Por João Costa
Nos anos 1920 o chefe de Volante, tenente Optato Gueiros, converteu-se ao fundamentalismo evangélico; lia a Bíblia em inglês, pregava o tempo todo para seus comandados, propagava que não atirava para matar, mas jurou e alardeou ao mundo todo ter matado Lampião e seu corneteiro; sendo por isso promovido, mas acabou encerrando sua carreira como delegado de polícia e vendedor de garrafadas.
No volumoso livro “Lampião – a Raposa das Caatingas”, autoria de José Bezerra Lima Irmão, em fevereiro de 1926, o capitão Virgulino Ferreira – Lampião, alimentava profundo desejo de vingar a morte do irmão Livino.
Ao saber que as volantes dos tenentes Higino Belarmino e de Optato Gueiros, que naquele momento chefiava o grupo dos famosos “Cabras de Nazaré”, estavam nas proximidades no seu encalço, resolveu montar uma emboscada.
As volantes em campo com mais de 50 homens seguiam pelo Arraial das Caraíbas quando se deu o entrevero. Lampião armou a emboscada dividindo por três o seu bando.
Ele na liderança de um grupo, Manoel Pequeno com um subgrupo e Antônio Ferreira - como sempre - no coice do bando, entrincheirou-se com seus comandados na retaguarda.
Guiadas pelo famoso rastejador Badoque as volantes seguiam rastros deixados de propósito por Lampião.
Nos primeiros disparos três soldados foram fulminados e sete caíram feridos, inclusive o tenente Higino, que ordenou a retirada.
Os cangaceiros já contavam vitória xingando os “macacos”, quando Optato Gueiros e os nazarenos, que vinham na retaguarda, abriram fogo de forma “atabalhoada”, a ponto de quase atingir outros companheiros, levando o tenente Higino gritar para Davi Jurubeba, outro nazareno indomável.
-“Davi, a força de Nazaré tá contra nóis?”
Optato Gueiros liderou a contraofensiva já contando com três baixas e feridos.
E é de sua autoria curioso relato desse combate. Um corpo sem cabeça do grupo de cangaceiros foi encontrado e que o corpo encontrado era o de Lampião. “Simples assim!”
Imediatamente, o tenente Gueiros ganhou as manchetes dos jornais Diário de Pernambuco e Jornal do Commércio, de Fortaleza. E promoção pelo feito de dar cabo ao temível facínora.
O próprio Optato telegrafou ao governador comunicando sua “proeza” de matar Lampião.
- Facínora, Virgulino Ferreira, está morto, relatou.
Foram seus 15 minutos de fama, pois pouco tempo depois, Lampião fazia sua entrada triunfal em Juazeiro do Norte, atendendo convocação do padre Cícero e do deputado Floro Bartolomeu para combater a Coluna Prestes.
De um lado, Optato foi promovido e recebido com pompas de comandante militar combativo, por outro, recebeu de Lampião comentários jocosos, além de apelido de “Corredor”.
- É corredor, quando eu ia para um lado ele se escafedia para o outro, dizia o próprio Virgulino.
O chefe de volante que não atirava para matar!
Mas há outra versão, bizarra, sobre a trajetória de Optato Gueiros. Entre 1928/30, um relato atribuído a Davi Jurubeba (também ex-volante) , Optato, inicialmente um presbiteriano moderado, dado a pileques intermináveis em companhia do seu rastejador Badoque, converteu-se ao fundamentalismo evangélico; lia a Bíblia em inglês, fazia sermões onde chegava e doutrinava sua volante. E mais:
- “Como chefe de volante, não atirava para matar,” segundo Jurubeba.
- Na batalha contra Lampião, na fazenda Caraíbas, Optato recusou matar pessoas, atirava para o ar, só para espantar, mas disse aos meninos que matassem, se quisessem, pois ele não mataria ninguém”, foi o relato de Jurubeba.
Mais:
“Optato fora um homem muito violento, que bebia em demasia anteriormente, e que matara o corneteiro de Lampião com um tiro na cabeça, e depois dera outro tiro no próprio Lampião, quando este fugia, chegando a transpassá-lo com uma bala de fuzil, ferindo-o levemente nas costas”, corrigiu o mesmo Jurubeba.
Optato ainda “combateu” os jagunços liderados pelo beato paraibano José Lourenço e Severino Tavares, nos episódios da repressão ao “Caldeirão”, um sítio criado em 1926 pelo Padre Cicero e gerenciado pelo beato Zé Lourenço.
Para dissolver o “Caldeirão”, o governo usou tropas terrestres e, pela primeira vez na História do Brasil, ataque aéreo.
Gueiros encerrou sua trajetória em 1940 como “Doutor Raiz” e delegado de polícia em Petrolina-PE, onde hoje há um batalhão especial da PM que leva o seu nome.
Na sua ficha policial, Gueiros, chefiou a brigada pernambucana contra o Movimento Messiâncio Pau de Colher em Casa Nova, Bahia entre 19 e 21 de janeiro de 1938 e é autor do livro Lampeão – Memórias de Oficial Ex-comandante de Forças Volantes, 1953.
E há uma unidade da PM pernambucana em homenagem aquele que já foi cabecilha de volante. O 2º BIESP – Batalhão Integrado Especializado - Batalhão Major PM Optato Gueiros, em Petrolina.
João Costa. Blogdojoaocosta.com.br Acesse no Facebook e Youtube: meiaduziadetresouquatro
Fonte: “Capítulos da História do Nordeste”, 2020, de José Bezerra Lima Irmão
blog do Anchieta Gueiros- Notícias do Agreste. Artigo “Garanhuns – Major Optato Gueiros”, de David Gueiros Vieira
Imagem. Foto 1. Badoque, o rastejador. Foto2. Optato Gueiros. Foto3. Lampião e seu bando.
https://www.facebook.com/groups/471177556686759/?multi_permalinks=1224315168039657%2C1223136001490907%2C1223658251438682%2C1221062025031638¬if_id=1624548382357204¬if_t=group_activity&ref=notif
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