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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Tributo a uma Abolicionista

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Consta na Galeria dos Abolicionistas de Mossoró o nome de uma mulher, que a pesar de ter participado ativamente do movimento, nunca é lembrada nas comemorações oficiais de 30 de setembro.
Trata-se de D. Amélia Dantas de Souza Melo Galvão, esposa do grande abolicionista Romualdo Lopes Galvão. Era uma mulher ativa, inteligente e caridosa que, entre outras coisas, foi quem idealizou e bordou a mão o Estandarte da Libertadora Mossoroense, uma relíquia que se encontra no Museu Municipal de Mossoró.
A idéia de libertação dos escravos veio do Ceará, trazido pelo casal Romualdo Lopes e D. Amélia Dantas. Quando o casal chegou à Mossoró, em 1882, foi recebido festivamente pelos seus amigos e companheiros da Loja Maçônica “24 de junho”. Romualdo trazia uma mensagem da maçonaria de Fortaleza para a Maçonaria de Mossoró, que era a de concitar, sem perda de tempo, seus amigos e parentes para levar a efeito a grande batalha cívica em favor da raça negra. E foi o próprio Romualdo que promoveu a fundação da “Libertadora Mossoroense”, entidade criada para esse fim.
Na noite de 24 de dezembro de 1882, véspera de natal, há uma sessão solene na Maçonaria destinada a alforriar as escravas Herculana, pertencente à viúva Irinel Soter Caio Wanderley e Luzia, da firma Cavalcanti & Irmãos. No momento em que alforriavam estas escravas, D. Amélia Dantas, num rasgo de entusiasmo, se ergue da cadeira e beija chorando as escravas libertas. Despertava, nesse momento, para a imortalidade.
Amélia Dantas, ou D. Sinhá, como era chamada na intimidade, era filha do também abolicionista e poeta José Damião de Souza Melo, português radicado em Mossoró. Professava a religião presbiteriana, apesar de seu pai ter sido padre em Portugal. Nunca se soube o motivo da mudança de religião. Sabe-se apenas que um dia ele tirou a batina, queimou-a e veio para o Brasil, surgindo como comerciante em Mossoró.
Segundo depoimentos do Major Romão Filgueira, “D. Sinhá era uma mulher dotada de raros predicados morais e culturais, belo espírito de comunicação e de idéias elevadas”. Tomou parte em todas as comissões importantes da Libertadora. Apaixonada pelo movimento, “convida suas amigas, entre elas as das famílias Soares do Couto, Dr. Paulo Leitão e outras, para saírem às casas dos senhores possuidores de escravos, concitando-os a alforriarem seus cativos, chegando ao ponto de quando não podiam receber adesões para o movimento, em virtude da escravidão ser garantida por lei, de se ajoelharem, beijando os pés dos potentados, indiferente aos sofrimentos dos prisioneiros das senzalas, rogando a liberdade imediata dos escravos que possuíam”.
Pagou um preço alto por sua luta em prol da libertação dos escravos. Esgotada pelo cansaço adoeceu, contraindo uma tuberculose e dela não conseguiu se curar: morreu a 14 de novembro de 1890, estando sepultada em túmulo próprio no Cemitério Público de Mossoró.
No dia 30 de setembro de 1904, durante os festejos alusivos a Libertação do Escravos de Mossoró, festa esta comemorada até os dias atuais, foi inaugurada na Praça da Redenção, um monumento representando a Estátua da Liberdade, iluminando o mundo com um facho erguido à mão direita, tendo pendente da esquerda uma lousa com a inscrição – 1883. A estátua, que tem dois metros de altura, está de pé sobre uma base de cinco metros e meio, tendo esta, no centro, a inscrição – 30 de setembro de 1883. É um lindo monumento que se conserva inalterado ao longo dos tempos. No pedestal da estátua, bem que merecia outra placa onde se pudesse escrever no bronze: “ Este monumento foi inspirado na estrela cintilante do movimento abolicionista de Mossoró, Amélia Dantas de Souza Melo Galvão, D. Sinhá, heroína e deusa da liberdade”.
Geraldo Maia do Nascimento
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