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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A CASA DE BARRO-BATIDO

 Crônica de Conrado Matos

Eu vou relatar nesta minha crônica como as pessoas do sertão levantavam suas casas de taipa. Começo pela forma de construção.

Vinham primeiro os buracos que eram feitos com cavadores. Depois ele levantava os troncos de madeiras, chamados colunas. Usava o serrote para fazer aquelas cavas, usando um lápis grafite para medir o tamanho da cava a ser feita. As cavas na ponta da madeira dos troncos eram para se encaixarem certinhas com as madeiras das laterais de cima. Usava grandes pregos para fixá-las e deixá-las seguras para não cair alguma madeira. Antes dos caibros, era usada uma grossa madeira para fazer a cumeeira, uma madeira que fica fixada nas colunas centrais. A cumeeira fica no alto, bem no centro da casa, para sustentar os caibros e as ripas. Veja bem, eu não sou um carpinteiro, apenas relato aqui o que vi, quando menino.

Colocadas as colunas e a cumeeira era a vez dos caibros e das ripas. Em seguida, colocava as telhas. E para fechar toda casa vinha com várias varas finas que eram amarradas com cipó para construir as paredes de barro. O piso era feito de barro batido com grande pilão. Alguém vai batendo o pilão no chão até ficar bem duro e o mais nivelado possível para evitar desníveis ou barrocas. Dificilmente evitaria os desníveis do piso.

As portas, as janelas e os batentes eram feitos de madeira. Eram utilizadas aquelas fechaduras de um aço escuro nas portas. Nas janelas, usavam as tramelas. Lembram? Costumavam colocar um pau cruzado pelo meio da porta ou da janela, fixado no caixão por uma grande abraçadeira, para dar mais segurança a casa. Embora, ladrões, nesta época de 1970, no mínimo, existiam somente os de galinha. Raramente existia ladrão que arrombava portas de casa. Tinha, também, ladrão de animais. Alguns roubavam jegues, cavalos, gados e cabras. Podia saber de ladrão de roça que roubava milho, melancia, abóbora e macaxeira.

Pois bem, para terminar a construção da casa de taipa, no interior, principalmente, onde vivi em Nossa Senhora de Lourdes/Sergipe, convidava os amigos, o que era conhecido como digitório, uma união de pessoas, para ajudar a preparar o barro e fazer a parede, enchendo os espaços entre as varas internas e externas que estavam amarradas nos troncos com cipó. As varas eram para não deixar o barro cair, formando a parede.

Para finalizar esta etapa final da construção da casa de taipa existia todo um ritual, abatia um bode ou um porco para oferecer aos amigos, regado com pinga e sanfoneiro. O sanfoneiro era o primeiro a ficar de porre. O porco era cozinhado dentro daquelas grandes latas antigas de querosene Jacaré, num fogo a lenha, que era improvisado no meio da rua. Cozinhava feijão, fava e tinha farinha à vontade. O porco era cozido com tudo, com enormes toras de toucinho. Encerrado tudo, continuava o sanfoneiro fazendo a festa para comemorar a casa nova.

Após alguns dias quando o barro já estava todo sequinho, o dono tomava posse da residência. Pintava a porta de azul, colocava um Coração de Jesus atrás da porta ou um olho de boi. Eu nunca vi uma dessas casas cair.

Uma pergunta: agora, onde estava o segredo da casa bem feita? Para mim, no amor e no carinho que todos os colaboradores tinham para construí-la. Fazer com amor é fazer bem feito. A nossa casa interior é para ser bem feita o melhor possível. Amor próprio, construímos com simplicidade e com muita vontade de acrescentar na alma somente grandeza. Nessa época o que existia ainda era o amor por tudo que fazia, desde a família, os amigos e a educação. Viva o amor!

Conrado Matos - Psicanalista, Poeta e Filósofo. Especialista em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia/Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas UFBA.

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