade política, pulso e determinação,
pois agiu marcando a história política do Ceará com um indelével sinal de
nefasto compadrio político. Então, quando tudo confluía para o vesgo ser
desbaratado e exterminado em solo cearense, eis que ressurta Lampião, após
marchar por mais de oitenta léguas tiranas em lutas e atropelos, para dar
continuidade da vida do crime por mais longos onze anos, deixando atrás de si
um rastro de centenas de crimes e famílias enlutadas, até ser pego na ratoeira
final de Angico.
Fonte: YouTube Canal: Alex Chaves Monteiro
Herton Cabral, pesquisador
Fortaleza, Ceara
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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