O ex-deputado
estadual por Goiás e federal pelo Tocantins, Hagahús Araújo e
Silva, comemorou no último dia 28 de agosto seus 90 anos de vida e de
lutas sociais. Considerado um dos homens mais influentes do Congresso Nacional
na década de 90, ele movimentou os corredores do Congresso Nacional para pôr
fim as mordomias dos congressistas, ao propor a extinção do Instituto de
Previdência dos Congressistas (IPC), que dava uma aposentadoria a deputados e
senadores com apenas 08 anos de mandatos, com salário integral.
Com uma
excelente vitalidade e muitas histórias pra contar, Hagahús Araújo reuniu família
e amigos para comemorar estas noves décadas de vida, sete delas a serviço do
povo do então norte de Goiás, conhecido como corredor da miséria, sempre tendo
sua Dianópolis, onde reside até hoje como centro das atenções do hoje Sudeste
do Tocantins. Considerado um dos homens com a maior folha de serviços sociais
prestados ao povo Tocantinenses e o maior número de páginas de históricos de
bom proveito já visto no estadão do Tocantins.
"Poucos
cidadãos, no país, têm uma trajetória de vida como Hagahús Araújo e Silva,
servindo ao próximo desde a mais tenra idade. E se dedicando a servir a uma
comunidade e ao país independentemente de ocupar qualquer cargo".
Ele teve a
coragem, com apenas 25 anos de idade, de idealizar, construir e dirigir por
mais de 10 anos uma obra social que foi considerada uma das melhores do país: o
Instituto de Menores de Dianópolis (TO) que, em mais de meio século,
mudou a realidade de uma região, formando lideranças em seu meio e conseguindo
garantir um futuro melhor para centenas de crianças e jovens.
E raros são os
políticos, no país, que podem servir de exemplo, como Hagahús Araújo, para
uma geração carente de valores morais, de referências éticas, de modelos que
unem e pacificam em momentos difíceis, que são paradigmas de dedicação,
honradez e realizações públicas em todos os cargos que assumiu: como
prefeito, deputado estadual duas vezes, secretário de Estado e deputado
federal.
Com apenas 22
anos, Hagahús Araújo foi o mais novo diretor, no país, de obras do então
Serviço de Assistência a Menores (SAM), órgão do Ministério da Justiça.
Com 25 anos de idade, no então sertão de Goiás, funda o Instituto de
Menores de Dianópolis, cidade natal da sua mãe, Amélia Póvoa.
Era o ano de
1953. A pobreza e a miséria do antigo nordeste goiano tocaram na alma do jovem
que já se via em condições de ajudar aquela região a melhorar quadro tão
desolador, através da educação. Nascido em Patos de Minas (MG) em 31 de agosto
de 1928, Hagahús tinha apenas formação ginasial no Colégio/ Internato dos
Padres Sacramentinos de Nossa Senhora, em Patos, mas tornara-se um autodidata e
leitor voraz e compulsivo, dono de vastos conhecimentos para a sua pouca idade.
Destemor e o dom da liderança já moldavam a sua personalidade, até como herança
genética: o seu bisavô paterno, Andrelino Pereira da Silva, o barão do Pajeú,
" foi um dos mais influentes e poderosos políticos pernambucanos do início
do século XX", de acordo com reportagem do jornal O Globo de
2/9/1971.
O pai de
Hagahús, Luiz Pereira da Silva, o "Luiz Padre", foi levado pela mãe,
Francisca- filha do barão do Pajeú- a entrar numa guerra de famílias que disputavam
a hegemonia do Poder e que atingia o nordeste brasileiro. O marido de Francisca
e avô de Hagahús, coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, um ex-seminarista
conhecido como "Padre Pereira", foi escolhido para morrer, pelo clã
adversário, justamente por ser o " mais querido dos Pereiras", como
retratam os historiadores. Era um homem pacífico, vivia para fazer o bem no
sertão do Pajeú, principalmente entre os mais humildes- e havia assumido a
liderança da família com a morte do sogro e tio barão.
Após anos de
luta para vingar a morte do pai, o jovem Luiz Padre (Zeca), com pouco mais de
20 anos, atende ao conselho do Padre Cícero Romão e deixa o Nordeste rumo ao
sertão de Goiás. Em Dianópolis se casa com Amélia Póvoa, filha de Benedito
Pinto de Cerqueira Póvoa, " capitão da Guarda Nacional e rico fazendeiro
da região ", que morreu na chacina de "O Tronco", um dos mais
tristes episódios da história de Goiás, como registra o escritor Osvaldo Póvoa.
Zeca e Amélia foram constituir família no interior de Minas Gerais, em um
ambiente de paz e muito trabalho, onde nasceram todos os seus filhos: Antônio,
Hagahús, Vilar e Wilson.
Quando visitou
a terra de sua mãe, pela primeira vez, a malária era o maior flagelo à saúde do
povo na região. Hagahús, com 17 anos de idade, não teve dúvidas em se deslocar
para Salvador (BA), cidade que não conhecia e a mais de mil quilômetros de
Dianópolis, e de difícil acesso. Mas foi informado de que a capital baiana
tinha estoque de Metoquina, remédio que curava o impaludismo que estava matando
naquele sertão goiano. Sabia que teria o apoio do grande médico de Dianópolis,
Alexandre Costa- primo de sua mãe - que ocupava cargo importante na saúde, no
governo da Bahia. Conseguiu com Dr. Alexandre dez mil comprimidos de metoquina,
que trouxe em uma mochila nas costas, em um trajeto a pé da serra de Taguatinga
até Dianópolis, pois não podia esperar pela condução que iria demorar mais uns
dias. A metoquina curava o doente com uma só dose de quatro comprimidos. E o
tratamento era gratuito.
De outra
feita, preocupado com o surto de paralisia infantil que já matava em
Dianópolis, atingindo principalmente crianças, Hagahús se deslocou para a
capital do país, então no Rio de Janeiro, à procura de vacinas. Conseguiu até
mesmo um avião da FAB para o transporte das primeiras vacinas distribuídas ao
interior do país. E muitas vidas foram salvas por aquele jovem destemido.
CASAMENTO
Com a fundação
do Instituto de Menores de Dianópolis, que contou com o apoio de toda a
comunidade dianopolina, principalmente da Casa Póvoa- e do amigo João Rodrigues
Leal para lutar por recursos federais - Hagahús precisava contar com pelo menos
um médico na cidade, quando não havia nenhum. A cada dia aumentava o número de
alunos da sua grande obra social. Já conhecia bem a burocracia da capital do
país, que era o Rio de Janeiro, e com certeza conseguiria meios de trazer para
Dianópolis o primeiro médico, Dr. Manoel Pinheiro, e logo depois o seu irmão,
Alceu Pinheiro, que construíram ali toda uma história de vida.
Com a chegada
de médicos, Hagahús também se tornou o maior doador de sangue do município, em
todos os casos de emergência, e até- em idade avançada- já não ter condições
físicas para essa doação.
Com pouco mais
de um ano após iniciar as obras do Instituto, Hagahús sentiu a necessidade de
uma mulher ao seu lado, até para ajudá-lo na difícil missão de educar tantas
crianças e jovens. Em 16 de fevereiro de 1955, casa-se com Josa, filha de
Aurélio Araújo e Custodiana Wolney Araújo, uma das Dianas que deu nome à cidade
de Dianópolis e neta do coronel Joaquim Wolney, que foi o maior senhor feudal
da região.
Na época, Dona
Josa era uma das quatro normalistas (professoras formadas) da cidade de
Dianópolis. Ela se converteu em vida e alma do Instituto. Assumiu as tarefas
maiores de educação em sala de aula, aprendendo com os amigos, funcionários do
Instituto e com os livros a fazer queijos, conservas, doces, os pratos da
cozinha nacional, e até internacional. E aproveitar tudo que se
produzia e já sobrava nas hortas e pomares fartos daquela instituição.
"Hoje
tenho a certeza absoluta que tomei a decisão mais importante e acertada da
minha vida, ao me casar com Josa. Eu já tinha um filho, Pedro Jorge- depois
médico- que estudava em Belo Horizonte. Com Josa tivemos Iara, Ubiratã, Moema,
Aracy e Juçara. Vivemos felizes em meio a todas as dificuldades. Criamos nossos
filhos e concorremos, ao longo dos anos, para a melhoria das condições de vida de uns
500 outros", enfatiza Hagahús.
ESTADO
Após 10 anos à
frente do Instituto - já uma obra consolidada, de referência nacional, com
centenas de crianças abrigadas e outras centenas à espera de uma vaga- Hagahús
sentiu a necessidade de repassar aquele grande projeto social às mãos do
Estado, para que assumisse a contratação de servidores que cresciam a
cada dia e as despesas que surgiam com a expansão do Instituto. Cobrado pela
família, também precisava se voltar para os seus filhos de sangue.
Aquela obra
social não tinha dívidas e seus alunos tinham orgulho de não depender da
caridade da comunidade local, que também era pobre. Viviam do seu trabalho e do
que conseguiam por órgãos e verbas públicos. Hagahús havia demonstrado aos
governos federal e estadual que, mudando a política no trato do menor, tudo
passaria a dar certo, fazendo das obras sociais que abrigavam menores, celeiros
de lideranças e educação de qualidade, e não depósitos de crianças com o
simples intuito de trazer paz aos adultos.
O Instituto
foi doado ao Estado de Goiás, em 1963, sem nenhuma dívida, com víveres em
grande estoque e com um patrimônio estimado em Cr$ 50 milhões (50 milhões de
cruzeiros, à época) valor duas vezes maior do que a soma de todos os recursos
que a instituição recebera. Teve como tesoureiro da sua Associação Mantenedora,
desde a sua fundação, o comerciante dianopolino e rigoroso Afonso Carvalho, e
como secretário o também íntegro Benedito Póvoa, depois prefeito de Dianópolis.
CEPAIGO
Preocupados em
garantir a continuidade dos trabalhos daquela obra, pelo menos com a manutenção
do seu padrão educacional e de disciplina, o governo e a comunidade se uniram
no propósito de a direção do Instituto ficar com o também competente e
preparado Dr.Wilson Araújo, formado em Odontologia, que ali já vivia com a sua
esposa Celeste, sendo bastante queridos pelos alunos e por todos os
funcionários. Wilson era o irmão mais novo de Hagahús.
Tempos depois,
Hagahús recebeu do governador Mauro Borges o convite para dirigir o Centro
Penitenciário de Goiás (Cepaigo). Ali poderia colocar em prática as suas ideias
avançadas, e até revolucionárias, para a época, na administração de um
presídio. Era como uma missão. E Hagahús aceitou.
Mas veio o
Golpe Militar de 1964 e Mauro Borges, discordando dos rumos daquele movimento,
tentou resistir a uma intervenção em Goiás. "Fizemos uma revolução para
evitar uma ditadura da esquerda e não aceitaremos sem resistência, mesmo
pacífica, que uma ditadura de direita se instale em definitivo, a tortura seja
a norma jurídica do País, governadores de Estados sejam desrespeitados em suas
prerrogativas ao se negarem a ser interventores, ou apenas áulicos ou bobos da
corte, quer em palácios, quer em castelos", explica o ex-governador e
senador goiano no seu livro O golpe em Goiás. Diante das ameaças de
invasão do Palácio das Esmeraldas pelas Forças do Exército, com a destituição
do governador legitimamente eleito, o jovem e destemido diretor do Cepaigo não
titubeou: reuniu os presos e disse-lhes que, se o Palácio fosse atacado, iria
ajudar a defendê-lo. Ocupava um cargo de confiança e não iria trair quem nele
confiou. Perguntou se alguém ali queria acompanhá-lo:
- Conte com a
gente, diretor. Aqui não tem ninguém preso porque errou o tiro, gritou um dos
presos, em meio ao tumulto gerado pelo excesso de voluntários.
Não houve a
anunciada invasão do Palácio pelas forças revolucionárias, mas Hagahús acabou
preso como subversivo, juntamente com outros políticos goianos. "De
diretor-presidente do Cepaigo, passei à condição de preso", ironiza
Hagahús.
DESTINO
De volta à
Dianópolis, é posteriormente eleito prefeito da cidade (1966-1970) e as suas
boas relações com o então governador goiano Otávio Lage contribuem para o êxito
de uma administração inovadora, tida como exemplo em todo o Estado.
Com as
trágicas lutas pelo Poder encetadas por sua família no sertão de Pernambuco e
pela família da sua mulher, Josiniana Araújo, em Goiás Hagahús aprendeu que
política não se faz com rancor e que o adversário de hoje pode ser o aliado de
amanhã. Só nunca transigiu com a corrupção, como atestam todos seus atos e
pronunciamentos durante toda a sua vida pública e privada.
Conciliador e
decidido a suplantar animosidades políticas em uma região tão castigada por
elas, convida para o controle das finanças do município um dos líderes e mentor
intelectual do grupo adversário, Coquelin Leal Costa que, anos mais tarde,
viria a ser o bisavô dos seus netos. (Iara, filha de Hagahús, casou-se com um
neto de Coquelin, o advogado José Alencar Costa Aires). A mulher do candidato
que havia disputado com ele a prefeitura, Dona Diran Rodrigues, é nomeada
diretora de um dos grupos escolares construído por Hagahús e batizado por este
com o nome daquele que foi um desafeto do seu pai na região, o coronel Abílio
Wolney.
Hagahús era
incapaz de cultivar o ódio. Nas horas vagas, e, quando rapaz solteiro vivendo
em Dianópolis, se enfurnava na rica biblioteca que Abílio Wolney mantinha em
casa, trocando informações com o anfitrião e tendo desta toda atenção. Jamais
Hagahús recebeu qualquer admoestação ou repreensão do seu pai por frequentar a
casa do coronel Abílio.
A mulher com
quem Hagahús se casou em 1955, sobrinha-neta de Abílio Wolney, era tratada com
mimo de filha pelo sogro, Luiz Padre (Zeca).
O êxito de Hagahús
à frente da prefeitura de Dianópolis garantiu a eleição, como candidatos
únicos, dos seus dois sucessores no cargo, numa época em que era proibida a
reeleição: César Póvoa e Hercy Rodrigues, que haviam trabalhado com Hagahús no
Instituto. Por mais de uma década, sempre colaborando para o
desenvolvimento da região, Hagahús não aceitou postos no executivo e nem
disputou mandatos eletivos. Dedicou-se à família e conseguiu formar um bom
patrimônio, cuidando também das propriedades rurais herdadas pelo casal.
REVIDE
Desafiado
pelas disputas políticas, aceita ser candidato às eleições de 1982, elegendo-se
deputado estadual por duas vezes. Na Assembleia Legislativa de Goiás teve uma
atuação destacada e surpreendente, desde a sua estreia da tribuna, em
1983: o seu discurso, na posse dos novos deputados, foi interrompido 29
vezes por aplausos, de acordo com reportagem do jornal "Diário da
Manhã", de 2 de fevereiro daquele ano.
Tamanha
empatia com o público vinha da linguagem fácil e fluente utilizada por ele nos
seus pronunciamentos, escritos de próprio punho, assim como em todos os
documentos e ofícios que ele mesmo redigia e redige agilmente, utilizando-se de
uma velha máquina Remington, hoje substituída pelo teclado do computador que
também domina, mesmo com 90 anos de idade.
Hagahús teve a
sua vida pública marcada pela defesa da moralidade administrativa, da ética e
da transparência no trato com a coisa pública; pelo compromisso com os setores
mais carentes da população, pronto para atender, a qualquer hora, a todos que o
procuravam e o procuram.
Sem vícios,
exceto o trabalho, com porte atlético e muita saúde, sempre gostou de
aventuras: no período em que ficou sem mandato público, e quando praticamente
não existiam estradas, regularmente fazia viagens com a família, sempre de
carro, por todo o país e até por vários países da América do Sul. Saindo de
carro de Dianópolis(TO), chegou ao Uruguai, Paraguai e Argentina, percorrendo
fábricas do Sudeste e fazendas dos pampas gaúchos. No início da década de 70,
passando por Mato Grosso, enfrentou com a família o "trem da morte"
(à época, era quase a morte) para chegar, de carro, às Cordilheiras dos Andes,
rumo às maravilhas das ruínas de Machu Pichu e Cuzco, no Peru, indo até a
Bolívia e ao Chile. Queria provar que era possível uma saída daquela região do
Brasil para o oceano pacífico, de carro, o que foi feito tempos depois.
Foi um dos
pioneiros nos acampamentos de pescaria do rio Araguaia. Mas era no rio do Peixe
e no ribeirão do Inferno (nas imediações de Dianópolis) que exercia o seu
esporte favorito, a pesca de mergulho, com arpão, mais adequada à personalidade
de quem sempre exigia resultados rápidos em tudo e não admitia ficar à mercê da
vontade ou dos caprichos de ninguém, muito menos de um peixe.
E nesses
momentos de paz e de estreita convivência com os amigos, ou com a família,
aflorava a figura do pai carinhoso, amoroso e dedicado; do companheiro
solidário e sempre disposto; do bom contador de casos, de notícias do país, do
mundo e de fatos históricos, produto do seu "vício" pela leitura
diária e constante de jornais, livros, revistas e até de bulas de remédio, além
da incrível capacidade de ouvir.
Citava, de
memória, enormes trechos de livros como Os Sertões, de Euclides da Cunha, Guerra
e Paz, de Tolstoi, Dom Quixote, de Cervantes, dentre outros. Era o líder
carismático e sensível, com seus gestos largos de bondade e humildade, sempre à
frente de tudo, mas se portando como se fosse o último dos últimos.
PIONEIRISMO
Era sempre o
primeiro a chegar para socorrer carros e caminhões que quebravam ou atolavam
pelas estradas precárias do antigo nordeste goiano.
Colaborou para
que o primeiro hospital da sua cidade, o São Vicente, fosse uma realidade; fez
parte da primeira Diretoria da Cooperativa local, ajudou a organizar as
primeiras creches e abrigo de velhos da cidade; trouxe o primeiro trator, o
primeiro telefone e, como já citado, os primeiros médicos do município de
Dianópolis, entre outros atos de pioneirismo e abnegação.
Muito lutou
por medidas concretas de combate à corrupção, o desvio de dinheiro e à
malversação dos recursos públicos. "Para nossa vergonha, o roubo da coisa
pública já é a forma mais segura de enriquecimento rápido e até prova de
inteligência", enfatizou em um dos seus inúmeros pronunciamentos sobre o
assunto, quando deputado. "O trabalho deixou de ser uma fonte geradora de
riquezas para se transformar em uma aventura de resultados duvidosos. Hoje,
calo nas mãos são sinais de pobreza. Calos que enriquecem são aqueles
produzidos na consciência".
Foi Hagahús
também, em toda a sua longa vida pública, um combativo defensor dos
agricultores e produtores rurais, das aposentadorias rurais, dos menores
carentes, do direito à educação e à alimentação. Através de uma ação
parlamentar eficiente, muito conseguiu para reduzir o fosso social que separava
o Goiás desenvolvido da sua parte mais pobre, carreando recursos para o que
viria a ser hoje o promissor estado do Tocantins.
Hábil
articulador político, principalmente nos bastidores, Hagahús se uniu aos seus
correligionários e amigos, então no PMDB de Goiás deputados Brito Miranda e
José Freire para, com um trabalho dedicado na Assembleia Legislativa- vencer
resistências contra a divisão de Goiás. Foram, os três, também
secretários de Estado do governador Íris Rezende, um amigo acima de interesses
político-partidários.
TOCANTINS
Na primeira
eleição para o governo do novo estado, na chapa do PMDB encabeçada por José
Freire para governador, Hagahús teve a sua candidatura lançada ao Senado.
Naquela eleição, chegou a receber o apoio carinhoso e desprendido do filho do
seu amigo Milton, o tricampeão de Fórmula I Ayrton Senna, que, na infância,
frequentava a fazenda do pai, próxima à cidade de Dianópolis. Porém, já na sua
primeira eleição para o governo do Tocantins, o governador Siqueira Campos fez
também os três senadores.
Como deputado
federal, Hagahús foi um dos parlamentares do Tocantins que mais garantiu
recursos do Orçamento da União para o novo estado, principalmente para Centros
de Assistência à Crianças, construção de escolas, obras de infraestrutura no
aeroporto de Palmas, Hospital Geral, reforma de unidades de saúde,
abastecimento de água etc.
Em 1993, foi o
recordista na apresentação e aprovação de emendas ao Orçamento que beneficiaram
o Tocantins, totalizando o maior volume de recursos destinados ao estado.
Na sua luta
por mudanças na política de trato do menor, foi um dos poucos deputados, à
época, a levantar a voz contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
comemorando como uma das maiores conquistas do país. Para o deputado
tocantinense, o ECA era "uma aberração" que levaria milhares de
menores a serem utilizados pelo crime, "pois a lei que os cobre de direitos
até os 18 anos irá metê-los na cadeia quando, adultos, repetirem os mesmos
delitos que se habituaram a praticar na adolescência e ficarem impunes".
Triste profecia do grande educador do Tocantins que, só agora, começa a ser
reconhecida por muitos educadores respeitados.
Como produtor
rural, Hagahús sempre condenou as invasões de terra, embora defendesse uma
reforma agrária responsável. Em 1991, apresentou o Projeto de Lei n° 1.917
proibindo "assentar, alienar e ceder a invasores, a qualquer título, imóveis
rurais e urbanos". Após anos de discussão, a sua proposta acabou sendo
encampada e adotada, "apenas com um palavreado difícil" como lembra o
autor pelo governo Fernando Henrique
Cardoso com a edição da Medida Provisória n° 2.027-46, de 21 de dezembro de
2000. Em um dos seus artigos, esta MP proíbe o Estado de utilizar, para fins de
reforma agrária, terra invadida, "imóvel rural objeto de esbulho
possessório ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter
coletivo....".
Com o término
do seu mandato de deputado federal, Hagahús não escondia o desapontamento com a
política, com a impunidade, com os privilégios, com os negócios escusos
envolvendo dinheiro da nação e com o roubo da coisa pública. Passou anos
cobrando uma ação conjunta dos três Poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) para combater a malversação do dinheiro público, sob pena de todos
se desmoralizarem. "Há três Poderes e nenhum é modelo de perfeição. São
independentes. Têm em comum a ineficiência, a corrupção e o Tesouro para
mantê-los", dizia.
Após anos em
cargos públicos, recebe hoje uma única aposentadoria: menos de três salários
mínimos, o resultado das contribuições feitas ao longo da vida sobre oito (8)
salários mínimos. Mas tem orgulho de, como deputado estadual por Goiás, ter
trabalhado para acabar com a aposentadoria dos deputados goianos.
A política
levou também quase todo o seu patrimônio, mas não a sua esperança de ver, um
dia, um país melhor. E, fora da política, voltou a trabalhar para também
recompor as suas finanças e recuperar parte do que perdeu, sem jamais deixar de
contribuir, com ações concretas, para o progresso e desenvolvimento da sua
região e do seu Estado do Tocantins, com vistas a um país mais justo e
fraterno.
Mais informações sobre a Vida e Obra de Hagahús Araújo os interessados poderão obter lendo o livro HAGAHUS ARAÚJO UMA LIÇÃOO DE CIDADANIA, disponível na Internet em PDF e e-book. Nesse livro, organizado pela jornalista Iara Araújo Alencar Aires, são apaixonantes os relatos feitos pelo próprio biografado sobre passagens e fatos da sua vida, reconstruindo um pouco da história e dos costumes do país, de Goiás e do Tocantins.
O QUE HAGAHÚS FEZ POR DIANÓPOLIS
CIDADÃO
Como simples cidadão e com apenas 25 anos de idade, idealizou, fundou, construiu e dirigiu por 10 anos aquela que foi considerada a melhor obra social do antigo Norte/Nordeste goiano e uma das melhores do país: o Instituto de Menores de Dianópolis. Centenas de crianças e jovens que passaram pelo Instituto são hoje homens capazes em diversos setores, como prefeitos, no comando de bancos, em altos cargos do Tribunal de Conta do Distrito Federal e da Defensoria Pública de Goiás, na direção de Cooperativas Agrícolas, diplomados com honra em universidades públicas ou privadas, bons pai de família, empreendedores ou funcionários exemplares por onde passam.
Quando na região inteira do antigo Norte/Nordeste goiano não havia transporte regular, foi a Salvador(BA) em busca do remédio que curava o impaludismo. Trouxe às costas frascos de Metoquina, para distribuição gratuita no combate à malária, o maior flagelo à saúde do povo naquela época. Tinha pouco mais de 20 anos.
Trouxe os primeiros médicos para a cidade (Dr. Manoel, Dr. Alceu e Dr. Chagas); foi dentista prático, por dois anos, apenas para atender à população carente gratuitamente, enquanto convencia o seu irmão, Dr. Wilson, a se fixar na região após formado em odontologia.
Ajudou a equipar o Hospital São Vicente e ali sempre esteve presente para colaborar, até mesmo como um dos maiores doadores de sangue do município.
Quando um surto de paralisia infantil estava matando crianças do então Norte/Nordeste goiano, a cidade de Dianópolis, por seus intermédios, foi a primeira do interior do Brasil a receber vacinas contra a poliomielite. Conseguiu na então capital do país, o Rio de Janeiro, até um avião da FAB para o transporte dessas vacinas que salvou muitas vidas na região.
Construiu o prédio que deveria abrigar um Instituto de Meninas em Dianópolis, depois Fórum da Cidade, sede do Batalhão da Polícia Militar e da Universidade do Tocantins (UNITINS).
Por semanas seguidas, pessoalmente trabalhando, locou a estrada que liga, por asfalto, Dianópolis, Novo Jardim- Sete Placas, Luiz Eduardo Magalhães, BR 020, que estava sendo desviada para outra região, deixando a cidade de Dianópolis ainda mais isolada.
Terras de sua propriedade, hoje nos Bairros Brasil e Novo Horizonte perfeitamente documentadas desde o início do século XX foram loteadas e vendidas pela prefeitura de Dianópolis sem que o proprietário ou sua família recebesse qualquer indenização ou permuta.
PREFEITO
Com a gestão de Hagahús à frente da prefeitura de Dianópolis foi inaugurada uma nova era na administração pública, com o município se destacando e se desenvolvendo em todos os setores.
Na área da educação, uma verdadeira "questão de honra" para o grande educador, foi criada a Escola Normal (formando professores para a região). A cidade/município contava apenas com um grupo escolar. Foram construídos mais três: no Instituto de Menores, o Grupo Escolar Abílio Wolney (no centro da cidade) e o Grupo Escolar do Rio da Conceição (então povoado). No município, que contava com apenas sete Escolas Rurais, foram criadas mais 18: do Santo Antônio, Abreu, Limpeza, Vazante, na Guanabara, Alto Alegre, Olho d�??Aguinha, S. Pedro, Misericórdia, Boa Sorte, Claro Grande, Malhadinha, Rio de Areia, Santa Luzia, Mombó, Missões, Usina, Chapadinha. Todas contavam com material escolar e merenda diária de qualidade. E funcionavam muito bem, com alto índice de frequência de alunos e bom rendimento.
Foi iniciada a urbanização da cidade, construídos os primeiros jardins em praças públicas, bem cuidados e podados (antes, flores ornamentais só existiam nos canteiros de alguns quintais ou plantadas em vasos), foram feitas calçadas e meios-fios, criado o serviço de coleta de lixo, conquistas antes inexistentes e inéditas naquela região.
Com o crescimento e progresso da cidade, a velha usina hidrelétrica do Manoel Alvinho teve de ser inteiramente reconstruída pela prefeitura, em outro local;
Trouxe para a cidade, depois de muita luta e viagens, as agências do Banco do Estado de Goiás e Banco da Amazônia, vindo depois o Banco do Brasil, graças às suas gestões.
Em apenas 28 dias e com recursos da prefeitura (O banco deu prazo de 90 dias), foi construído o prédio para instalar a primeira agência do Banco da Amazônia (BASA), hoje Câmara Municipal.
Construído o primeiro Fórum e adquirida casa para o Juiz.
Construídas pontes pelos sertões.
Construídas as estradas da Beira DÁgua e do Rio de Areia;
O brilhante trabalho realizado pelo prefeito na sua cidade e em toda a região com a seriedade no trato da coisa pública e a conquista de um ambiente de paz entre as famílias dianopolinas foi reconhecido pelos dianopolinos. Estes elegeram, como candidatos únicos indicados por Hagahús, os seus dois sucessores na prefeitura de Dianópolis, quando não havia reeleição: os prefeitos César Póvoa e Hercy Rodrigues, que trabalharam com Hagahús no Instituto, sendo que Hercy também havia sido o vice-prefeito de Hagahús.
DEPUTADO ESTADUAL
Eu preciso enfatizar que, como deputado estadual e federal eleito majoritariamente pela região do antigo Nordeste de Goiás Hagahús tinha o compromisso de trabalhar pelo desenvolvimento e mais investimentos em todos os municípios da sua região, o que fez de forma correta, além de defender um plano integrado de desenvolvimento para o que viria a ser o novo Estado e garantir recursos para toda a região que representava.
O movimento de divisão do estado de Goiás e posterior criação do Tocantins limitavam os investimentos do governo goiano na área desmembrada. Mesmo assim, entre outras obras para Dianópolis, Hagahús conseguiu:
Ginásio de Esportes Sólon Póvoa Filho
Energia vinda do Balsa Mineiro;
Feira Coberta do Ministério da Agricultura;
Trator e implementos agrícolas para atendimento a pequenos produtores;
Recursos para a manutenção do Instituto, Associação Servir, Associação Feminina Maçônica, creches, entre outras.
Obras de recuperação de estradas por toda a região.
Trabalho diuturno na Assembleia Legislativa de Goiás, e em reuniões no Congresso Nacional, para viabilizar a criação do novo Estado do Tocantins.
DEPUTADO FEDERAL
Com um trabalho árduo e íntegro junto à poderosa Comissão de Orçamento da Câmara, foi o parlamentar do Tocantins que trouxe para o Estado, em 1993, o maior volume de recursos orçamentários, beneficiando praticamente todo o novo Estado carente de verbas. Dianópolis, entre outros benefícios, foi contemplada:
Repasse direto à prefeitura de um valor correspondente a quase US$ 1 milhão (um milhão de dólares) para saneamento básico. Foi a maior dotação de recursos públicos já repassada ao município, em toda a sua história, por ação de um representante
Um caminhão para o Instituto de Menores;
Construção da ponte de concreto sobre o rio do Peixe, entre outros inúmeros investimentos e obras.
Assinatura de convênio com o BIRD para asfalto de estradas na região, beneficiando Dianópolis.
Equipamentos do Hospital Regional.
Poços artesianos no Gerais.
Abastecimento dágua na Sucupira.
Abastecimento dágua no Bairro Nova Cidade.
Construção da Escola na Pontinha.
Reforma e ampliação do Fórum.
Reforma e ampliação do Instituto de Menores.
Construção do Posto Fiscal da Garganta.
Ampliação da Escola Antônio Póvoa.
Reforma do Grupo Escolar São José.
Reforma do Grupo Escolar Abílio Wolney.
Ampliação da rede elétrica urbana em 200 postes.
Quarenta mil metros quadrados de asfalto em convênio com a prefeitura.
Melhoria na estrada da Garganta.
Construção de sessenta e cinco (65) casas populares na Nova Cidade.
Ponte pré-moldada no Córrego Cedro, estrada da Garganta.
Ponte pré-moldada no Córrego Buracão, estrada da Garganta.
Ponte pré-moldada no Córrego Santa Maria, estrada de Taipas.
Ponte pré-moldada no Córrego Riachão, estrada de Taipas.
Ponte pré-moldada no Córrego Taboca, estrada de Taipas.
Construção de bueiro celular na Maria dos Reis e no Córrego São Martins.
Criação de vários cursos com equivalência ao 2º Grau.
Veículos para a PM e para a Delegacia de Polícia.
Ambulância.
Veículos para a FAIS, Delegacia de Ensino e para a Regional de Saúde.
E outras conquistas.
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