Por José Mendes Pereira - (Crônica 76)
No dia 28 de julho de 2022, completaram 84 anos que o homem mais procurado do Nordeste Brasileiro, e conhecido no mundo inteiro, o pernambucano lá da Villa Bella, atualmente denominada de Serra Talhada, o Virgolino Ferreira da Silva - alcunhado “Lampião”, deixou o nosso planeta, partindo para outra esfera (suponhamos) depois de tantas crueldades praticadas por ele e seus comparsas, que viajaram juntos, num total de 11 delinquentes.
Lampião
repousava na Grota do Angico, nas terras de Porto da Folha, atualmente pertencem
à cidade de Poço Redondo, no Estado de Sergipe, e lá, ele e a sua
rainha Maria Bonita estavam protegidos pela sua malta, no seu
coito, e se sentindo seguro, enfiado em sua famosa "Central
Administrativa".
Os calendários da humanidade indicavam o dia 28 de julho de 1938, e os relógios
do mundo inteiro, marcavam mais ou menos 5:30 da madrugada desse dia,
quando ele, Maria Bonita e sua cabroeira, foram
atacados e abatidos; mais um policial de nome Adrião Pedro de Souza (total de
12 mortos na Grota do Angico), chacinados pelas volantes policiais, comandadas
pelo tenente João Bezerra da Silva, da gloriosa Polícia Militar do Estado de Alagoas.
Segundo alguns pesquisadores, naquele coito, o capitão Lampião se sentia seguro, achava muito difícil que uma suposta volante chegasse ali, e que somente eles, sabiam muito bem chegarem naquele lugar, porque, habitualmente, eram conhecedores de todos os terrenos que ofereciam difíceis acessos nas caatingas do nordeste brasileiro.
Mas o valente cangaceiro Corisco, duvidava que aquele coito tinha segurança, porque, ele chegou a dizer que ali era como uma ratoeira, caso fossem atacados, seriam pegos, só existia uma entrada, e que ela também seria a saída para que eles se livrassem de um possível ataques de policiais. E se caso as volantes descobrissem que a Grota só tinha uma saída, com certeza, todos os cangaceiros estariam ferrados.
Com exceção dos que ganhavam dinheiro do rei do cangaço, o nordeste brasileiro vibrou e bateu palmas com a sua morte, com o seu fim, porque, muitos que estavam marcados para morrerem, e outros que, mesmo não estando na lista de morrer, se livraram de passar pelas mãos vingativas do sanguinário, perverso Lampião e seus comandados.
Enquanto outros não gostaram nem um pouquinho do seu extermínio, porque viviam exclusivamente dos favores que faziam ao rei e a rainha do cangaço, como também prestavam os seus serviços à toda sua cabroeira, e a recompensa era valiosa, mesmo arriscando as suas vidas, valia muito mais prestarem serviços a um bando de feras humanas, do que ficarem do lado da polícia militar, porque, nada ganhavam, ao contrário, eram humilhados e maltratados pelas autoridade policiais, para que eles entregassem o rei Lampião, Maria Bonita e seus homens, indicando o lugar dos coitos feitos por eles na caatinga nordestina.
EM ALGUM MOMENTO NA VIDA TERIA LAMPIÃO SE ARREPENDIDO DO QUE FEZ E CONTINUAVA FAZENDO?
Eu acho que
sim. Lampião ainda continuava no cangaço, porque era constantemente perseguido
pela polícia, e ele como rancoroso, vingativo, perverso e sanguinário, não iria
se humilhar à autoridade nenhuma. Suponho eu que se as autoridades tivessem
dado-lhe uma oportunidade, perdoando o que ele tinha feito antes, muitas vidas
de sertanejos e de alguns pequenos fazendeiros teriam sido poupadas, porque, Lampião se intercalaria à sociedade, e cuidaria de construir um lá com a
sua companheira Maria Bonita.
Assim como os demais que foram cangaceiros e beneficiados com o indulto do
presidente da república Getúlio Vargas, nenhum deles voltou ao antigo passado,
e assim, o rei também mudaria de pensamentos, caso tivesse sido beneficiado.
O que passou, passou, e daquele dia em diante, Lampião gozaria de proteção, foi assim que aconteceu com os seus comandados, que mostraram que eram capazes de viverem
em sociedade.
Somente Severino Garcia Santos, o ex-cangaceiro Relâmpago, que era
funcionário da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.", do afamado Lampião,
apesar de sua idade, com 83 anos, o Relâmpago fora preso por esfaquear o agente
de trânsito do Detran "Jorge de Oliveira Ribas", de 66 anos, após uma
discussão sobre o preço de uma cabeça de peixe num bar na Praça Tiradentes. Na
época, o ex-cangaceiro se vangloriava dizendo que, quando vivia no sertão,
tivera 12 mulheres e matara mais de 20 pessoas com Lampião. (Confira esta
informação clicando no link abaixo da foto do ex-cangaceiro Relâmpago).
Não sou analista sobre nada, mas acho que Lampião, quando se deitava um pouco, em sua "Central Administrativa", sozinho no seu “eu”, muitas vezes, pensou que um dia poderia ser um homem da sociedade, e não nômade criminoso e desordeiro como era. Mas o destino foi cruel com Lampião, não lhe deu uma oportunidade na vida. E penso eu que, sempre passou no seu “EU”. E quem sabe, tenha pensado isto ou semelhante o que segue:
“Eu não sei porque a vida preparou para mim um mundo tão triste, tão cheio de decepções. Entregou-me uma agenda só com coisas ruins que eu terei que cumprir ou passar por elas. Matar os meus semelhantes, matar gado e criações de proprietários que não querem me aceitar nas suas terras, e procuram me eliminar do sertão; roubar, odiar, vingar, depredar, incendiar fazendas e cercados, só horrores terei que fazer. Mas será que eu não sou filho também de Deus?
Às vezes me ponho a imaginar as grandes crueldades que fiz com várias pessoas sertanejas, e muitas delas, estavam pagando um preço caro, e nem mereciam passar pelas minhas mãos vingativas, ou de meus comandados. Lembro como foi assassinado o Briô, na mais triste morte. O cangaceiro Vulcão. Os que eu autorizei, que os meus cangaceiros os capassem, outros que ficaram sem orelhas, mulheres ferradas, Rosinha do meu amigo da velha guarda Mariano Laurindo Granja, ordenei que a matasse na mais covarde morte. Cristina do cangaceiro Português, só pelo fato dela tê-lo traído. Foi morto também o Sabiá que estuprou uma jovem, mas este era merecedor. Lá no Rio Grande do Norte, em São Sebastião, eu assassinei um jovem maluco, só porque ele não obedeceu as minhas ordens. E assim, tudo que eu tenho feito de ruim, eu culpo a natureza, que não teve um tico de dó de mim.
Lembro que o Santo da Fazenda Mandassaia, empregado do fazendeiro Manoel do Brejinho, foi morto pelo cangaceiro Corisco, e quem causou a sua morte, fui eu. O vaqueiro guardava em sua casa uma quantia em dinheiro que o Manoel do Brejinho tinha mandado para o Corisco, cuja, solicitada pelo mesmo. Ao chegar ao meu conhecimento, fui até a sua casa e pedi que me entregasse a quantia que eu acertaria com Corisco, porque eu estava precisando daquele valor. E assim ele fez, me entregando toda quantia em dinheiro do Corisco. Mandei pedir outra quantia ao Manoel do Brejinho, que seria para devolver ao Corisco, que eu havia pego aquela primeira, e foi honrado o meu pedido por ele. Se ele fez cara feia, eu não sei, mas enviou a quantia pelo Santo, e com esta em seu poder, aguardava a chegada do Corisco para entregá-la. Mas dois policiais patenteados, tomaram conhecimento da quantia em poder do Santo. Foram alta hora da noite, e um deles se fez ser o Corisco. Pediu que trouxesse o dinheiro, mas não precisava abrir a janela, bastava entregar por uma fresta, pois tinha pressa. Dias depois, Corisco vai à casa do Santo, pegar o dinheiro. Santo não tinha mais, porque a quantia já tinha sido entregue a ele, assim pensava o pobre vaqueiro que tinha sido ludibriado pelos policiais desonestos. Corisco enlouqueceu, dizendo que ele estava querendo enrolá-lo, e findou assassinando-o, sem merecer o pobre vaqueiro Santo da Fazenda Mandassaia.
Uma das coisas que mais me irrita, é ser excluído pelos meus irmãos (de modo geral), que nunca me viram com bons olhos. Eu faço parte da mesma comunidade humana, e por que quase todos os meus irmãos me odeiam? Enquanto eles riem de mim, pelo mundo que recebi da natureza, caladamente eu choro, choro e choro muito, choro, e choro muito forte, por não ter tido a mesma sorte que tiveram todos os meus irmãos fraternos, e que fazem o bem.
Se me dessem uma oportunidade, eu abandonaria o mundo do crime e me intercalava novamente à sociedade dos homens, e iria praticar só o bem. Mas os meus crimes foram maiores do que o coração da sociedade, e ninguém me ver com bons olhos. Por onde eu ando e tento um apoio, pelo menos para o meu cansado corpo repousar e descansar um pouco, mas todos viram as costas para mim, e com medo da minha pessoa, fogem para as matas como se eu fosse o maior animal feroz do mundo. Não tenho culpa, foi a natureza que errou quando me fez, e assim, sou um dos erros do mundo.
Infelizmente, o sol não nasceu para mim. Será que eu sou filho de Deus ou do
Diabo? Perseguiram tanto os meus pais que minha mãe não suportando as pressões
dos poderosos, infartou e dias depois veio a óbito, e um mês depois, os
policiais que eram comandados pelo tenente José Lucena, invadiram a residência de José Ferreira dos Santos, o meu pai, e o assassinaram, que nada tinha
a ver com as nossas brigas. E minhas irmãs sofreram o que o diabo rejeitou.
Todo tipo de perseguição, elas foram vítimas.
Quando você quiser desejar o mal a um inimigo seu, deseja o mundo que eu herdei
da natureza, porque, não tem outro mundo pior do que o que eu ganhei".
Há 84 anos
findava a carreira criminosa de Virgolino Ferreira da Silva o Lampião, onde foi
localizado na Grota do Angico, no Estado de Sergipe e executado com mais dez
cangaceiros, pela volante comandada pelo Tenente João Bezerra da Silva, da Polícia Militar do Estado de Alagoas, no dia
28/07/1938.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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