Por Rangel Alves da Costa
Eu nem
imaginava que um dia construiria a Casa de Pedra nas proximidades, e já gostava
de passear pelas terras da histórica Fazenda Cururipe, já na posse dos
herdeiros de Seu Odon. Perante os meus passos e meu olhar, tudo ali era belo,
instigante, convidativo ao conhecimento do mundo sertanejo. Ora, no passado
pertenceu a Julião do Nascimento, pai de Zé de Julião, famoso ex-cangaceiro e
político de Poço Redondo. No Cangaço, Zé de Julião foi apelidado de Cajazeira,
e sua esposa Enedina continuando com o mesmo nome. Julião do Nascimento era um
dos mais ricos de Poço Redondo, pois além do Cururipe também era dono da
Maralina e de outras grandes propriedades. Após os anos 50 do século passado, o
Cururipe passou a pertencer a diversos donos, até ser adquirida por Seu Odon,
cujos herdeiros permanecem com parte de suas terras até os dias atuais. Mas a
velha sede não existe mais. No local da velha casa apenas escombros, um monte
de restos de telhas, madeira carcomida e retorcida e punhados de barro
esfarelando. Logo abaixo dos escombros, de repente surge um velho candeeiro, um
pedaço de foice ou facão, uma desgastada tira de um chicote. Quando ainda
estava em pé, mesmo já se dobrando pelo peso dos anos, muitas vezes adentrei suas
portas (sempre acompanhado por um dos filhos) atrás de relíquias e velharias. E
muito consegui. Hoje, quem passa pela estradinha do Cururipe e avista outra
velha casa na vizinhança da outra, logo imagina ser a mesma. Mas não é. Esta
casa pertence a Zé Wilson, filho de Seu Odon, que mantém o local como relíquia
familiar e para guardar mantimentos para o cuidado do gado, pois tem um curral
bem ao lado. Esta casa também está tão velha que mais parece da mesma idade da
outra já desabada. O segredo para que ainda se mantenha de pé me foi revelado
pelo próprio Zé Wilson: “Aquela outra casa velha só foi desabando porque quase
ninguém mais entrava lá dentro. E casa velha quando se sente abandonada, é como
se fosse entristecendo, esmorecendo, e perdendo suas forças de vez, até
desabar. E o mesmo vai acontecer com essa aí. No dia que eu fechar suas portas
ou aparecer apenas de vez em quando, não demora muito e ela vai cair. Por isso
que mesmo estando assim velhinha, todo dia sua porta é aberta e vai entrando e
saindo gente. Parece que a casa sente. Parece que depende disso para continuar
em pé”. Achei interessantíssima tal explicação. E ele tem plena razão: “Parece
que a casa sente”. Sente mesmo! Na foto abaixo, eu na velha e já desabada casa
do Cururipe.
https://www.facebook.com/photo/?fbid=7404525696233845&set=a.476409229045561
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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