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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A HISTÓRIA DA FORTALEZA DE TAMANDARÉ E O SEU ABANDONO

Autor e fotos: Rostand Medeiros

Quando você está viajando pelas belas praias do nosso Nordeste é sempre uma grande satisfação e alegria. Mas quando buscamos este destino para curtir férias nada pode ser mais chato do que um dia completamente nublado.

Área lateral da fortaleza
Área lateral da fortaleza

Mas estes dias também são interessantes para buscarmos outras alternativas e aí podemos encontrar interessantes locais históricos para visitarmos no belo litoral de nossa região. Em relação a isso nada melhor do que se encontrar no litoral de Pernambuco.

Entrada principal
Entrada principal com várias indicações de datas, que não correspondem a sua inauguração

Enfim Pernambuco assistiu muito movimento no período colonial da história do nosso país. Ali, durante os quase vinte e quatro anos de permanência dos holandeses (1630-1654) o que não faltou foram acontecimentos que marcaram a nossa história.  Como lembrança silenciosa destes tempos tumultuados está o Forte de Santo Inácio de Tamandaré, Um dos mais importantes marcos da história de Pernambuco, fica localizado no município de Tamandaré, ao sul de Recife.

Outra vista da área da entrada
Outra vista da área da entrada

O local é também conhecido como Fortaleza da Barra Grande ou Forte de Tamandaré, no final do século XVII pelo engenheiro Francisco Correia Pinto e junto com outro baluarte de defesa denominado Forte da Santa Cruz protegiam a enseada de Tamandaré, área considerada um dos melhores pontos de ancoragem da costa pernambucana, não muito distante de produtivas usinas de moagem de cana de açúcar. Destes locais eram produzidas toneladas do lucrativo açúcar mascavo, o mais importante e rentável produto brasileiro na época e alvo da ambição de holandeses e portugueses. Esta enseada, considerada melhor que a área de ancoragem do cabo de santo Agostinho, era capaz de abrigar várias embarcações com calado de até dezoito pés.

O pátio do forte, com vista para o farol construído em 1902.
O pátio do forte, com vista para o farol construído em 1902.

A fortaleza possui um formato quadrangular, com baluartes e apresentando antigas peças de artilharia, que mostram a sua periculosidade para as embarcações a vela do passado. Os locais onde se encontram os canhões são ligados ao pátio principal por pequenas ladeiras existentes em três lados da estrutura e pelo pavimento superior frontal.

A entrada do forte ainda mostra-se uma construção maciça e imponente, onde o visitante vislumbra, após passar o portão, as seteiras da passagem de entrada, por onde os defensores deveriam abrir flechar, ou abrir fogo, contra os invasores. Consta que antes do portão havia uma ponte móvel, mas tanto esta estrutura, quanto o fosso não mais existem.

Salvador Correia de Sá e Benevide
Salvador Correia de Sá e Benevide

Na época da invasão holandesa a Pernambuco, a enseada de Tamandaré recebeu o desembarque das forças de Salvador Correia de Sá e Benevides, que prestou alto serviço à insurreição dos pernambucanos contra os holandeses ao escoltar até o porto de Tamandaré oito navios provenientes da Bahia, trazendo ao Mestre de Campo João Fernandes Vieira um reforço de 800 homens, comandados por gente como André Vidal de Negreiros e Martins Soares Moreno, cujas ações contribuíram para a expulsão definitiva dos holandeses.

Por sua vez os Batavos não ficaram olhando as ações dos seus inimigos na área de Tamandaré sem fazer nada. Em 9 de setembro de 1645, o almirante a serviço da Companhia Holandesa da Índias Ocidentais,  Jan Cornelisz Lichthart, na verdade um calejado corsário, atacou na enseada a armada do Capitão-mor de Mar Jerônimo Serrão de Paiva, em um combate que entraria para a história como Batalha da baía de Tamandaré. Consta que a derrota da armada de Jerônimo Serrão poderia ter sido evitada se a frota de Salvador Correia de Sá e Benevides interviesse em seu auxilio. Mas este brioso militar preferiu rumar diretamente para Lisboa, com receio de perder uma valiosa carga de açúcar. E como guerras não são ganhas sem haver grana para financiar as tropas, certamente a ação de Benevides não foi contestada.

Navios de guerra holandeses
Navios de guerra holandeses

Já Lichthart não perdeu a viagem e de lambuja ainda conquistou a fortaleza. Consta que este corsário holandês sabia falar corretamente a nossa língua por ter vivido em Lisboa antes da guerra e teve um papel importante na luta pela posse do Brasil. Em relação a fortificação os holandeses realizaram reparos e a ampliaram, mas esta informação não é totalmente aceita pelos historiadores.

O que sabe ao certo é que após a derrota Batava o local ficou abandonado e foi reconstruído em 1677 pelo mesmo João Fernandes Vieira, agora no cargo de Superintendente das Obras de Fortificação da Capitania de Pernambuco. O trabalho de recuperação recebeu apoio dos empreendedores e moradores da região, que temiam futuras investidas de europeus sedentos de ambição pelas nossa doces riquezas tropicais. Houve farta colaboração no fornecimento de materiais de construção, mão-de-obra, carros de bois para transporte de materiais e animais.

A capela da fortaleza
 A capela da fortaleza

Outros trabalhos de recuperação foram realizados em 1683 e só teve sua conclusão efetivada em 1691, o que mostra que esta história de atraso de obras públicas no Brasil não é nova. Já a capela do forte só foi construída em 1780, sob a invocação de Santo Inácio.

Segundo Carlos Miguez Garrido, em obra publicada em separata ao Volume III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil, do Ministério da Marinha, Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940, a estrutura do Forte de Santo Inácio de Tamandaré foi reconstruída em 1808 e sofreu novos reparos em 1822.

Artilharia existente
Artilharia existente

Consta na obra que nesta fortaleza, para o seu lado voltado para a atual cidade de Tamandaré, erguia-se dois pavimentos da edificação contendo as dependências de serviço. Estas seriam o Corpo da Guarda, Calabouço, Casa da Palamenta, Casa da Pólvora, Quartel da Tropa, Cozinha, Casa do Comando. O local ficava guarnecido por um sargento-mór (patente equivalente atualmente a de major), um tenente, um capitão, um sargento, um condestável (chefe dos artilheiros), um almoxarife, e um destacamento de infantaria compreendendo um alferes, um sargento, um tambor, 40 soldados fuzileiros. A fortaleza era guarnecida por  vinte e oito peças de artilharia, sendo vinte e quatro de ferro e quatro de bronze, de diferentes calibres (GARRIDO, 1940 -pág. 75).

As silenciosas e abandonadas peças de artilharia desta fortaleza
As silenciosas e abandonadas peças de artilharia desta fortaleza

Entre 1859 e 1860 o imperador Dom Pedro II pernoitou nas suas dependências no dia 13 de dezembro de 1859. O almirante Joaquim Marques Lisboa, que conduzia o imperador, a imperatriz e a comitiva na fragata a vapor Amazonas, pediu permissão ao imperador para realizar uma pequena parada no porto de Tamandaré, para que ele pudesse recolher os restos mortais do seu irmão, Manoel Marques Lisboa, revolucionário que participou da malfadada Confederação do Equador, a fim de serem conduzidos ao jazigo de sua família no Rio de Janeiro. Observam os biógrafos que, embora o irmão do almirante fosse um inimigo declarado do Império, o Imperador concedeu-lhe a permissão pedida, e ainda a de que disparasse uma salva de artilharia da fragata em homenagem aquele combatente. Meses mais tarde, o imperador demonstrou novamente o seu reconhecimento ao almirante pelos relevantes serviços prestados à nação, concedendo-lhe o título de “barão de Tamandaré”.

Tal como na Fortaleza dos Reis Magos em Natal, no Forte de Tamandaré foi construído um farol de sinalização em 1902. Durante a Segunda Guerra Mundial o local abrigou uma  guarnição de militares brasileiros que, além da manutenção e guarda do farol, utilizavam o local como ponto de observação e controle daquele setor da costa pernambucana.

Outra vista do pátio interno
Outra vista do pátio interno

Como podemos ver pelas fotos deste sofrível fotografo, o local é de indiscutível beleza e forte relevância histórica, mas me dói o coração vê-lo neste estado de abandono. É triste que um local histórico tão bonito e interessante, plantado em uma área tão próximo a locais de forte frequência turística, se mantenha em um estado lastimável como esse.

O abandono do local
O abandono do local

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Extraído do blog do historiógrafo e pesquisador do cangaço: 
Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com



















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