Do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho
O militar e
político JOSÉ LUCENA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO morreu no dia 19 de maio de 1955,
aos 62 anos de idade.
O "Diário de Pernambuco" noticiou assim o fato:
O "Diário de Pernambuco" noticiou assim o fato:
UM COLAPSO
CARDÍACO VITIMOU ONTEM, EM RECIFE, O HOMEM QUE MAIS COMBATEU O BANDITISMO NO
NORDESTE
O CORONEL JOSÉ
LUCENA MARANHÃO MORREU PLACIDAMENTE NUMA CAMA
Oficial de
Polícia e prefeito de Maceió – Inimigo nº de Lampião
Repentinamente,
faleceu, anteontem, no Recife, o prefeito constitucional de Maceió, capital de
Alagoas, coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão. Casado com a Sra.
Benedita de Melo Lucena, contava o prefeito de Maceió 62 anos de idade,
transcorrendo o seu último aniversário a 15 do corrente mês quando já se
encontrava nesta cidade. Nasceu a 15 de maio de 1893.
Há pouco mais de um mês, o coronel Lucena passou o exercício da Prefeitura de Maceió ao seu substituto legal, vereador Cleto Marques Luz, presidente da Câmara Municipal, viajando para Recife, a fim de repousar e submeter-se a um tratamento de saúde. Estava internado na Casa de Saúde Maria Lucinda, surpreendendo-o a morte quando já se achava quase totalmente restabelecido e prestes a voltar ao seu Estado.
Como costumava fazer aos domingos e feriados, anteontem o coronel José Lucena foi passar o dia com o seu amigo Audalio Tenório, residente num apartamento do Edifício Capibaribe.
Anteontem, mais ou menos às 23 horas, em companhia do Sr. Audalio Tenório, ouvia o coronel Lucena um programa da Tamandaré, quando faleceu, repentinamente, de distúrbio cardíaco. Logo que os seus amigos residentes no Recife tiveram notícia de seu falecimento, acorreram ao apartamento do Sr. Audalio Tenório, onde permaneceram durante o resto da noite e dia de ontem, até a hora em que o corpo seguiu para Maceió em avião especial da FAB, cedido pelo comando da 2ª Zona Aérea.
LIGEIROS DADOS
BIOGRÁFICOS
O coronel José
Lucena Maranhão era natural de Quebrangulo, Alagoas. Ingressou na Força
Policial de seu Estado como simples soldado, atingindo ao coronelato (mais alto
posto) pelas suas qualidades cívicas, morais e de inteligência. Cumpriu
brilhante folha de serviços, sendo promovido por merecimento e bravura. Foi a
figura central no combate ao banditismo no Nordeste, sendo considerado como o
mais terrível inimigo de Lampião.
Em 1930, por ocasião da Revolução, o coronel Lucena esteve ao lado da legalidade, acompanhando o governador de então, Sr. Álvaro Paes, até quando de sua deposição. Foi, ainda, comandante da Força Policial de Alagoas, da Guarda Civil, delegado regional de Ordem Política e Social no sertão de Alagoas, prefeito de Santana do Ipanema, deputado estadual pela Assembleia Legislativa de Alagoas (o mais votado) e, há pouco menos de um ano, se empossara na Prefeitura de Maceió, cujo mandato terminaria em outubro de 1958.
Deixa o coronel Lucena os seguintes filhos: Maria Tereza Quintela Lucena, Wilson e Terezinha, além de netos, sobrinhos e genro. No Recife, eram seus parentes o deputado Gerson Maranhão e os senhores Alcindo e Napoleão Maranhão.
Tão logo se soube em Maceió do falecimento do governador da cidade, seus parentes mais próximos (filhos e esposa) viajaram para Recife, em companhia do deputado petebista Abraão Fidelis, da Câmara Legislativa de Alagoas.
Diversos deputados pernambucanos, dentre eles o deputado Elpidio Branco, estiveram na residência do Sr. Audalio Tenório, apresentando condolências.
Ontem o corpo do coronel Lucena seguiu para a capital do vizinho Estado onde será sepultado hoje à tarde. A prefeitura de Maceió decretou luto e o corpo de seu primeiro prefeito constitucional ficará em câmara ardente, para visitação pública, no salão nobre da municipalidade.
Em visita ao corpo do coronel José Lucena estiveram na residência do Sr. Audalio Tenório, o prefeito Djair Brindeiro, o ajudante de ordens do governador do Estado, o Dr. João Roma e oficialidade da Polícia Militar de Pernambuco.
OFICIAL DE
“VOLANTES”
Paradoxalmente,
morreu sentado numa cama o homem que durante mais de 15 anos palmilhou os sertões
de Alagoas em peregrinação a cangaceiros. Ainda tenente, Lucena Maranhão foi
mandado pelo governador Fernandes Lima para a zona sertaneja, logo depois que
um grupo de bandidos saqueou o povoado Pariconha. Eram os Porcinos, os
Fragosos, Antonio Matilde e Lampião, este ainda jovem de 21 anos.
No povoado de Santa Cruz do Deserto, nas proximidades da cidade de Água Branca, a volante de Lucena cercou os bandidos e deu-lhes combate. Parte dos cangaceiros fugiu para as caatingas, enquanto um pequeno grupo, entrincheirado na casa dos Fragosos, sustentou o fogo com a polícia. No fim do tiroteio, estava morto Luiz Fragoso e um senhor de idade, que Zeca Fragoso, somente ferido num braço, informou ser o pai de Lampião. Desde este fato, Lampião passou a considerar Lucena o seu maior inimigo.
Quando os irmãos Porcinos, em 1922, deixaram o cangaço, Lampião assumiu a chefia do bando, que até 1928 percorreu cinco estados do Nordeste. Acossado pelas forças policiais conjugadas, entre as quais sempre se sobressaíram as “volantes” de José Lucena, Lampião atravessou o São Francisco, para a Bahia, nos meados de 1928.
No combate ao banditismo, Lucena Maranhão comandou o 2º Batalhão da Polícia de Alagoas, sediado em Santana do Ipanema, de que fazia parte a volante que deu cabo do grupo de Virgulino Ferreira, em julho de 1938.
Diário de
Pernambuco - 21.05.1955
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