Por Jaozin Jaaozinn
𝑫𝒆𝒅𝒊𝒄𝒐 𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒕𝒆𝒙𝒕𝒐 𝒂𝒐 𝒂𝒎𝒊𝒈𝒐 𝒆 𝑷𝒓𝒐𝒇𝒆𝒔𝒔𝒐𝒓 𝑹𝒖𝒃𝒆𝒏𝒔 𝑨𝒏𝒕𝒐𝒏𝒊𝒐 𝒅𝒂 𝑺𝒊𝒍𝒗𝒂 𝑭𝒊𝒍𝒉𝒐.
Quando se fala em traições no cangaço, aquelas de amor, lembram-se sempre do caso de Lídia, a amada de Zé Baiano, com Bem-te-Vi, cabra de Corisco, ocasionando a morte desta pelas mãos de seu companheiro. Entretanto, nas rodas de conversa sobre tal assunto, poucos irão relembrar de outro polêmico, porém, não muito compartilhado: as fugas ou os "fogos" de Maria Jovina (ou Maria de Jovino), amásia de Pancada.
Maria Adelaide de Jesus, a Maria Jovina — conhecida assim por ser filha de Jovino —, era natural da região de Santana do Ipanema/AL, sendo filha de lavradores. Por se trombarem no meio das paragens dos bandos na fazenda em que morava (a Pedra D'água) ou então por já terem uma relação "duradoura" (entrevistado pelo jornal A Noite/RJ, fala que namorava Maria desde 1933), em 1935, com seus 14/15 anos, é pega por Francelino José de Souza (conhecido antes das armas como Lino de Zezé), o Pancada — da região de Mambebé, povoado de Paulo Afonso/BA. A princípio, segundo ela, não queria e nem gostava de acompanhar Pancada, tampouco viver, ou melhor, sobreviver nas guerras de volantes, secas e violências que sofrera na mão do seu homem. Seguia-o por causa das ameaças que recebia e por não conseguir brecha para fugir. Começou "afeiçoar-se" a ele após se entregar para a polícia. No bando ficou conhecida por ser comunicativa, uma ótima "enroladora" de cigarros — sendo ela a última que enrolou para Gato, último pedido antes de morrer — e pelo alto libido que tinha. Ou seja, traía costumeiramente o seu marido com outros homens.
Dois deles foram Balão e Azulão.
O primeiro, baseado nas entrevistas que deu, foi mandado pelo próprio Lino acompanhar sua mulher até um exato ponto, que continha objetos pessoais de Maria. Na caminhada no meio da caatinga, Adelaide se joga nos braços de Guilherme, pedindo para que provasse que era homem e valente como diziam. E lá fizeram o ato. Após a cangaceira pegar os pertences escondidos na mata, fazem novamente, e uma última vez antes de chegarem no acampamento.
Nas contas de Balão, consumou a jovem quatro vezes em um só dia. Pancada nada suspeitou, ou então fingiu que não suspeitava.
(Mas um fato desse relatado e apoiado somente por ele, afamado por inventar ou temperar demais as histórias em seus depoimentos, fica difícil de acreditar. Contudo, ficou-se registrado nas linhas do tema o caso deste com Maria Jovina.)
O segundo — apoiado pela memória e depoimento do ex-bandoleiro Moreno — era do grupo do Diabo Louro. O episódio possivelmente ocorreu no final do mês de junho para julho de 1938. Maria foi pega no flagra por um cangaceiro, no qual a delatou para Corisco. O chefe, enlouquecido e andando pra lá e pra cá, esperava a volta de Pancada que tinha saído com outros para buscar munição. Cristino queria seguir as Regras do Cangaço, onde nela recriminava severamente a traição, punindo aqueles que estavam envolvidos; a moda 𝘩𝘢𝘭𝘢𝘩 𝘓𝘪́𝘥𝘪𝘢. Alguns eram contra e outros a favor. A filha de Jovino se via numa enrascada, ora, nenhuma foi poupada quando entregue, nenhuma foi diferente aos olhos dos "juízes encourados"... Porém, no meio de todos, um se compadeceu e advogou a favor de sua vida: Antônio Ignácio da Silva, o Moreno.
Antes de se tornar cangaceiro, trabalhava na fazenda do pai da cangaceira cuidando do gado e da plantação. Lá formou-se uma grande amizade entre eles. Agora, no mundo de flores e armas, mostrou a bondade que ainda tinha no seu coração e resolveu defender sua colega e Azulão. Nos diálogos que tivera com o Diabo Louro, afirmava que “pela correria das perseguições e do tanto de coiteiros delatores que existiam, não precisaria mais de se preocupar em mandar embora a mulher. Enquanto ao cabra, se matar agora, ficará só. Só tem ele contigo; se tu levar um tiro, quem irá te acudir? Então te peço que não mate Maria e Azulão”. Cristino ainda não concordou, mas depois de tanta discussão — quase o caso de ambos apontarem o fuzil um pro outro —, aceita o pedido e ainda deixa Moreno decidir o que fazer com ela.
Antônio incorpora a cangaceira em seu grupo e leva-a para as terras de sua família. Já Pancada certamente soube do ocorrido após chegar da viagem. Tomou outro rumo.
De todas as delatadas, Maria Jovina conseguiu sobreviver; seu marido não a matou ou então pagou para matar. Mas não escapou das possíveis surras que levou quando seu marido a buscou novamente. Na entrega do subgrupo de Lino, em outubro de 1938, estão um ao lado do outro, fotografados como marido e mulher, e ainda grávida do mesmo.
O caso de Maria é curioso, uma exceção talvez inédita na história cangaceira e uma epítome perfeita de que, mesmo em períodos de guerra, ainda há esperança e compaixão em certos homens.
𝐹𝑂𝑁𝑇𝐸𝑆: 𝑀𝑜𝑟𝑒𝑛𝑜 𝑒 𝐷𝑢𝑟𝑣𝑖𝑛𝒉𝑎 — 𝐽𝑜𝑎̃𝑜 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑢𝑧𝑎 𝐿𝑖𝑚𝑎; 𝐵𝑙𝑜𝑔 𝑑𝑜 𝑀𝑒𝑛𝑑𝑒𝑠 — 𝑡𝑒𝑥𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝐽𝑜𝑠𝑒́ 𝑀𝑒𝑛𝑑𝑒𝑠 𝑃𝑒𝑟𝑒𝑖𝑟𝑎; 𝐵𝑙𝑜𝑔 𝐿𝑎𝑚𝑝𝑖𝑎̃𝑜 𝐴𝑐𝑒𝑠𝑜 — 𝑡𝑒𝑥𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑟𝑖𝑎𝑛𝑎 𝑃𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎; 𝑗𝑜𝑟𝑛𝑎𝑙 𝐴 𝑁𝑜𝑖𝑡𝑒/𝑅𝐽 - 𝟏𝟗𝟑𝟖; 𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝐹𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜́𝑟𝑖𝑎: 𝐶𝑎𝑛𝑔𝑎𝑐̧𝑜 𝑒 𝑁𝑜𝑟𝑑𝑒𝑠𝑡𝑒 — 𝑌𝑜𝑢𝑡𝑢𝑏𝑒; 𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝐴𝑑𝑒𝑟𝑏𝑎𝑙 𝑁𝑜𝑔𝑢𝑒𝑖𝑟𝑎: 𝐶𝑎𝑛𝑔𝑎𝑐̧𝑜 — 𝑌𝑜𝑢𝑡𝑢𝑏𝑒.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste
http://blogdomendesemendesa.blogspot.com

Nenhum comentário:
Postar um comentário